Violência psicológica: advogadas da outra vítima de Jair Júnior falam sobre investigação

O caso do vice-prefeito Jair Júnior, que foi preso sob suspeita de violência doméstica e cárcere privado contra uma ex-namorada e está respondendo o processo em liberdade, ganha novos contornos com a denúncia de outra ex-companheira. As advogadas Natália Ferreira e Tatiane Sá, que representam esta segunda vítima, concederam entrevista à Rádio Clube de Lages, detalhando o andamento da investigação e os motivos que levaram à denúncia tardia.

Segundo as advogadas, a cliente procurou o escritório logo após a prisão de Jair Júnior, registrando um boletim de ocorrência no dia seguinte. A vítima, que também se relaciona como ex-namorada do vice-prefeito, relatou ter sofrido violência doméstica durante o relacionamento que ocorreu entre 2022 e 2023.

“Assim que houve a prisão do vice-prefeito, essa nossa cliente, que também está no lugar de vítima nesse momento, nos procurou, registrou um boletim de ocorrência no dia seguinte e na segunda-feira esteve no escritório, onde realizamos todo o apoio jurídico e o apoio emocional também, devido à vivência dela, à experiência traumática que ela teve”, explicou a Dra. Natália Ferreira.

Ainda de acordo com a advogada, a vítima já foi ouvida na Delegacia da Mulher, e o material probatório, incluindo qualificação de testemunhas, foi encaminhado às autoridades. Atualmente, um inquérito policial está em andamento para apurar os crimes denunciados. Ao final da investigação, um relatório será enviado ao Ministério Público, que decidirá se oferecerá ou não a denúncia contra Jair Júnior, onde a cliente figurará como vítima.

Motivos da denúncia

Questionada sobre a natureza da violência sofrida, a Dra. Natália Ferreira ressaltou que, devido ao segredo de justiça imposto pela Lei Maria da Penha, detalhes específicos não podem ser divulgados. No entanto, ela esclareceu que, diferentemente do primeiro caso, a denúncia desta segunda vítima se refere a agressões psicológicas, perseguições e outros fatos ocorridos durante e após o término do relacionamento.

A Dra. Tatiane Sá abordou o motivo da denúncia ter sido realizada somente agora, quase dois anos após os fatos. Segundo ela, a vítima sentia receio do julgamento social e da dificuldade de denunciar sozinha uma figura pública com forte apoio popular na época.

“Ela nunca conseguiu fazer essa denúncia em razão do receio do julgamento com a sociedade realmente. Até porque ela estaria sozinha realizando uma denúncia contra uma pessoa pública, de grande renome e visibilidade política”, afirmou a Dra. Tatiane.

A prisão de Jair Júnior e a repercussão do primeiro caso deram à vítima a coragem necessária para buscar a justiça. “Com o acontecimento que vem à tona agora em decorrência do último relacionamento dele, a nossa cliente acabou se sentindo mais encorajada a denunciar também. Até porque agora ela não estaria mais só. E sim, ela teria um respaldo maior na situação relatada pela outra vítima. Até porque os relatos, eles são bem semelhantes”, complementou Tatiane.

Tatiane também revelou que a cliente precisou de acompanhamento psicológico por cerca de um ano após os eventos de 2023, devido à dificuldade em se relacionar e conversar sobre o ocorrido.

As advogadas explicaram que os dois casos tramitam separadamente, com vítimas e processos diferentes. O primeiro caso já se encontra em fase judicial, enquanto a denúncia da segunda vítima ainda está em fase de investigação policial. No entanto, elas não descartam a possibilidade de os processos se correlacionarem em algum momento, existe a chance de que as vítimas sejam chamadas para testemunhar uma no caso da outra, e que provas de um processo sejam usadas no outro, auxiliando nas investigações.

Entenda o caso

Mais uma ex-namorada denuncia Jair Júnior por ameaça e perseguição

A Rádio Clube de Lages teve acesso a um novo boletim de ocorrência, registrado por outra ex-namorada do Vice-prefeito Jair Júnior, que expõe um histórico de perseguição e ameaças que se estende além do caso que resultou em sua prisão no último sábado (22).

A vítima detalha no boletim que namorou com Jair Júnior por um ano, e o relacionamento terminou em 2022. Desde então, Jair não aceitou o término e iniciou uma tentativa de intimidação. Segundo o relato, ele monitorava suas redes sociais, perseguia-a, ameçava e fazia pressão psicológica.

Em um incidente específico, ocorrido em 16 de março de 2023, a vítima relata que estava em sua residência quando Jair Júnior tocou o interfone. Ao negar a entrada, ele esperou até que alguém entrasse ou saísse do prédio e, em seguida, bateu à porta da vítima. Ao se recusar a abrir, Jair começou a gritar no corredor. Quando a vítima abriu uma fresta da porta, ele tentou forçar a entrada. A vítima gritou, ameaçando chamar a polícia, momento em que Jair ameaçou divulgar fotos íntimas caso ela o fizesse. Ele ainda tentou tomar o interfone da vítima, jogando-o na parede. A vítima conseguiu fugir e buscar abrigo no apartamento do síndico. Após o ocorrido, a irmã de Jair teria pedido à vítima para não denunciá-lo.

A reportagem da Rádio Clube de Lages fez contato com o Vice-prefeito Jair Júnior sobre esse novo boletim de ocorrência, mas ele não respondeu. O advogado de defesa de Jair Júnior, Fabrício Reichert disse que ficou sabendo sobre esse segundo boletim pela imprensa e que “nosso cliente não foi formalmente intimado sobre o teor e demais documentos que possa estar anexado ao mesmo, assim, quando tivermos acesso ao conteúdo de forma legal, a defesa irá se manifestar”, disse o advogado. 

Veja o novo boletim de ocorrência registrado contra o Vice-prefeito Jair Júnior:

Essa nova denúncia surge em meio à repercussão da prisão em flagrante de Jair Júnior por violência doméstica e cárcere privado contra a atual ex-namorada. O boletim de ocorrência referente a esse caso, também revela detalhes de um padrão de comportamento abusivo. 

No boletim de ocorrência a vítima relatou que namorou com Jair por aproximadamente um ano e que, há dois meses, o relacionamento havia terminado. Jair, no entanto, não aceitava o fim do namoro e continuava a procurá-la. Em um encontro na última sexta-feira, (21) sob o pretexto de uma conversa para finalizar a relação, Jair levou a vítima até sua casa, trancou as portas do veículo para impedir que ela saísse e, ao chegarem à residência, trancou as portas da casa e tomou o celular da vítima.

Durante o período em que estiveram na casa de Jair, ele a questionava incessantemente sobre seus relacionamentos e conversas com outras pessoas. Jair se trancava no banheiro para tentar acessar as mensagens e conversas no celular da vítima. Apesar dos repetidos pedidos para ir embora, Jair a manteve presa no local durante toda a noite.

Em um momento da madrugada, Jair sentou-se sobre a vítima no sofá e exigiu a senha do celular. Diante da recusa, ele desferiu tapas no rosto da vítima. Após a agressão, Jair tentou se desculpar e pedir que ela se acalmasse, chegando a colocar um travesseiro em seu rosto. A vítima só foi liberada às 13h do outro dia, sábado (22), sob a promessa de que não registraria ocorrência. Ao ser levada de volta para casa, a vítima conseguiu ligar para sua irmã e pedir ajuda. No caminho para a delegacia, as irmãs foram perseguidas por Jair.

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