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Amigo da onça

Padrinho de casamento dá golpe milionário em Dudu, do Palmeiras

Thiago Soubhia Donda é ex-assessor e padrinho de casamento de Dudu. Os advogados dele alegam que o prejuízo foi de mais de R$ 18 milhões

• Atualizado

Estadão Conteúdo

Por Estadão Conteúdo

Foto: Reprodução / Redes Sociais
Foto: Reprodução / Redes Sociais

Por Ricardo Magatti

Dudu quer esquecer 2023. No ano passado, o atacante do Palmeiras sofreu sua primeira grave lesão na carreira e descobriu que estava sendo vítima de um golpe financeiro. A Polícia Civil de São Paulo abriu inquérito para investigar Thiago Soubhia Donda, ex-assessor e padrinho de casamento do jogador, um ex-gerente da agência de um banco, e um funcionário de um cartório em São Paulo. Os advogados de Dudu alegam que o jogador perdeu mais de R$ 18 milhões nos últimos anos.

Em novembro do ano passado, a defesa de Dudu solicitou a instauração de inquérito no 15º Distrito Policial de São Paulo, que começou, então, a investigar as partes denunciadas. No centro da denúncia está Thiago Donda, amigo por anos de Dudu e uma das pessoas em quem o jogador mais confiava. Depois da denúncia, o atleta cortou relação com o seu ex-assessor e desfez a amizade de mais de uma década.

A denúncia aponta que Thiago usou fichas internas com assinaturas falsas de Dudu para desviar mensalmente dinheiro de uma conta no Bradesco em que o atacante recebia do Palmeiras os direitos de imagem, que, por lei, pode corresponder a até 40% do salário total de um jogador de futebol.

Dudu suspeita que Thiago desviava dinheiro de uma de suas contas desde 2015, ano em que o atleta se transferiu do Grêmio ao Palmeiras e contratou os serviços do assessor para lhe ajudar nas tarefas do dia a dia. Thiago foi ganhando a lealdade e confiança do jogador e passou a ter acesso às finanças do atacante e movimentar as contas bancárias do atleta sem ele saber.

O Bradesco informou que “está atendendo todas as solicitações da polícia e tratando o assunto diretamente com o cliente e seu representante”. A assessoria de imprensa de Dudu disse que o caso está sendo conduzido pela equipe jurídica do atleta, liderada por Adriana Cury e Cid Vieira, e que “os advogados já tomaram as medidas cabíveis junto às autoridades e confiam no trabalho da Justiça”. Thiago Donda não respondeu às mensagens e não atendeu as ligações da reportagem. O Estadão aguarda uma resposta do 19º Cartório de Registro Civil de São Paulo.

Fraude financeira

Dudu descobriu somente em agosto do ano passado que estava sendo vítima de seguidas fraudes financeiras. Segundo consta no pedido de abertura de inquérito, o atleta foi surpreendido ao saber que a sua empresa, Dudu Sete Agenciamento de Imagens Esportivas, aberta para receber os direitos de imagem, não recolhia impostos desde 2018, e que havia parcelas pendentes de pagamentos dos impostos, além da existência de execuções ajuizadas desde 2022. Tudo sem o aval do camisa 7.

O profissional responsável pela contabilidade da empresa de Dudu alegou ao jogador que não havia lhe informado da falta de pagamento dos impostos por ordem de Thiago e indicou um escritório de advocacia de sua confiança, no bairro de Moema, ao assessor do atleta, para que ele evitasse bloqueio dos bens de Dudu.

Dudu estranhou e questionou o contador, já que na conta em que recebia os direitos de imagem deveriam estar os valores reservados para o pagamento dos impostos referentes à sua empresa e o valor líquido seria depositado para uma conta de pessoa física do atacante. O atleta demorou a tomar pé da situação porque não costumava acessar essa conta no Bradesco. Ele tem uma conta pessoal em outro banco que usa com mais frequência, já que é de lá que sai o dinheiro para pagar suas despesas.

A acusação aponta que Thiago atuou com a ajuda do gerente de uma agência do Bradesco onde Dudu mantinha conta; e de um funcionário do 19º Cartório de Registro Civil de São Paulo, no bairro de Perdizes. O gerente do banco foi demitido em dezembro de 2022. Os dois estão sendo investigados.

O contador não está sendo investigado, embora exista a possibilidade de que ele seja também seja acusado conforme o andamento da investigação. A defesa do atleta avalia que o contador sabia dos desvios e poderia ter agido para impedi-los.

Fraudes que os advogados de Dudu constataram:

  • Transferências e pagamentos de valores para conta de terceiros utilizando fichas internas com assinaturas falsas;
  • Compensações de cheques com assinaturas falsas;
  • Débitos nas contas bancárias de produtos ofertados pela entidade bancária sem contratação e conhecimento das vítimas;
  • Operações de empréstimos mediante oferta de produtos;
  • Venda Títulos de Capitalização sem autorização das vítimas;
  • Transferências de valores para conta de terceiros com autorizações preenchidas pelo gerente sem anuência do correntista;
  • Falsificações de assinatura;
  • Baixas de aplicações financeiras e resgates de ativos financeiros sem conhecimento das vítimas;
  • Utilização de PIX e TED não autorizadas.

Assinatura falsa e prejuízo de R$ 18 milhões

Dudu contratou uma perícia, que constatou, por meio de laudo grafotécnico, que as assinaturas em cheques e fichas internas bancárias eram falsas.

“São falsas as atribuídas a Eduardo Pereira Rodrigues que figuram nos questionados documentos peças de exame deste parecer grafotécnico, vez que não foram produzidas por punho daquele escritor, em face de seus lançamentos padrões de confronto”, diz o laudo.

Inicialmente, os advogados do atleta calcularam que o valor referente à quantia desviada em favor de Thiago e de sua empresa, a BWF assessoria e agenciamento, por meio das fichas bancárias e cheques com assinaturas falsas era de R$ 8 milhões. Depois, constatou-se que o valor alcançava mais de R$ 14 milhões.

Uma empresa de auditoria foi contratada para devassar o caso e levantar o valor total desviado. O prejuízo chega a R$ 18 milhões, mas as contas ainda não terminaram e o desfalque pode ser maior.

  • Valor das transferências para Thiago e a BWF por meio das fichas com assinatura falsa: R$ 13.808.596,79.
  • Valor total de juros, encargos multa pelos impostos atrasados: R$ 2.159.585,98 41
  • Valor total das cédulas de crédito bancário mediante assinatura falsa: R$ 1.450.000,00.
  • Transferências de veículos feitas com assinatura falsa: R$ 562 531,09.
  • Prejuízo parcial de aproximadamente R$ 18 milhões.

Assessor, padrinho de casamento e homem de confiança

Os dois se tornaram próximos em 2012. Thiago frequentava a casa e de Dudu e convivia com os seus amigos e familiares. Inclusive, ia com frequência acompanhar o jogador na Academia de Futebol. Os advogados de Dudu consideram que o homem de confiança do atleta, uma espécie de seu braço direito, percebeu que ganhou a lealdade do jogador e viu nisso uma chance de aumentar seu patrimônio.

Em 2017, Dudu solicitou ao seu empresário, André Cury, que destinasse a Thiago parte do percentual de sua remuneração ajustada no seu contrato. Em 2018, Thiago passou chamar atenção de outros atletas e abriu outra empresa de assessoria esportiva. Ele já era dono da BWF assessoria e agenciamento.

Em 2021, inaugurou a Nido Clínica de Estética Avançada e Medicina Esportiva, no bairro de Perdizes, em São Paulo. A defesa do jogador acredita que ele abriu esse empreendimento com os valores desviados das contas do atacante sem sua anuência. Os dois eram tão próximos que Thiago foi padrinho de casamento do camisa 7 e estava presente na assinatura do último contrato de renovação de Dudu com o Palmeiras, no final de 2022.

No pedido de abertura de inquérito, a acusação afirma que Thiago “optou pelo pior caminho, o da traição; da desonestidade; da quebra de confiança”. Em agosto de 2023, quando descobriu parte dos golpes de que estava sendo vítima, Dudu foi confrontar o seu assessor em troca de mensagens pelo WhatsApp.

Dias depois dessa conversa, Dudu recebeu os extratos bancários que comprovaram consecutivas transferências bancárias que favoreciam Thiago e sua empresa, a BWF, e passou a ter conhecimento da dimensão do desfalque milionário que havia sofrido. Depois disso, os dois romperam relações e a amizade terminou.

A polícia aguarda o recebimento de documentos do banco para avançar na apuração e fazer os chamados para esclarecimentos de possíveis envolvidos. A defesa de Dudu pede, no inquérito, que a Polícia investigue os seguintes crimes:

  • Estelionato;
  • Abuso de confiança;
  • Falsificação de documentos;
  • Falsidade ideológica;
  • Associação criminosa;
  • Apropriação indébita;
  • Operação casada;
  • Venda de títulos de capitalização.

Resposta dos envolvidos

O Bradesco informou que “está atendendo todas as solicitações da polícia e tratando o assunto diretamente com o cliente e seu representante”.

A assessoria de imprensa de Dudu disse que o caso está sendo conduzido pela equipe jurídica do atleta, liderada por Adriana Cury e Cid Vieira, e que “os advogados já tomaram as medidas cabíveis junto às autoridades e confiam no trabalho da Justiça”.

Thiago Donda não respondeu às mensagens e não atendeu as ligações da reportagem. O Estadão aguarda uma resposta do 19º Cartório de Registro Civil de São Paulo.

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