Agosto Lilás: chega de normalizar a violência. especialmente aquela que mata quem quer ser livre
O Agosto Lilás é voltado à conscientização sobre a violência contra a mulher, em alusão à Lei Maria da Penha
• Atualizado
Agosto é o mês do Agosto Lilás, voltado à conscientização sobre a violência contra a mulher, em alusão à Lei Maria da Penha, sancionada em agosto de 2006. E é sobre isso que venho falar hoje: sobre o absurdo que é viver em um país (e um mundo) onde mulheres ainda morrem por simplesmente querer viver como escolheram viver.
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Durante a pandemia da Covid-19, a violência contra mulheres cresceu de forma preocupante. Foi naquele contexto que o Grupo SCC lançou a campanha Por Elas – Você pode, nós podemos, com o objetivo de promover o empoderamento das mulheres como forma de enfrentamento à todos os tipos de violência.
Acreditamos que, com informação, visibilidade e coragem, estaríamos ajudando a mudar a realidade.
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Mas, olhando para os números de 2025, o que vemos é o contrário: mulheres seguem morrendo por exercerem sua liberdade. Liberdade de ser, de vestir, de escolher, de sair de um relacionamento, de estudar, de trabalhar.
No Brasil, 1.492 feminicídios foram registrados em 2024 — o maior número desde a criação da Lei Maria da Penha.
Isso significa, em média, que quatro mulheres foram mortas por dia por serem mulheres. E os dados de 2025 já apontam para um cenário igualmente grave: até junho, mais de 600 mulheres já foram assassinadas em contextos de feminicídio.
O perfil das vítimas segue o mesmo: a maioria é negra (63,6%), tem entre 18 e 44 anos, e foi morta dentro de casa (64,3%) — um ambiente que deveria oferecer proteção.
Em 2024, também tivemos 87.545 casos de estupro registrados, com uma vítima a cada seis minutos, sendo 65% dessas agressões dentro de casa. Mais da metade das vítimas também eram mulheres negras. Ou seja: a violência tem gênero, cor, idade e endereço.
No Rio Grande do Sul, o mês de abril foi especialmente trágico. Seis mulheres foram assassinadas em um único dia, na Sexta-Feira Santa (18 de abril). Em todos os casos, o motivo foi o mesmo: mulheres que tentaram afirmar sua autonomia. Uma delas foi morta na frente dos filhos.
Outro caso que chocou o Brasil ocorreu há poucos dias, no Rio Grande do Norte. Juliana Garcia dos Santos, uma mulher jovem, foi agredida com 61 socos dentro de um elevador por um ex-namorado, ex-jogador de basquete.
As imagens correram o país. Juliana sobreviveu, passou por cirurgia e segue se recuperando. Mas a brutalidade da cena escancara o que muitas vivem em silêncio: um controle que não admite que a mulher decida sair de uma relação. Os socos no rosto representam exatamente isso — a
tentativa de anular quem ela é. Juliana sobreviveu. Mas muitas não têm essa chance.
Enquanto o cenário nacional mostra crescimento da violência, Santa Catarina registrou uma redução de 30,3% nos feminicídios no primeiro semestre de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024. Foram 23 casos nos seis primeiros meses do ano.
É o segundo menor índice desde o início da série histórica. Também houve queda de 3,6% nos crimes contra mulheres. Mas a sensação de alívio durou pouco: só na última semana, seis mulheres foram assassinadas no estado. Seis. Em sete dias.
É impossível não se perguntar: quantas campanhas, leis e programas ainda serão necessários para que a liberdade das mulheres seja respeitada? Liberdade de trabalhar, estudar, se separar, se mudar, vestir o que quiser — isso tudo tem custado vidas.
E não estamos falando de exceções. Estamos falando de milhares de mulheres que morrem ou sofrem violência todos os dias por tomarem decisões sobre a própria vida.
Décadas após a criação da Lei Maria da Penha, ainda é comum ver agressões seguidas de frases como “não aceitei o fim do relacionamento” ou “ela me provocou”.
A violência contra a mulher não é sobre amor ou ciúmes. É sobre controle, poder, posse. E é justamente isso que precisamos combater: a ideia de que mulher é propriedade, que não pode decidir por si mesma.
Campanhas como a Por Elas, do Grupo SCC, são fundamentais — e fazem diferença. Mas não bastam sozinhas. Precisamos de mais educação, mais diálogo, mais acolhimento.
Precisamos de escolas que discutam as questões de gênero com meninos e meninas, de empresas que capacitem seus times e seus lideres, de homens que se responsabilizem por suas atitudes, de meninas que cresçam sabendo que têm direito à liberdade.
Releia minhas colunas sobre os tipos de violência contra as mulheres:
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Existem bons exemplos como iniciativas como a Sala Lilás, as Casas da Mulher Brasileira e o fortalecimento das medidas protetivas.
Mas é preciso ir além. Educar nossos meninos e homens é tão importante quanto proteger nossas meninas e mulheres. É sobre cultura. É sobre valores. É sobre dignidade.
É triste e revoltante que, depois de tantas leis, tantas campanhas e tanta luta, ainda tenhamos que repetir: mulheres não podem continuar morrendo por quererem ser livres.
Que o Agosto Lilás de 2025 nos provoque, nos mobilize e nos una. Que cada morte, cada caso de violência, gere indignação e principalmente ação. Porque no fim das contas, liberdade não é privilégio. É um direito.
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