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Documentário

Luísa Sonza lamenta exposição em série em que ela expõe cada detalhe da sua vida

Alternando entre o passado e o presente, o documentário Se Eu Fosse Luísa Sonza expõe ainda mais a história da artista

• Atualizado

Estadão Conteúdo

Por Estadão Conteúdo

Foto: reprodução/redes sociais
Foto: reprodução/redes sociais

“Tô triste por antecipação. Quando sair o documentário, o cancelamento que vai vir…”, comenta Luísa. Essa é uma das primeiras cenas de Se Eu Fosse Luísa Sonza, série documental sobre a artista que estreia na Netflix nesta quarta-feira (13).

O dilema fica claro já nesse primeiro momento. Luísa teme todo o ódio descabido que recebe, mas responde com mais exposição. É a grande questão da série e da carreira dela: o quanto disso é saudável?

Alternando entre o passado e o presente, Se Eu Fosse Luísa Sonza expõe ainda mais a história da artista. Conta sobre o grupo musical adolescente Sol Maior, o relacionamento com Whindersson Nunes e entra na carreira solo da cantora. São mostradas gravações desde a produção do disco Doce 22 até o lançamento de seu álbum mais recente, Escândalo Íntimo.

O tom nessa trajetória é de dificuldade: mesmo ao abordar a infância da cantora, ficam pistas de que houve sofrimento em cada passo.

Luísa, que agora tem 25 anos, toca no assunto feminismo e conta que muito do que sofreu foi por ser mulher. Ressalta que, ao se casar com Whindersson ainda jovem, era chamada de interesseira; ao se separar, era chamada de meretriz (para usar um termo suave). De fato, não há justificativa plausível que sustente tudo o que a artista ouviu. A vida dela e da família já foi ameaçada por internautas em mais de uma ocasião.

Decisões de carreira

Mas a trajetória de Luísa cresceu, também, graças ao que ela fez com esse ódio descabido. “Pta, vgabunda, interesseira” virou verso de música, entoado por milhares de pessoas. Foi isso que ela transformou em potência, o que até aparece na série – rapidamente. “Eu fazendo meu trabalho, e escutando só besteira”, canta.

“Porque quando eu despejo tudo na música, o sofrimento não fica todo em vão”, diz ela. Mas pouco do que Sonza fez criativamente é descrito por ela no documentário. Boa parte das decisões de carreira dela não são sequer mostradas em depoimento da artista, mas de sua equipe.

Na verdade, o documentário (que tem episódios intitulados “O mundo é um moinho”, “Eu sou minha própria hater” e “Escândalo Íntimo”) não se demora muito na música. Mostra o Rivotril que a artista toma, uma sequência excruciante de shows, as ondas de hate. Talvez a ideia fosse mudar a opinião de quem a odeia – o que geralmente é em vão -, transformando raiva em piedade.

O resultado é um meio do caminho estranho, quase sádico. Ficamos em uma encruzilhada como espectadores: devemos admirá-la ou nos compadecer? Luísa foi vítima de muitas coisas terríveis, mas não é uma coitada. Sofre, mas tem privilégios. E tem poder, tem voz, tem palco para responder.

Mas não. Luísa é mostrada como uma pessoa que quer, mas não consegue sustentar o dedo do meio às críticas. Aquele que suas referências, de Rita Lee a Madonna, levantaram. E isso mal é verdade – em muitos momentos, Luísa optou por enfrentar quem a xinga. Dobrou a aposta, até.

Se eu fosse Luísa Sonza

Se Eu Fosse Luísa Sonza perde a oportunidade de retratar justamente isso: Sonza como agente de si mesma. É o oposto de Vai Anitta, que mostrava uma artista imponente, com poucas vulnerabilidades e muita confiança. O documentário sobre Luísa a desenha como uma passageira quase passiva de sua carreira que, quando mudou a opinião pública a seu favor, foi por um tweet impulsivo e acidental.

(Simbolicamente, um dos poucos momentos em que a artista não é retratada como vítima é quando fala do caso de racismo, sozinha com uma câmera de celular. Tem sobriedade e consciência na fala, independentemente de saber se o espectador acreditará no que ela diz. É, finalmente, Luísa contando sua narrativa dos fatos).

A produção tem a pretensão, notável, de abordar todos os assuntos na vida pessoal de Luísa. Para tanto, o agora infame relacionamento com Chico Moedas também aparece rapidamente.

É um momento leve do documentário, em que a cantora se alegra sobre seu novo disco e fala de um amor “inocente, que pode durar pouco”. Mas até a forma com que isso é retratado perde fôlego: após as falas da cantora, um lettering anuncia que a canção Chico era número 1 do País “quando Chico traiu Luísa” (sic).

É um texto branco sob tela preta. Recurso usado na série para falar do hiato de Luísa para cuidar da saúde mental, a morte de Marília Mendonça, a acusação de racismo etc. E a traição de Chico. Os grandes (e graves) acontecimentos da carreira de Sonza são tratados com o mesmo recurso visual que uma traição em um namoro de meses.

E para quê? Ao sugerir um momento celebratório – as músicas e os números do novo álbum -, a obra dá a entender que Sonza fez sucesso ‘apesar de’. Não nos dá a chance de vê-la como uma artista forte, que se consagra ‘por causa de’ suas criações, quem é, o que viveu.

Dizem que quando uma artista pop assina um contrato milionário, ela é colocada em uma “gaiola de ouro”: recebe investimentos altíssimos rumo ao sucesso, mas perde o poder de decisão. Se torna coadjuvante – e ilustração – de sua própria carreira. Ao fim do documentário, a impressão subliminar é de que Sonza está presa na gaiola de ouro.

Ela não se sente bem durante as gravações; não quer fazer tantos shows em sequência, mas faz; não quer aqueles prazos para o álbum, mas os segue; nem sequer aparenta querer aquele documentário. A gaiola de ouro não costuma ser tão transparente

No fim das contas, Se Eu Fosse Luísa Sonza é um excelente título. Nem ela parece fazer o que gostaria, se só ela fosse Luísa Sonza.

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