João Silva

Graduado em economia e relações internacionais pela Boston Univeristy. Mestre em relações internacionais na University of Chicago e mestre em finanças pela University of Miami.


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João Victor da Silva

A Ideologização do Ensino a Desserviço do Desenvolvimento

Ao invés de ser um ambiente de discussão e inovação, os campi universitários tornam-se palco de militância política

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Foto: Pixabay (banco de imagens)
Foto: Pixabay (banco de imagens)

Um dos principais fatores que leva ao crescimento econômico de um país é o desenvolvimento do capital humano. Para termos uma economia mais dinâmica, mais inovadora e mais produtivos é necessário um grande investimento em educação. A importância da educação para o desenvolvimento econômico é um dos mais antigos paradigmas das ciências sociais. Desde a antiguidade, os povos que conseguiam dominar alguma tecnologia disruptiva conquistaram, de certa forma, uma hegemonia econômica.

Não é por acaso que os países com as economias mais pujantes do mundo são aqueles com as principais instituições de ensino do mundo. Estados Unidos, Reino Unido, França, Holanda, Suíça, Alemanha, Coréia do Sul, Canadá e Israel concentram quase que a totalidade das instituições de ensino de referência no mundo. São nos laboratórios e salas de aulas destas instituições que surgem grandes ideais capazes de revolucionar as nossas vidas, e que transformam nossa economia. É notável que os principais centros de inovação do mundo estão localizados no entorno das principais universidades do mundo.

Cidades Mais Inovadoras do Mundo em 2019

Nova Iorque, EUA
Tóquio, Japão
Londres, Reino Unido
Los Angeles, EUA
Cingapura
Paris, França
Chicago, EUA
Boston, EUA
São Francisco-São José, EUA
Toronto, Canadá

Fonte: Innovative Cities Program

            Infelizmente, no Brasil, são poucos os centros universitários que conseguem fomentar um ambiente de ensino que fomente o crescimento econômico de uma região. Não se pode dizer que está é a realidade de todos as instituições de ensino superior do Brasil. Instituições como o ITA, IME e USP, e algumas outras universidades referência no setor agrícola, engenharia e de negócios fazem parte de um grupo pequeno de universidades brasileiras que desenvolvem pesquisas relevantes para o desenvolvimento do país. Lastimavelmente, estas instituições são a exceção e não a regra.

            Os dois problemas fundamentais da educação superior no Brasil são a cultura do bacharelismo e a ideologização do ensino. Por um lado, grande parte dos acadêmicos, tanto alunos quanto professores, buscam títulos acadêmicos como uma forma de alavancar seu status social, ao invés de utilizarem as instituições de ensino como um instrumento para ampliar seu conhecimento. Assim sendo, em boa parte das universidades brasileiras não vemos teses acadêmicas com relevância científica que possam contribuir para o avanço da sociedade.

Por outro lado, a ideologização do ensino acaba distorcendo ainda mais o papel da universidade na sociedade. Ao invés de ser um ambiente de discussão e inovação, os campi universitários tornam-se palco de militância política. Militantes disfarçados de professores buscam promover suas doutrinas marxistas e pós-modernistas como forma de disseminar seu pensamento revolucionário para a sociedade. Assim, as universidades deixam de ser locais para o avanço da ciência e tornam-se instrumentos de ação política. A ideologização do ensino superior, além de deformar o ensino com a promoção de pautas sem valor científico, passa a cercear o debate acadêmico, pois toda ideia contraditória a ideologia desses militantes passa a ser taxada como fascista, opressora, racista etc. Trata-se do fenômeno conhecido como politicamente correto, o qual vem se disseminando em nossa sociedade e corrompendo a liberdade de expressão.

São inúmeros os exemplos de ações da militância universitária que vêm impedindo as universidades de se transformarem em instrumentos para o desenvolvimento econômico do país. No fim de março, por exemplo, após a reitora da UnB receber o embaixador israelense com o intuito de estabelecer uma cooperação entre empresas de Israel com a universidade através do Parque Científico e Tecnológico da instituição, a ADUnB (Associação dos Docentes da Universidade de Brasília) publicou uma moção rejeitando a cooperação da universidade com Estado de Israel. Segundo a associação, a universidade não poderia estabelecer relações com o Israel, por se tratar de um Estado que promove um apartheid. Além disso, os docentes também caracterizam o Estado israelense como racista e expansionista.

A avaliação da ADUnB não poderia ser mais distante da realidade. Afinal de contas, Israel é o único Estado democrático do Oriente Médio e que garante direitos iguais a todos os cidadãos, inclusive para minoria cristã e mulçumana. Seu forte aparato militar é necessário para preservar a existência do Estado, o qual é alvo regularmente de organizações terroristas e vizinhos hostis que buscam minar a estabilidade do país.

De certa forma, a ação dos docentes da UnB busca inviabilizar o desenvolvimento do Brasil com base em suas ideologias. Perde-se a oportunidade de cooperar com o país que possui o setor de tecnologia, biomedicina e de pesquisa mais dinâmico do mundo. Para se ter uma ideia, no livro Start-up Nation, que conta a história do sucesso econômico de Israel, os autores mostram que até 2009 (data de publicação do livro) Israel era o país com maior investimento per capita em capital de risco, o país estrangeiro com mais empresas listadas na NASDAQ (mercado de ações dos EUA que reuni empresas de alta tecnologia) e o país que mais investia em pesquisa e desenvolvimento civil em relação ao PIB, 4,5%. Tecnologias de nosso cotidiano foram desenvolvidas em Israel: o aplicativo Waze, o pendrive, os processadores da Intel, o processo de dessalinização da água do mar, até mesmo o tomate cereja foi desenvolvido através da engenharia genética de pesquisadores israelenses. Tudo isso foi criado em um país com um território menor do que o de Sergipe, que é o menor estado do Brasil, e com uma população comparável à do Ceará.

No entanto, para a ADUnB nada disso importa. A quarta revolução industrial, que Israel é um dos expoentes, tem sua entrada no Brasil dificultada por motivações ideológicas. Enquanto em Israel e outros centros de inovação do mundo se desenvolvem tecnologias de robótica avançada, veículo autônomos, impressoras 3D, materiais compósitos, inteligência artificial e biotecnologia, ficamos para trás na corrida tecnológica.

O grande problema é que o pagador de impostos brasileiros precisa financiar toda está balbúrdia dos docentes da UnB. Em 2020, ano em que a UnB cancelou a maior parte das aulas do ano letivo, as despesas da universidade alcançaram R$ 2,1 bilhões, sendo R$ 1,6 bilhão com despesas de pessoal.

Ao passo que as universidades brasileiras não oferecem um ensino e pesquisa de qualidade, o Brasil passa a enfrentar uma situação inusitada. A educação ao invés de promover nosso desenvolvimento, acaba o atrasando, pois, a população paga para sustentar uma elite acadêmica que não desenvolve ideias e tecnologia que sejam produtivas para sociedade. Assim sendo, mudar a situação do ensino superior no Brasil torna-se urgente, pois a estrutura atual não está trazendo o resultado demandado pela população, visto que os trabalhos de pouquíssimos departamentos acadêmicos conseguem ter um impacto verdadeiramente positivo para a sociedade.


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