Qual a melhor rolha para vinho?

O título enuncia uma das perguntas mais frequentes escutadas em enotecas e restaurantes: Qual a melhor rolha para vinho ? Junto dela, também provavelmente esteja alguma pergunta referente ao tamanho do vedante. E então, afinal, qual o veredito?

Nunca é meu objetivo aqui fazer recorridos acadêmicos robustos, o que faço é tratar de trazer fatos científicos em uma linguagem acessível e prática. Garanto, porém, que todas as afirmações baseiam-se em evidências científicas. Dito isto, vamos ao cerne de nosso tema.

Rolha de cortiça

A primeira questão que precisa ser abordada é, na realidade, por que cortiça? Um rápido retrospecto nos mostra que as primeiras vedações eram algo como pedaços de madeira ou panos comprimidos, ou mesmo a mistura dos dois, e não é preciso pensar muito para entender que esses vedantes estavam longe de ser satisfatórios.

Ora, pois, não se poderia substituir a madeira, dura e nada elástica, pela parte interna da casca das árvores? A partir daí iniciou-se uma verdadeira nova era da vedação e do envelhecimento dos vinhos, visto que o oxigênio facilmente penetrava as demais vedações, impedindo o adequado envelhecimento do vinho e causando sua oxidação, em contraste com as etapas redutivas que se esperam nas situações ideais.

As rolhas maciças de cortiça basicamente são feitas a partir da casca extraída do sobreiro, da qual se aproveita a parte interna, composta de suberose, um tecido rico em alvéolos de ar, com veios por onde flui seiva no sentido de crescimento da árvore, recoberta por suberina, uma espécie de cera que dá aspecto brilhante às rolhas.

De uma forma simplificada, a casca é cortada em tiras equivalentes ao comprimento das rolhas, em sentido contrário ao do crescimento, permitindo melhor maleabilidade e efeito elástico e vedante. Nessas tiras, insere-se moldes metálicos cortantes, formando a rolha.

Após ser formada, trata-se a rolha de alguma forma, afinal, é um produto agrícola saído do campo e, como tal, carrega uma série de micro-organismos, dentre eles, alguns nocivos aos vinhos.

É também classificada, quando nem todas são as da mais alta qualidade, bem como algumas não poderão ser aproveitadas. Daí se compreende que elas variem sensivelmente de preço, embora sejam praticamente iguais do ponto de vista visual.

Mas toda rolha de cortiça tem qualidade ?

A primeira observação a ser feita, em termos práticos, é que nem toda rolha de cortiça dos vinhos que abrimos em casa, por mais parecidas que sejam, é, de fato, da melhor qualidade.

Começamos por aqui, portanto, a tentar desmistificar que somente a rolha de cortiça é boa. Mesmo porque não temos apenas um tipo, mas vários, e com diferentes potenciais de vedação e manutenção da qualidade do vinho, adequados para diferentes situações e tipos de vinhos.

Contudo, o sobreiro, nome da árvore da qual se extrai a cortiça, é um tipo de carvalho que não cresce bem em qualquer lugar, necessitando de calor e umidade.

Além disso, em média, necessita de 25 anos para ter a primeira extração. Essa primeira extração não apresenta boa vedação, e somente dali a cerca de uma década pode ser extraída novamente. Daí em diante, são feitos ciclos periódicos de extração no mesmo período aproximado, tendo-se aproveitamento conveniente até próximo aos 100 anos da planta.

Ora, com uma planta que demora a produzir e não tem ciclos eternos, desenvolvendo-se em áreas específicas, não é difícil imaginar que a sede dos consumidores de vinho do mundo todo seja maior que a capacidade produtiva do sobreiro. Não esqueçamos também das pressões ecológicas e do aumento do chamado consumo consciente. Quais as alternativas possíveis? Pois bem, esse é o tema do nosso próximo encontro, caro leitor!

Santé!

por Jucelio K. Medeiros

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