14 mil vidas perdidas por ano; entenda a importância do Setembro Amarelo
Setembro Amarelo, movimento mundial de conscientização sobre a importância da saúde mental e da prevenção ao suicídio
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Alerta: tema sensível
O suicídio é uma questão de saúde pública que, infelizmente, segue em crescimento no Brasil e no mundo. Dados recentes da campanha Setembro Amarelo, movimento mundial de conscientização sobre a importância da saúde mental e da prevenção ao suicídio, revelam que o país registra cerca de 14 mil casos por ano, o que representa, em média, 38 mortes por dia.
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As taxas expõem diferenças significativas entre homens e mulheres. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), enquanto eles apresentam índice de 12,6 casos a cada 100 mil habitantes, elas registram 5,4 por 100 mil. Essa discrepância também é uma tendência no resto do mundo. A ABP aponta ainda que os números maiores entre homens estão ligados a fatores como os métodos utilizados, barreiras culturais para buscar ajuda e estigmas sociais.
Segundo a médica psiquiatra Júlia Trindade, integrante da Associação Catarinense de Psiquiatria, os homens culturalmente não são incentivados a falar sobre os sentimentos. “Os homens costumam escolher métodos mais letais, o que aumenta a chance de morte quando há tentativa. Na prática, homens procuram menos atendimento e têm menos quadros diagnosticados. Outro fator que contribui é a associação com o uso de álcool e drogas, que aumenta a impulsividade e o risco”, explica.
Como cuidar das crianças e adolescentes?
Os dados recentes mostram que entre os jovens, o cenário preocupa ainda mais. Entre 2016 e 2021, a taxa de mortalidade por suicídio entre adolescentes de 15 a 19 anos aumentou 49,3%, chegando a 6,6 por 100 mil. Na faixa de 10 a 14 anos, o crescimento foi de 45%, com índice de 1,33 por 100 mil. Os psiquiatras atribuem o alto número a uma combinação perigosa de pressões acadêmicas, crise de identidade, bullying e impacto das redes sociais têm sido apontadas como principais causas de doenças emocionais nessa etapa da vida.
Júlia explica que a prevenção nessa faixa etária passa por diversas camadas que envolve trabalho conjunto da escola e família. Conforme a psiquiatra, é preciso desenvolver espaços seguros para que todos consigam identificar os sinais. “A família tem papel central: estar próxima, ouvir sem julgamento e acompanhar de perto o que os filhos fazem, inclusive no ambiente digital”, sintetiza.
A médica também alerta que os adultos devem vigiar o uso da internet e das redes sociais, uma vez que os conteúdos consumidos e postados em rede podem servir de gatilho. Além disso, é preciso fazer com que as crianças, pré-adolescentes e adolescentes consigam expressar as emoções. “É importante ensinar práticas de regulação emocional desde cedo, como nomear sentimentos, aprender a lidar com frustrações e desenvolver estratégias de enfrentamento. Incentivar a atividade física também é essencial, pois o exercício tem efeito protetor comprovado para a saúde mental. E, claro, quando há sinais de sofrimento mais intenso, o acesso rápido a atendimento psicológico ou psiquiátrico faz toda a diferença para evitar que a situação se agrave“, alerta.
Suicídio é uma emergência mundial
No panorama internacional, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima mais de 700 mil suicídios por ano, podendo ultrapassar um milhão quando considerados os casos subnotificados ou em países com regimes políticos fechados. Porém, os especialistas apontam que os números caíram em diversas regiões do mundo.
Já a realidade do continente Americano, no qual o Brasil está inserido, é outra. Os dados mostram que as Américas seguem na contramão, com tendência de aumento de casos. Especialistas apontam que as causas são multifatoriais e incluem doenças mentais muitas vezes não diagnosticadas, dificuldades de acesso a tratamento, fatores socioeconômicos, isolamento e estigmas.
A prática do dia a dia, reforça a necessidade de políticas públicas voltadas à prevenção, com estratégias adaptadas a diferentes faixas etárias e gêneros, além da ampliação do acesso a serviços de saúde mental. A ABB destaca a importância de campanhas de conscientização permanentes, que incentivem o diálogo aberto, a detecção precoce de sinais de alerta e a construção de redes de apoio. A mensagem central é clara: falar sobre suicídio salva vidas. Mais do que números, cada caso representa uma história interrompida que poderia ter sido evitada com acolhimento, informação e tratamento adequados“, explica a entidade.
Números em Florianópolis e em Santa Catarina
Florianópolis registrou um aumento de 25% nos casos de suicídio entre 2020 e 2023. De acordo com a médica psiquiatra Júlia Trindade, integrante da Associação Catarinense de Psiquiatria, os números acendem um alerta.
“Na Capital, a taxa chega a cerca de 8,5 mortes por 100 mil habitantes, conforme dados da Prefeitura de 2024. No Estado, o crescimento também preocupa: em quatro anos, os registros subiram de 769 para 962, em 2023, segundo a Secretaria de Saúde de Santa Catarina”, explica.
A médica destaca ainda que o cenário local segue na contramão da tendência mundial, que é de queda. “Esses dados mostram a urgência de mantermos o debate sobre saúde mental ao longo de todo o ano, e não apenas em setembro”, reforça.
Comportamentos que servem de alerta
Júlia Trindade explica que é preciso prestar atenção no comportamento de quem está ao nosso redor. Segundo a psiquiatra, alguns sinais de alerta para o risco de suicídio não podem ser ignorados. Falas sobre morte, despedidas incomuns, a entrega de objetos de valor afetivo e a organização da vida pessoal como se fosse uma preparação para partir merecem atenção redobrada. Mudanças bruscas de humor, isolamento repentino e o aumento no uso de álcool ou outras substâncias também estão entre os comportamentos que exigem cuidado imediato“, explica.
No entanto, Júlia alerta que nem sempre é possível identificar esses sinais. “O suicídio é um fenômeno multifatorial, que envolve questões biológicas, psicológicas e sociais. Embora muitas vezes seja possível prevenir, não é algo simples. Por isso a ampliação do acesso a cuidado em saúde mental e a redução do estigma continuam sendo as estratégias mais eficazes para salvar vidas.”, finaliza.
Entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV)
O Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias. | Fale com o CVV, ligue 188
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