Novo boom das commodities? Veja as oportunidades que a economia internacional proporciona ao Brasil
Mudança no preço das commodities (recursos minerais, vegetais e agrícolas padronizados) afeta, e muito, a condição da economia brasileira
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No Brasil, tendemos a definir todos os problemas econômicos como sendo exclusivamente domésticos. É verdade que a maioria de nossos problemas são internos: as contas públicas estão desajustadas, temos um baixo nível de poupança, o sistema jurídico e regulatório dificulta o desenvolvimento de novas empresas e aumenta a informalidade, entre tantos outros problemas. Ademais, como somos um dos países mais fechados ao comércio internacional – estamos atrás até de Cuba –, muitas vezes, acreditamos que nossa economia é pouco influenciada pelas dinâmicas econômicas globais. Contudo, alguns setores de nossa economia estão fortemente relacionados com o andamento da economia internacional, especialmente os setores agropecuários e de minérios, os quais são responsáveis por grande parte de nossas exportações. Nesse sentido, a mudança no preço das commodities (recursos minerais, vegetais e agrícolas padronizados) afeta, e muito, a condição da economia brasileira.
Desde a década de 1980, quando o crescimento da economia brasileira começou a desacelerar, o período de maior crescimento econômico do país foi entre 2002 e 2011. Justamente no período em que os preços das commodities, que representam cerca de 60% das exportações do país, subiram exponencialmente. Segundo dados do FMI (Fundo Monetário Internacional) o índice de preço das commodities subiu 227% entre 2002 e 2011. Inevitavelmente, o aumento do preço das commodities se refletiu na conta das exportações do país que saltou de US$ 73 bilhões em 2002 para US$ 315 bilhões em 2011, crescimento de 332% no período.
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Este período de bonança das nossas exportações, associada a reorganização macroeconômica propiciada pelo estabelecimento do chamado “tripé macroeconômico” (superávit primário, câmbio flutuante e regimes de metas de inflação) possibilitou que a economia brasileira atingisse níveis de crescimento econômico que ela não experimentava desde a década de 1970. Com uma situação macroeconômica favorável, o real se valorizou, os níveis de poupança subiram, o país conseguiu aumentar suas reservas internacionais, e a crescente rentabilidade dos setores agropecuário, de minério e petróleo puxou o crescimento de outros setores da economia.
Contudo, infelizmente, o Brasil não soube utilizar o último boom das commodities para estabelecer as bases para o desenvolvimento econômico sustentável do país. Reformas econômicas estruturantes não foram aprovadas, não se melhorou o ambiente de negócios do país e o setor público tornou-se cada vez mais um fardo para o pagador de impostos. Além dos governos petistas deixarem de aproveitar este período de bonança para fortalecer a economia do país, eles adotaram políticas econômicas perdulárias quando o crescimento econômico baseado nas exportações de commodities começou a mostrar sinais de esgotamento.
O “tripé macroeconômico” que organizou a economia do país após o Plano Real foi desmontado e o governo passou a apostar em uma política econômica baseada no aumento do gasto público e expansão do crédito. Inevitavelmente, as políticas econômicas expansionistas se traduziram em uma catástrofe econômica. Entre 2013 e 2016, o Brasil passou pela maior crise econômica de sua história. A dívida pública subiu exponencialmente, o real se desvalorizou, o ambiente político se deteriorou e a inflação passou a subir. O fato é que até hoje pagamos o preço por estas medidas que desestabilizaram a economia do país.
Contudo, os indicadores econômicos mais recentes demonstram que o Brasil pode ter uma nova oportunidade para crescer e reestruturar sua economia. Com a crise da COVID-19, o comércio internacional caiu drasticamente e a maioria dos países passou a enfrentar uma condição de grande vulnerabilidade econômica. Com o crescente número de negócios fechando, desemprego subindo e a renda da população caindo, a maioria dos governos passaram a adotar políticas econômicas expansionistas. Os juros caíram substancialmente e os déficits públicos dispararam. Assim sendo, quando a vacinação começou a avançar nos países com as maiores economias do mundo, assim possibilitando a redução das restrições a atividade econômica, começou a aumentar a demanda por diversos tipos de commodities, o que levou ao aumento dos preços desse tipo de produto. O gráfico abaixo, por exemplo, demonstra a tendência de alta de diversos índices de commodities desde abril de 2020, os quais já superam o patamar pré-crise.
Gráfico 1: Índice de Preços de Commodities
De certa forma, o aumento dos preços das commodities já começam a ser sentidos na economia brasileira. O setor agropecuário foi o único que registrou crescimento em 2020. A balança comercial está registrando sucessivos recordes de superávit e o real, apesar de ainda estar muito desvalorizado, foi a 4ª moeda que mais se valorizou no mundo em 2021.
As perspectivas para o ano continuam excelentes. A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) estima que o faturamento do setor deve ser o maior da história, de R$ 1,192 trilhão. Já o Ibram (Instituo Brasileiro de Mineração) estima que o setor mineral deve faturar R$ 300 bilhões em 2021. No primeiro semestre de 2021, o resultado já foi 98% maior do que o registrado no mesmo período de 2020.
Apesar das expectativas serem boas para o mercado das commodities, o crescimento dos preços de produtos primários não deve ser permanente. Diferentemente do boom das commodities que ocorreu na primeira década deste século, quando os países asiáticos passaram a experimentar altas taxas de crescimento econômico e passaram a demandar mais produtos primários, o cenário agora mudou.
A demanda por diversos produtos primários é fruto, essencialmente, de dois fatores. Primeiramente, muitos países tiveram uma demanda reprimida devido as restrições a atividade econômica durante a pandemia. Muitas indústrias reduziram ou interromperam suas produções e muitas empresas e indivíduos reduziram seu consumo. Muitos consumidores apenas adiaram as compras de determinados bens que agora passam a ser requisitados. Este é o motivo, por exemplo, das concessionárias estarem levando meses para entregar carros novos. Em segundo lugar, boa parte desta demanda está sendo sustentada por estímulos econômicos dos governos que devem se esgotar nos próximos anos. Ou seja, não estamos lidando com um crescimento econômico sustentável da economia mundial.
Assim sendo, a meu ver, os formuladores de políticas públicas brasileiros não devem apostar que o Brasil poderá crescer através do aumento, possivelmente, transitório do preço das commodities. Caso sigamos com está linha, estamos fadados a repetir os erros do passado e teremos um crescimento econômico similar a um voo de galinha. O Brasil deve aproveitar esta oportunidade para reorganizar as contas públicas, elevar os níveis de poupança do país e realizar reformas econômicas que melhorem o ambiente de negócios brasileiro. Desta forma, podemos estabelecer os alicerces para o crescimento econômico sustentável do país. Caso o contrário, deveremos experimentar os erros do passado mais uma vez.
Conforme muitos aprenderam nas aulas de história do Brasil, os nossos períodos de crescimento econômico foram baseados no preço de nossos principais itens de exportação de determinada época. Tivemos o ciclo do açúcar, do café, do ouro, do pau-brasil, do algodão e da borracha. Contudo, não soubemos aproveitar a maioria desses períodos de bonança para transformar a realidade socioeconômica do país. É importante que agora aprendamos a lição, e passemos a defender uma agenda de fortalecimento institucional e de liberalização da economia brasileira. Assim, estaremos menos vulneráveis as dinâmicas econômicas internacionais e poderemos crescer com base em investimentos, inovação e competição.
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