Alysson Paolinelli, um grande brasileiro

No Brasil, é uma prática comum criticar tudo o que vem do setor público e essa postura crítica não é sem motivo. Diante dos inúmeros casos de corrupção, políticas públicas ineficientes e abusos das lideranças políticas, o país perde oportunidades de desenvolvimento, o que nos leva a questionar a capacidade do governo de implementar ações que genuinamente melhorem a vida da população. No entanto, é importante reconhecer que essa aversão ao Estado muitas vezes nos impede de enxergar as lideranças políticas que realmente promovem o bem-estar da população. Por essa razão, considero essencial relembrar histórias de sucesso, pois isso nos permite resgatar a esperança no progresso do país.

O falecimento de Alysson Paolinelli, há duas semanas, despertou em mim uma profunda reflexão sobre a injustiça que o Brasil comete ao negligenciar aqueles que tanto contribuíram para a nação. Durante toda a minha juventude, nunca ouvi falar desse ilustre brasileiro, considerado o maior Ministro da Agricultura da história do país. Foi somente quando tive a oportunidade de estudar no exterior que descobri a incrível história de transformação da agricultura nacional, idealizada por esse visionário.

Explorar a história da agricultura na década de 1970 foi uma experiência extremamente enriquecedora. Percebi que minha compreensão anterior, baseada nas aulas de história, de que o Brasil sempre fora uma potência agrícola, estava equivocada. Embora a agricultura tenha desempenhado um papel central desde os tempos da colonização, a realidade havia mudado significativamente no século XX. Com o crescimento populacional exponencial, o país se tornou um importador líquido de alimentos, incapaz de suprir as necessidades de sua própria população. Isso colocou em risco a segurança alimentar do Brasil.

Foi com a missão de reverter essa realidade que Alysson Paolinelli assumiu o cargo de Ministro da Agricultura do Brasil em 1974. Consciente de que a transformação da capacidade agrícola do país era essencial, Paolinelli vislumbrou a necessidade de expandir a fronteira agrícola em direção ao Centro-Oeste e modernizar as técnicas de produção. Ele compreendeu que apenas por meio do aumento da produtividade e da expansão das áreas de cultivo, o Brasil poderia se firmar como uma verdadeira potência no agronegócio.

No entanto, essa jornada de desenvolvimento não seria tão simples como em outras nações. O Cerrado, com suas condições climáticas e características de solo desafiadoras, apresentava obstáculos significativos. Foi nesse contexto que a criação e o progresso da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) se tornaram fundamentais, visando o desenvolvimento de tecnologias que impulsionassem o sucesso da produção agrícola no país. Na década de 1970, o Brasil tinha poucos cursos de agronomia e, consequentemente, uma escassez de mão de obra qualificada. Diante dessa realidade, uma das iniciativas notáveis de Paolinelli foi investir na formação de jovens brasileiros no exterior, a fim de adquirirem conhecimentos avançados em ciências agrárias e, posteriormente, aplicarem esse conhecimento no contexto brasileiro.

Com o passar dos anos, os resultados das políticas implementadas por Paolinelli se mostraram incontestáveis. Os produtos agrícolas se tornaram a principal força exportadora do país, gerando importantes divisas para a economia brasileira. Atualmente, o Brasil é responsável por alimentar cerca de um bilhão de pessoas ao redor do mundo. O setor do agronegócio, que engloba não apenas a produção agropecuária, mas também uma vasta gama de serviços e indústrias, representa mais de 25% do PIB brasileiro. Além disso, o aumento exponencial da produtividade agrícola reduziu significativamente a parcela de gastos destinados a alimentos nos orçamentos familiares, permitindo que as famílias direcionassem recursos para a compra de outros produtos e serviços de diversos setores da economia.

O gráfico a seguir ilustra claramente o notável desenvolvimento do setor agrícola do país a partir da década de 1970.

Índice de Produtividade Agrícola do Brasil: 1961 – 2014

Embora seja pouco citado no Brasil, Alysson Paolinelli é amplamente reconhecido internacionalmente. Em 2006, ele foi laureado com o World Food Prize, conhecido como o “Prêmio Nobel da Agricultura”, concedido a indivíduos que promovem avanços significativos no desenvolvimento humano por meio de ações que melhoram a qualidade, quantidade e disponibilidade de alimentos no mundo. Em 2021, Paolinelli foi até mesmo indicado ao Prêmio Nobel da Paz, devido às suas contribuições para a agricultura brasileira e, consequentemente, para a segurança alimentar global. Seus feitos notáveis têm sido amplamente reconhecidos e celebrados fora do país.

Alysson Paolinelli deixou um legado transformador no Brasil. Portanto, é de extrema importância manter vivos na memória da população os seus feitos. Ele demonstrou que políticas públicas bem executadas podem transformar a realidade de um país. A história de Paolinelli é, em última instância, uma fonte de esperança para a população e deve servir de inspiração para políticos e servidores públicos. Se hoje o Centro-Oeste, antes uma das regiões menos desenvolvidas e povoadas do Brasil, impulsiona o PIB nacional, muito se deve a Paolinelli. Se hoje os gastos com alimentos consomem uma proporção menor do orçamento familiar, também é graças a Paolinelli. Ele foi um grande brasileiro e seus feitos na agricultura do país perdurarão eternamente.

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