Os vinhos sem safra declarada

No artigo anterior, comentamos sobre a importância da safra no rótulo dos vinhos. Hoje falaremos justamente sobre os vinhos que não declaram seu ano de colheita.

E todo vinho tem safra?

Não. Alguns vinhos não tem safra definida, podendo ser cortes entre diferentes safras ou mesmo provenientes de uma única safra. Acaba sendo uma escolha do produtor. Em alguns casos, é para “padronizar” um vinho de consumo corrente, onde esta informação pouco faria diferença dado o caráter de consumo básico do vinho.

Em algumas regiões da Europa, determinadas categorias de vinhos mais simples não podem, por força de lei, declarar safra. Não é incomum que estes vinhos cheguem, no Brasil com a safra declarada no contrarrótulo, o que é permitido pela nossa lei. Assim, o rótulo permanece original e as demais informações de exportação, classificação e a safra acabam na parte de trás da garrafa.

Os espumantes quase nunca são safrados, pois é do caráter do produto ser elaborado de vinhos de reserva e ter sempre uma expressão típica da casa produtora, e não de cada safra. Comentamos um pouco mais sobre na sequência.

É importante lembrar que, segundo a legislação brasileira, um vinho com safra declarada deve ser composto por, no mínimo, 85 % de vinho daquele ano. Convém também lembrar que as legislações variam de país a país, mas que, ingressando por vias oficiais, os vinhos importados precisam adequar-se às normativas brasileiras.

Sempre o ano do rótulo é a safra?

Também não. Se nada for dito, ou se estiver escrito “safra”. “colheita” ou vindima, sim. Porém, em espumantes, se a expressão for “tirage”, ou “tiragem”, isso significa o ano em que o espumante foi para o mercado, terminando seu processamento.

Isso acontece porque, exatamente como comentamos antes, os espumantes costumam ser elaborados em uma lógica de preservar a identidade da casa produtora, e não os reflexos da safra, em uma região onde o clima variava muito e produtos muito, muito diferentes poderiam surgir se não usássemos a técnica de assemblage, a qual já comentamos neste artigo.

Este foi um modelo “importado” de Champagne para o mundo, região esta que, ao contrário do que se costuma dizer, não foi a primeira a produzir espumantes no mundo, mas foi a que mais se destacou. E para não deixar ninguém curioso, a primeira região a produzir espumantes foi Limoux, no sul da França, e claro, não sem controvérsias…

Se apenas a tiragem for declarada, sabemos que é um produto que foi “terminado” em tal ano, e isso passa a ser um indicativo de idade dele. Como espumantes não costumam envelhecer bem após serem expedidos, este é um bom meio de perceber o quanto um produto está próprio ou não para o consumo.

Em alguns casos, as duas expressões são encontradas, e obviamente, são diferentes, correspondendo a safra ao ano mais antigo e a tiragem ao mais novo. Isso porque antes as uvas são colhidas e processadas e depois o espumante é elaborado, amadurecido e expedido. O tempo entre uma e outra é variável, mas pode ser até mesmo superior a cinco anos, em espumantes de exceção. Hoje, os leitores puderam entender quais as implicações da declaração da safra no rótulo, e conseguiram entender também que a ausência dela não significa, obrigatoriamente, vinhos de menor qualidade. Escolha o seu preferido, de guarda ou consumo corrente, amadurecido ou jovem, e desfrute, pois os anos e as safras passam muito rápido e não prestigiá-los seria perder muito da vida!

Santé!

por Jucelio K. Medeiros

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