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Solidariedade

Passarela da Cidadania: projeto é esperança para pessoas em situação de rua na Capital

As mudanças causadas pela pandemia, como ruas vazias, comércio fechado e distanciamento social impactam diretamente a vida das pessoas em situação de rua na Capital Catarinense.

• Atualizado

Vitória Hasckel

Por Vitória Hasckel

Foto: Leonardo Sousa, PMF, Divulgação
Foto: Leonardo Sousa, PMF, Divulgação

“Transformando a história da cidade com ações de amor e cidadania”: esse é o lema do Passarela da Cidadania, que atende pessoas em situação de rua em Florianópolis. Quem passa pelo projeto, desenvolvido pela Prefeitura de Florianópolis, sente na pele o impacto e a transformação que o atendimento e o acolhimento profissional proporcionam na vida de quem por algum motivo precisou fazer das ruas a sua morada. 

As mudanças causadas pela pandemia, como ruas vazias, comércio fechado e distanciamento social impactam diretamente a vida das pessoas em situação de rua na Capital Catarinense. Criado em 2019, o abrigo, localizado na Passarela do Samba Nego Quirido, no Centro da cidade, continuou realizando todos os serviços de atendimento mesmo durante a pandemia, explica Roberto Chenk, coordenador do Núcleo de Recuperação e Reabilitação de Vidas (Nurrevi), que assumiu as atividades da Passarela da Cidadania, em Florianópolis, em janeiro deste ano. 

“A situação dos usuários dos serviços da Passarela mudou em função da pandemia, mudando também o perfil e a quantidade de pessoas que procuram os serviços do projeto. O atendimento precisou ser reestruturado para comportar a nova demanda e as novas necessidades”, relata Roberto.

Reestruturação

Além da equipe profissional disponibilizada diariamente pela Prefeitura para realizar atendimentos que contribuam na ressocialização, que inclui quatro psicólogos, quatro assistentes sociais e uma equipe de saúde, os acolhidos têm direito a quatro refeições diárias pensadas por nutricionistas, locais para banhos e higiene pessoal. Nos últimos meses, o Projeto revitalizou os dormitórios que acolhem diariamente pelo menos 200 pessoas em situação de rua. Também foram instalados novos bebedouros e a limpeza dos locais foi reforçada.

No espaço reestruturado, muitos momentos marcantes de agradecimento vêm acontecendo entre os profissionais da Nurrevi, voluntários e os acolhidos. “No último mês com a reabertura do refeitório, afirmamos para eles que era uma questão de dignidade ter um local para comer. Nos vemos no olhar e na fala de muitos usuários os agradecimentos. Alguns dias atrás um dos usuários antes de voltar pra casa fez questão de bater uma foto com a equipe e escrever do agradecimento de como foi importante ter esse espaço para retomar a vida. Sabemos que temos muitas coisas para fazer, mas observamos que é o reinício de muitas pessoas”, finaliza Roberto.

Todas as atividades realizadas dentro da passarela, pelas pessoas em situação de rua, pelos funcionários da prefeitura, voluntários da Nurrevi e da Rede Solidária Somar Floripa, respeitam as orientações da Vigilância em Saúde do Município e da Organização Mundial da Saúde (OMS), como utilização de máscara e álcool em gel, higienização regular dos locais e distanciamento social. Além disso, a Prefeitura realiza testes de Covid-19 em todas as pessoas em situação de rua que frequentam o projeto.

A Voz das Manas

Na passarela, além de receberem apoio e terem a disposição serviços socioassistenciais, fornecidos pela Secretaria Municipal de Assistência Social, os acolhidos possuem autonomia para propor e desenvolver projetos utilizando a estrutura da passarela, esse é o caso de Aline Salles. 

Ex situação de rua, Aline já utilizou a estrutura da Passarela como moradia e no início da pandemia, percebeu como o isolamento afetou e fez as pessoas em situação de rua se sentirem sozinhas. A partir disso, ensinou e colocou em prática o projeto “A Voz das Manas”, com mulheres que continuam em situação de rua.

Todas as quintas, a roda de conversa para mulheres se reúne como um espaço de discussão de diversos assuntos relacionados às vivências, proporcionando um ambiente de partilha e acolhimento, onde as mulheres falam e escutam as colegas e principalmente aprendem sobre seus direitos. “Eu sinto uma felicidade enorme, eu nem quero servir de exemplo para nenhuma das mulheres, hoje a minha luta e que elas não façam o que eu fiz, não sigam a vida que eu segui, eu quero para elas uma vida que eu não tive.”, afirma Aline. Os 17 anos na rua, mostraram para Aline a importância de conhecer os próprios direitos e é isso que a roda de conversa se baseia: conhecer os próprios direitos.

Aline destaca que além da disponibilização do espaço, as entidades que atuam na passarela, assim como a secretária Municipal de Assistência Social Maria Cláudia Goulart da Silva, demonstram apoio ao projeto e reconhecem no dia a dia a importância. “Virou tudo uma parceria’. Eu fiquei muito feliz, a Secretaria e a Nurrevi cederam o espaço e demonstraram apoio pelo que estamos fazendo”, finaliza Aline.

“Ter um espaço para o acolhimento, escuta e cuidado dessas pessoas é muito importante. Na Passarela da Cidadania as pessoas em situação de rua recebem auxílio para um novo começo. Dialogar pautas importantes sobre a sua vida pessoal, viver em comunidade e discutir sobre os nossos sentimentos é algo muito importante e que agora em meio à pandemia ficou ainda mais visível. A atuação de movimentos sociais em ações conjuntas com o poder público como esta, demonstra o quanto a união de esforços reverbera no resultado do trabalho!” comenta a secretária de Assistência Social.

Geladeiroteca

A autonomia de realizar ações de integração, que fortaleçam a reestruturação da vida, é sentida por outros acolhidos. Luciano Medeiros e um colega também tiveram uma ideia durante a pandemia: montar uma biblioteca para que os demais acolhidos tivessem à disposição livros para aprender e passar o tempo dentro da Passarela da Cidadania. Foi assim que surgiu a Geladeiroteca, uma biblioteca com livros de romance, ficção e jornais dentro de uma geladeira antiga.

A ideia surgiu a partir de uma conversa entre os idealizados. “Nós vimos que o pessoal ficava muito acomodado dentro do pavilhão, então conversamos ‘Vamos montar uma biblioteca?’ ‘ Vamos’.”, afirma Luciano, que sempre gostou de ler e geralmente anda acompanhado de um livro.

Com livros encontrados nas ruas e doados, os acolhidos recepcionaram muito bem a Geladeiroteca “Eu lia diariamente antigamente, agora estou lendo para passar o tempo. Quem quiser melhorar, a leitura é um bom método para chegar a um bom lugar”, conta Luiz Costa, acolhido da Passarela.


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