Fator Guedes: ministro cumpre aquilo que fala
Políticas econômicas do czar econômico de Bolsonaro fazem com que o Brasil consiga superar a conjuntura internacional desafiadora
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Na noite de 28 de outubro de 2018, a agenda econômica do Ministro Paulo Guedes parecia ser autoevidente. O bem-sucedido financista, doutor na Universidade de Chicago — a mais bem renomada escola do pensamento econômico liberal —, teria a missão de liberalizar a economia brasileira e livrá-la das décadas de estagnação econômica e políticas estatizantes. Certamente, a missão não seria fácil. Realizar reformas econômicas sem uma maioria consolidada no Congresso Nacional seria uma missão difícil. No entanto, o espírito de renovação política que ecoava nos quatro cantos do país parecia indicar que o Brasil teria o primeiro governo efetivamente liberal desde a dupla Octávio Gouvêa de Bulhões e Roberto Campos, os quais comandaram os Ministérios da Fazenda e Planejamento, respectivamente, durante o governo Castello Branco.
De fato, no primeiro ano de governo, a promessa foi cumprida. Leis e reformas importantes foram aprovadas, tais como: Reforma da Previdência, MP da Liberdade Econômica, privatizações, abertura do mercado de gás, autonomia do Banco Central, redução de impostos, além de reformas infralegais de modernização do Estado. O Brasil estava passando a criar os alicerces para crescer. A contenção do gasto público possibilitava a queda das taxas de juros. A melhora do ambiente de negócios, associado ao amplo programa de privatizações e concessões, começava a atrair investimentos para o país. Em suma, as perspectivas para 2020 eram as melhores possíveis.
No entanto, assim como bem descrito pelo matemático libanês, Nassim Nicholas Taleb, os cisnes negros, ou seja, os eventos imponderáveis tendem a determinar o curso da história. Foi com a chegada de um vírus misterioso e altamente infecioso que o governo liberal precisou gerir uma economia de guerra. E é justamente na guerra que o liberalismo perde o espaço para o intervencionismo estatal. Constatada a crise econômica, social e sanitária que a Covid-19 impôs ao Brasil, o Governo Federal precisou injetar cerca de R$700 bilhões na economia para evitar o colapso do país. Uma política fiscal agressiva como essa não é um problema em si. O grande dilema era expandir o gasto público, com uma situação fiscal ruim antes mesmo da pandemia. Naquele momento, as expectativas eram as piores possíveis. O real apresentou forte depreciação, capitais começaram a fugir do Brasil, o nível de endividamento do setor público disparou e a recessão era inevitável. Parecia que o país caminharia para bancarrota.
A situação era complicada. Aliás, diversas instituições financeiras e organismos internacionais faziam previsões assombrosas para o país. O Fundo Monetário Internacional (FMI), por exemplo, previa uma queda de 9,1% do PIB brasileiro em 2020. A relação dívida-PIB, segundo o Fundo, deveria superar 100%. Felizmente, essas projeções catastróficas se provaram erradas. Entretanto, os erros de previsões econômicas acerca da economia brasileira tornaram-se uma constante nos últimos dois anos. Os modelos econômicos sempre apontaram cenários econômicos demasiadamente pessimistas. A questão que fica é: por que tantos erros?
A explicação para os erros das previsões econômicas é relativamente complicada. Basicamente, o prêmio Nobel de economia, Robert Lucas Jr., explica que o problema dos modelos de previsão econômica é que eles se baseiam nos dados do passado. Contudo, quando as expectativas dos agentes econômicos mudam, os modelos econométricos tornam-se inúteis. Na minha visão, a principal razão para explicar o desempenho econômica brasileiro superior às estimativas econômicas é o fator Guedes. Afinal de contas, a confiança na economia só tem êxito quando um país possui uma política econômica crível, que estimula empresários e consumidores a investirem e consumirem mais.
Guedes conseguiu cumprir esse desafio, pois o Ministro cumpre aquilo que fala. Durante as crises que enfrentamos nos últimos anos, como a pandemia e o choque dos preços de energia e alimentos decorrentes da guerra entre a Rússia e Ucrânia, Guedes conseguiu demonstrar que as medidas emergências não iriam prejudicar os planos de médio e longo prazo do governo: reformas pró-mercado e consolidação fiscal. Muitos diziam, por exemplo, que a revisão do Teto de Gastos seria desastrosa. Seria o “fim da âncora fiscal”, assim, desorganizando a economia brasileira. No entanto, o Brasil vem registrando nos últimos meses elevados níveis de superávits fiscais. Outros “especialistas” diziam que o governo não era liberal. Contudo, os programas de privatizações e concessões avançaram. Reformas administrativas silenciosas e a digitalização de serviços públicos estão possibilitando a redução do número de servidores, enquanto se melhora a eficiência burocrática. Em última instância, é a credibilidade das políticas públicas que permitem o país a superar constantemente as previsões de crescimento econômico e emprego.
Inclusive, nessa coluna, apontei diversos desafios que o Ministro enfrentaria. Em janeiro desse ano escrevi dois artigos mencionando a conjuntura econômica internacional desfavorável, que já se apresentava antes mesmo da Guerra entre a Rússia e Ucrânia. O aumento dos juros nos Estados Unidos, o aumento da inflação mundial, os elevados níveis de endividamento de governos, empresas e indivíduos, indicavam um cenário econômico turbulento. Esses eram os “meteoros” que estavam prestes a atingir a economia brasileira. Felizmente, Guedes conseguiu repelir grande parte desses meteoros.
Indubitavelmente, o Brasil terá muitos desafios econômicos pela frente. O país precisa reduzir as taxas de inflação, reduzir ainda mais o nível de emprego, criar as condições para o aumento de renda da população, continuar reduzindo a dívida pública e aprovando reformas pró-mercado. Guedes terá missões hercúleas pela frente. Entretanto, o fator Guedes continuará sendo necessário para superarmos os desafios econômicos que se aproximam do Brasil. Sua credibilidade será determinante para manter a confiança da população e investidores na economia brasileira.
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