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Tatiana Tendo Tempo

Organização pós-luto e pós-rupturas

Por mais dolorido que seja, a vida continua para os que ficam e para que essa vida seja plena, os enlutados precisam aceitar a ausência

• Atualizado

Tatiana Bozzano

Por Tatiana Bozzano

Imagem ilustrativa. Foto: Pixabay
Imagem ilustrativa. Foto: Pixabay

A partida de um ente querido por si só já trás uma dor devastadora, a tristeza é profunda e entramos em luto. Isso é algo natural e é fundamental o vivenciarmos para conseguimos dar continuidade a nossa vida.

Por mais dolorido que seja, a vida continua para os que ficam e para que essa vida seja plena, os enlutados precisam aceitar a ausência dessa pessoa. No entanto, a aceitação não ocorre de um dia para outro, e cada pessoa tem o seu tempo, mas é importante ter em mente que o objetivo do luto é superar o ocorrido, para conseguir seguir em frente.

Quem já passou pela experiência de perder alguém próximo, seja por morte ou separação, sabe que a dor tem proporção maior quando chega o momento de organizar os pertences de quem faleceu, principalmente se for um parente ou alguém muito próximo.

Olhar para o porta retrato, entrar no quarto, abrir o armário, ver as roupas, documentos e pertences pessoais; o que antes era rotineiro passa a ser algo dilacerante e paralisante. Sentimos uma lacuna imensa com a partida de alguém, e muito além do vazio sentimental existe o vazio físico, e como somos seres muito apegados ao material, acabamos substituindo essa falta com pertences de quem nos deixou.

Para o enlutado, é como se aquela camisa, antes sem a menor importância, passasse a ser um pedaço da presença física de quem se foi. Nesse momento, contar com a ajuda de um personal organizer pode fazer toda diferença, amenizando toda a dor neste processo.

Nós, como profissionais da organização, auxiliamos com muita discrição e respeito a reorganização do espaço para que a rotina aos poucos vá voltando ao “novo normal”. Faz parte de todo o procedimento o cuidado com os familiares envolvidos, levando sempre em conta a dor da ausência e a necessidade de criar uma forma em que a organização se dê sem o envolvimento pessoal do luto.

Não basta apenas selecionar, separar e categorizar as peças, indicamos lugares onde se possam fazer as doações, isso para que os familiares se sintam mais acolhidos. É igualmente importante que se atente para quais sentimentos do enlutado que estão envolvidos no processo de redestinar os objetos do falecido.

Pessoas enlutadas que passam pela fase da raiva podem querer descartar tudo aleatoriamente na tentativa de extravasar um sentimento muito intenso, por exemplo, mas cabe a nós esperarmos o tempo que for preciso para a compreensão do enlutado diante do nosso papel ao qual fomos contratados, aí há entendimento e continuamos o processo.

O personal organizer não se limita a organizar espaços físicos, além disso, fizemos um diagnóstico do ambiente ou uma análise minuciosa, da personalidade e do estilo de vida de cada cliente naquele ambiente, criando ou reestruturando processos ou organização de tarefas em espaços residenciais ou empresariais.

A organização é essencial nestes casos, pois quando tudo está em ordem do “lado de fora”, é mais fácil de internalizar a ordem para “o lado de dentro”.

Luto: definição

O luto é um conjunto de reações de uma pessoa após uma perda significativa em sua vida; certamente é um momento muito delicado e sensível; um período de recolhimento e isolamento voluntário. É o processo que se inicia com uma perda e segue até sua completa finalização, quando o enlutado aceita a perda.

Cada enlutado reage de uma maneira a esse luto, da mesma forma que a duração também é diferente para cada pessoa. É igualmente importante que a perda não seja reprimida, pois o luto precisa ser vivenciado para que a superação aconteça.

Uma das características mais frequentes entre os enlutados é o isolamento com a diminuição do interesse pelo convívio social e pelas atividades antes rotineiras. Também, é absolutamente comum sentimentos como: estado de choque, culpa, remorso, negação, depressão, desespero, hostilidade, revolta, falta de interesse a tudo, crises de choro e dor profunda.

De qualquer forma, é importante perceber e respeitar a dimensão emocional do sentimento, pois precisa ser vivido para ter cura.

Tipos de luto:

Você sabia que o luto por morte não é o único tipo? Confira alguns:

  • FALECIMENTO DE UM ENTE QUERIDO;
  • MORTE DO ANIMAL DE ESTIMAÇÃO;
  • SEPARAÇÃO OU DIVÓRCIO;
  • PERDA OU TRANSFERÊNCIA NO EMPREGO;
  • RUPTURA DE UMA GRANDE AMIZADE;
  • MUDANÇA NO PADRÃO DE VIDA;
  • PERDAS FINANCEIRAS (objetos e imóveis);
  • ENCERRAMENTO DE NEGÓCIO OU SOCIEDADE;
  • MUDANÇA DE CASA, ESCOLA OU DE DOMICÍLIO (cidade, estado ou país);
  • SÍNDROME DO NINHO VAZIO;
  • QUARENTENA;

Enfim, o luto envolve sempre situações difíceis de rupturas, que nos tiram da zona de conforto, nos propondo e obrigando, de alguma forma, a um recomeço.

Fases do luto

O luto passa por cinto estágios bem definidos, antes de alcançar uma aceitação da morte ou ruptura, mas cada indivíduo tem sua própria trajetória, reagindo de uma forma única e a seu tempo.

Os cinco estados mentais do luto são referências para entender como acontece a evolução do enlutado:

  • FASE DA NEGAÇÃO E ISOLAMENTO

Independentemente de como o enlutado tomou conhecimento da morte ou ruptura, funciona como um amortecedor para superar tal situação. Nesta etapa o mundo perde o sentido e se torna esmagador, deixando o enlutado confuso, anestesiado, em choque e em negação.

Também é comum nesse momento, que ocorra o isolamento como uma necessidade do enlutado para processar a realidade. Quando o enlutado se sentir pronto, voltará ao convívio, e nesse momento, caberá a nós, termos uma escuta respeitosa e acolhedora.

  • FASE DA RAIVA

Ela surge quando não é mais possível negar o fato que desencadeou o luto, aflorando de maneira intensa, sentimentos como revolta, culpa e ressentimento. A raiva para o enlutado é uma genuína manifestação da dor que sente e, embora tenha esta característica destrutiva, é uma parte importante do processo de luto, pois permite que o enlutado saia do seu mundo interno e volte aos poucos, para o mundo externo.

  • FASE DA NEGOCIAÇÃO

Aqui, o enlutado negocia consigo mesmo, na clara tentativa de aliviar a dor e justificar possíveis soluções para superar.

Essa fase é aliada da culpa, do escape da mente para pensar sobre o que poderia ter sido feito para evitar a perda, mas não foi realizado.

  • FASE DA DEPRESSÃO

Nesta fase, ocorre a reclusão do enlutado para o seu mundo interno, onde ele passa a se isolar e a se considerar impotente diante do luto. Geralmente, é a fase mais duradoura e intensa do processo do luto, caracterizada por um sofrimento avassalador.

Esse estágio inclui sentimentos de debilitação e tristeza acompanhados de profunda solidão e saudade. A depressão é percebida quando o enlutado se depara de fato com a realidade e entende que a situação não mudará e que ele terá que conviver com a perda definitiva.

É a partir deste momento que o indivíduo começa a lidar, verdadeiramente, com o fato ocorrido.

  • FASE DA ACEITAÇÃO

Após externar sentimentos de angústia, revolta, tristeza, indignação e solidão, a tendência é que o enlutado aceite a perda com serenidade. O enlutado que já conseguiu vencer os estágios anteriores, chega agora ao momento em que a dor se transformou em saudade, e se mostra disposto a vivenciar a perda, tendo condições de reorganizar e recomeçar sua vida.

Um processo de luto que é bem sucedido, finaliza quando o enlutado consegue superar a perda e seguir em frente com novos propósitos e objetivos. O enlutado não esquece o ente querido, as lembranças e a ausência continuarão em sua existência.

Entretanto, a perda não vai mais ocupar um lugar de destaque na vida.

SERVIÇOS QUE O PERSONAL ORGANIZER PODE PRESTAR NO PÓS-LUTO E PÓS-RUPTURAS

  • AVALIAÇÃO DO ACERVO, incluindo os itens que vão ser mantidos e guardados, os que vão ser entregues aos membros da família e os que irão ser doados ou vendidos;
  • SUPERVISÃO DO EMPACOTAMENTO E A ENTREGA DOS ITENS que forem direcionados para os membros da família como forma de lembrança, bem como, dos artigos que serão doados;
  • DIRECIONAMENTO DOS OBJETOS QUE SERÃO COLOCADOS À VENDA;
  • INDICAÇÃO E CONTRATAÇÃO DE PROFISSIONAIS para realizarem possíveis reparos antes da entrega ou venda do imóvel; limpeza geral do espaço; ou ainda, decoradores para alterar a configuração do novo espaço no imóvel caso o enlutado permaneça na mesma residência;
  • DIGITALIZAÇÃO DE DOCUMENTOS E OBJETOS DO FALECIDO, isso garantirá que as lembranças permaneçam vivas sem a necessidade de ocupar um espaço físico; além de permitir que todos os enlutados possam ter uma cópia dessas lembranças;
  • TREINAR OS RESPONSÁVEIS PELA MANUTENÇÃO DA ORGANIZAÇÃO;
  • PLANEJAR AS TAREFAS DE LIMPEZA E READEQUAÇÃO DO QUADRO DE FUNCIONÁRIOS DOMÉSTICOS;
  • GESTÃO DOMÉSTICA;

Sem dúvida nenhuma, o personal organizer pode prestar um trabalho extraordinário, pois a ideia é proporcionar aos enlutados um certo alívio e acolhimento, não deixando a eles tais incumbências, permitindo assim que possam viver esse momento de dor, com o menor sofrimento e maior rapidez possível.

Espero que vocês tenham gostado do texto.

Até a próxima coluna.

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