Mercado de capitais é peça fundamental para o desenvolvimento de um país

Há uma percepção equivocada disseminada em alguns segmentos da sociedade de que o mercado financeiro é meramente uma engrenagem de extração de recursos da sociedade em favor da elite econômica, tanto nacional quanto internacional. Essa ideia foi até mesmo ecoada pelo próprio Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tanto durante sua campanha presidencial em 2018 quanto em seu mandato como Ministro.

Em um episódio emblemático, quando a cotação do dólar subiu após sua ascensão nas pesquisas eleitorais, ele rotulou o movimento como “terrorismo de mercado”. Mais recentemente, em 2023, após assumir o cargo de Ministro da Fazenda, ele atribuiu a volatilidade no mercado cambial e de ações à ansiedade da “meninada que fica na frente do computador, dando ordem de compra, ordem de venda”.

Mercado de capitais

Fica incerto se tais declarações refletem uma falta de compreensão sobre o funcionamento do mercado financeiro por parte do Ministro ou se são impulsionadas por suas convicções ideológicas. No entanto, dada a significância do mercado financeiro para o desenvolvimento econômico de uma nação, é crucial desmistificar a perspectiva equivocada do Ministro.

Em primeiro lugar, é crucial esclarecer que o mercado de capitais desempenha um papel fundamental em uma economia capitalista. Ele é responsável por alocar com muita eficiência uma parte significativa do capital acumulado pela sociedade. O termo “eficiência” é central para compreender sua importância.

Embora haja um intenso debate acadêmico sobre a completa eficiência dos mercados financeiros, é inegável que eles representam o meio mais eficaz para transformar a poupança da sociedade em investimentos tangíveis e produtivos. Por meio do mercado de capitais, qualquer indivíduo pode participar da geração de valor de grandes empresas, financiar a dívida governamental e até mesmo investir em obras de infraestrutura.

Vantagens para a sociedade

Muitos poderiam argumentar que tais investimentos poderiam ser realizados sem a intermediação do mercado de capitais, de forma estritamente privada. No entanto, o mercado de capitais oferece grandes vantagens para a sociedade. Considere o exemplo de uma empresa que necessita de um investimento de R$ 10 bilhões para desenvolver uma nova linha de produtos. Quantos indivíduos teriam a capacidade financeira de realizar aportes desse porte na empresa, mesmo que o investimento fosse dividido entre dezenas de investidores?

Até mesmo bancos ficariam receosos em oferecer um empréstimo, já que um calote dessa magnitude colocaria em risco sua própria estabilidade financeira. Agora, imagine que essa mesma empresa tenha a possibilidade de emitir novas ações ou dívida no mercado público de capitais. Nesse cenário, milhares de investidores poderiam contribuir com quantias menores, mas somadas alcançariam a cifra bilionária necessária para a expansão da empresa.

O mercado de capitais desempenha um papel crucial na resolução de outro desafio: a liquidez. Suponha que você precise vender suas ações rapidamente para realizar outro investimento ou efetuar um pagamento pessoal. Sem o mercado de ações, você teria que encontrar um comprador para suas ações, o que provavelmente resultaria em um desconto substancial em relação ao seu valor de mercado, além de enfrentar um processo burocrático demorado para concluir a transação.

Por outro lado, no mercado de ações, você pode liquidar sua posição praticamente instantaneamente, facilitando consideravelmente a execução de suas demandas financeiras. Consequentemente, até mesmo os tão criticados “especuladores” contribuem para sociedade ao aumentar ainda mais a liquidez do mercado.

Benefícios

Poder-se-ia dedicar um livro inteiro aos benefícios do mercado de capitais. No entanto, há dois pontos fundamentais que merecem destaque: transparência e informação. Qualquer ativo negociado nos mercados de capitais deve ter uma ampla gama de informações essenciais divulgadas para os investidores tomarem suas decisões. Essa transparência reduz as incertezas dos investidores, o que, por sua vez, diminui o custo de capital para as empresas atuantes nesse mercado. Além disso, o próprio preço das ações, derivativos e títulos de dívida são informações valiosas que refletem a compreensão agregada dos investidores sobre o futuro da economia, das empresas e dos governos.

Assim sendo, quando o dólar sobe, a bolsa cai e os juros dos títulos da dívida pública aumentam, Haddad não deveria rotular isso como “terrorismo de mercado”. Essas flutuações indicam a expectativa agregada de todos os agentes econômicos de que a política econômica está seguindo um caminho desfavorável. Consequentemente, é crucial para o bom funcionamento da economia e dos mercados de capitais que as políticas econômicas sejam percebidas como críveis pelos investidores. Essencialmente, os investidores estão tentando precificar o futuro diante de incertezas.

É claro que o mercado de capitais não é perfeito, assim como nenhuma outra coisa na vida. Existem casos de fraudes corporativas, abuso de informações privilegiadas e outros crimes que minam a confiança no mercado financeiro. No entanto, ataques infundados não resolverão esse problema. O Brasil necessita de um mercado de capitais maior, mais sofisticado e com maior credibilidade para prosperar. É inaceitável que o país tenha hoje menos empresas listadas em bolsa do que em 1996.

Economias como a dos Estados Unidos são robustas porque contam com mercados de capitais vibrantes que direcionam recursos para os setores mais produtivos da economia, impulsionando o crescimento, o emprego e a renda para a sociedade. Em uma economia capitalista, o sucesso econômico está intrinsecamente ligado ao acesso ao capital. Rejeitá-lo seria uma trilha rumo ao fracasso. O mercado financeiro gera, sim, valor para a sociedade. É hora de abandonar os estigmas e reconhecer o papel vital que o mercado de capitais desempenha em nosso progresso coletivo.

As opiniões do colunista não refletem, necessariamente, a opinião do Portal SCC10

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