América Latina perde um de seus maiores líderes, Sebastián Piñera

A última semana no Chile foi marcada por acontecimentos trágicos. O país andino enfrentou um incêndio devastador que tirou a vida de mais de 130 pessoas. Além disso, agravando o luto com um golpe adicional: a perda de um de seus grandes líderes, Sebastián Piñera.

A morte do ex-presidente em um acidente de helicóptero em 6 de fevereiro chocou a sociedade chilena, a qual enfrenta um dos períodos políticos mais turbulentos de sua história. Piñera, conhecido por sua sabedoria e prudência, deixa um vazio na política chilena e um legado de liderança que poderia ter continuado a guiar o Chile e a América Latina para um caminho de maior liberdade e prosperidade.

Vida e estudos de Sebastián Piñera

A vida de Sebastián Piñera está intrinsicamente ligada à história recente do Chile. Nascido em 1949 em uma família profundamente envolvida na política, Piñera herdou um legado de serviço público. Seu pai, José Piñera Carvallo, serviu como embaixador chileno, enquanto seu irmão mais velho, José Piñera, assumiu cargos ministeriais em Mineração e Trabalho e Previdência Social, implementando importantes reformas orientadas para o mercado, especialmente o estabelecimento de um sistema previdenciário de capitalização.

Além disso, seu irmão mais novo, Pablo Piñera, ocupou posições significativas no setor público do Chile, como membro do Conselho do Banco Central e como gerente geral do banco estatal BancoEstado. No entanto, a trajetória de Sebastián Piñera inicialmente se afastou do caminho de sua família, indo em direção ao setor privado.

Carreira

Após concluir seu doutorado em Economia em Harvard, Piñera embarcou em uma carreira multifacetada na academia e no mundo corporativo. Sua incursão nos setores de consultoria e bancário marcou o início de sua ascensão econômica. Notavelmente, ao garantir direitos de representação para Visa e MasterCard no Chile, ele conseguiu introduzir um moderno sistema de pagamento e crédito no país. Com esse negócio, ele elevou sua fortuna para casa dos bilhões de dólares.

Esse sucesso possibilitou que Piñera investisse em outros setores que vão desde aviação até mídia, do futebol até construção. Notavelmente, a ascensão financeira de Piñera foi um reflexo do sucesso econômico chileno, impulsionado por reformas de livre mercado que criaram um ambiente propício para empreendimentos empresariais. Em contraste com as tendências corporativistas predominantes na América Latina, as políticas econômicas liberais do Chile forneceram terreno fértil para que indivíduos como Piñera florescessem independentemente da intervenção estatal.

Presidência

Em 2010, Sebastián Piñera assumiu o cargo de Presidente do Chile, sendo o primeiro presidente de direita do país após a democratização. No entanto, sua posse ocorreu em meio a um cenário de adversidades sem precedentes. O Chile havia acabado de ser abalado por um terremoto devastador de magnitude 8,8, apresentando a Piñera um teste imediato de liderança. Além disso, ele enfrentou desafios significativos adicionais durante seu mandato, incluindo o acidente na mina de Copiapó, que viu 33 mineiros presos na mina por mais de dois meses. Em última instância, o talento de Piñera para lidar com essas crises cimentou sua reputação como um gerente de crises capaz.

O primeiro mandato de Piñera (2010–2014) também testemunhou conquistas econômicas notáveis, apesar dos formidáveis obstáculos que ele enfrentou. As políticas pró-mercado de sua administração desempenharam um papel crucial em sustentar o robusto crescimento econômico do Chile durante esses anos. Em seu primeiro mandato, Piñera demonstrou sua habilidade no gerenciamento de crises e deixou uma marca positiva sobre a economia do Chile, contribuindo para um período de prosperidade que caracterizou seus primeiros anos no cargo. Quando ele deixou seu primeiro mandato, o Chile estava caminhando para a condição de país desenvolvido.

Em 2018, Piñera voltou à presidência após um hiato de quatro anos, mas assumiu o cargo em uma situação econômica muito pior do que em 2014. Apesar das condições macroeconômicas estáveis ​​do Chile, o país estava preso em uma trajetória de baixo crescimento. Esse declínio foi atribuído em parte a fatores globais, incluindo taxas de crescimento mais baixas e demanda reduzida da China por commodities. No entanto, as políticas econômicas implementadas pela administração anterior de Michelle Bachelet exacerbaram o declínio. Medidas como o aumento dos impostos corporativos para 30%, maior gasto público e maior rigidez na legislação trabalhista tiveram um papel na supressão do crescimento econômico.

Instabilidade

Em 2019, o segundo mandato de Sebastián Piñera começou a desmoronar em meio a uma agitação social sem precedentes, mergulhando o Chile em profunda instabilidade econômica e social. O subsequente início da pandemia ainda derrubou qualquer esperança de reacender o crescimento no país. A agitação social liderada pela extrema-esquerda refletiu os principais erros políticos de Piñera, mas também uma de suas melhores características de personalidade. Por um lado, Piñera cometeu um grande erro ao propor um plebiscito para realização uma nova constituinte e ao implementar políticas que aprofundariam as políticas econômicas falhas de Bachelet, expandindo o estado de bem-estar sem um ambiente econômico propenso ao crescimento. Por outro lado, seu comportamento em busca da conciliação expôs sua grande qualidade como democrata convicto — talvez mostrando até mesmo alguma ingenuidade em não reconhecer que muitos de seus oponentes políticos não aspiravam à democracia.

Infelizmente, Sebastián Piñera concluiu seu segundo mandato como o presidente mais impopular do Chile em meio a uma ampla incerteza política e econômica. Apesar de seus erros durante seu mandato, ele permaneceu uma figura respeitada na política latino-americana, servindo como um farol de liderança em uma região frequentemente dominada por figuras populistas. Ao longo de ambos os mandatos, ele buscou uma abordagem tecnocrata, visando elevar o Chile às fileiras das nações desenvolvidas. Suas ações consistentemente refletiram seu compromisso com o que ele acreditava ser os melhores interesses de sua nação — um sentimento reconhecido até mesmo por seus adversários políticos.

Virtudes e falhas

Sebastián Piñera, como qualquer humano, possuía virtudes e falhas. Embora eu não possa falar sobre sua vida pessoal, seu legado político revela um líder caracterizado por um compromisso com princípios que ressoam profundamente na América Latina. A defesa inabalável de Piñera pela liberdade lhe rende um respeito duradouro aos meus olhos. Como figura conciliadora, ele priorizou uma abordagem tecnocrata ao governo em vez de se envolver em discussões culturais mais amplas. Em busca de compromisso político, às vezes ele colocou em risco suas convicções.

No entanto, em seus esforços pós-governo, principalmente por meio de sua advocacia dentro do “Grupo Libertad y Democracia”, ele demonstrou um reconhecimento crescente da necessidade de infundir o discurso político com os ideais de liberdade. A liderança de Piñera continuaria relevante para moldar a trajetória futura da nação à medida que o Chile se aproxima de outra eleição geral e lida com a perspectiva de uma nova constituição. Com o Chile sem Piñera, caberá aos futuros líderes do país proteger seu legado mais significativo: a defesa da liberdade.

• As opiniões do colunista não refletem, necessariamente, a opinião do Portal SCC10

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