Gustavo Maresch

Bacharel em Gastronomia e mestre em Turismo e Hotelaria. Atualmente é chef de cozinha do Kraft Wine Bar.


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Gustavo Maresch

La dolce vita! Conheça o mundo do vinho suave

Conheça como é feito o vinho tinto suave, bem como os mitos e verdades associados a essa bebida.

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Fonte: Freepik
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Quem nunca tomou um vinho suave, que atire a primeira rolha! E quem já tomou, mas nega, que atire também! O assunto é uma espécie de tabu já que, pretensamente, quem gosta de vinho suave não entende de vinho, entre outros argumentos que, em sua maioria, não fazem sentido. Por isso, hoje tratarei do assunto.

O vinho de mesa suave é, frequentemente, um vinho seco adicionado de açúcar, seja através de “suco” (mosto) concentrado, seja através de sacarose. Não há nenhum ilícito nisto. Ou seja, uvas foram processadas, os açúcares disponíveis, naturais ou adicionados, foram convertidos em álcool na fermentação alcoólica, e o vinho tornou-se seco.

Partindo-se de um vinho seco, se o desejado for um vinho meio seco (demi-sec) ou suave, é feita a adição de açúcar até o nível desejado. No Brasil, o vinho seco pode ter até 4 gramas de açúcar por litro. Acima disso e até o limite de 25 gramas, é considerado meio seco. A partir daí, é suave, sendo que, se for de uvas de origem europeia, as chamadas viníferas, o limite superior é de 80 g/L.

O açúcar do vinho tem de ser necessariamente adicionado?

Quase que absolutamente, sim. Alguns, nesse momento, hão de dizer que existem vinhos com doçura natural, resultante de sobra da fermentação, provavelmente citando como exemplos vinhos de colheita tardia ou mesmo o Espumante Moscatel. A questão é que esses vinhos são elaborados de modo diferente dos de mesa.

Nos vinhos de colheita tardia, como o nome sugere, a uva madura permanece no vinhedo até perder considerável volume de água e adquirir mais açúcar, em quantidades variáveis. A quantidade de açúcar é tamanha que as leveduras não conseguem terminar de fermentá-lo, chegando à exaustão e cessando a fermentação ainda com açúcares no vinho. Nessas condições, porém, provavelmente o vinho tenha mais álcool do que para ser considerado de mesa (8,6 a 14 %), ou tenha o teor de açúcares abaixo do desejado. Muito além disso, o preço de uvas sobremaduras aumenta consideravelmente, o que faria exceder o patamar de valor máximo atual de R$ 40,00 – R$ 50,00 por garrafa de vinho suave.

Em relação ao Espumante Moscatel, embora possa receber açúcar exógeno para aumento da doçura, muitas vezes não é necessário. Contudo, este é um produto com menor teor alcoólico (7 a 10 %), com uma fermentação intencionalmente interrompida, o que garante mais açúcares disponíveis no produto final, uma vez que não foram convertidos em álcool.

Foto: Freepik.

Vinho suave é vinho ?

Muitas pessoas afirmam que “vinho suave não é vinho”, o que não tem a menor base tecnológica e científica, provavelmente por preconceito. Talvez esqueçam ou desconheçam que a adição de açúcar é prática corrente em espumantes que contenham pouco mais do que dois ou três gramas de açúcar por litro, incluídas, portanto, as categorias Extra Brut (3,1 a 8 g/L), Brut (8,1 a 15g/L) e Seco (15,1 a 20 g/L). Em nenhum dos casos, o espumante é menos espumante, ou menos ainda, deixa de sê-lo por ter recebido açúcar.

Uma afirmação que deve ser vista com parcimônia é “vinho suave é feito de restos”. Antes de responder diretamente, é necessário dizer que o açúcar encobre tanto pequenas “arestas” (acidez excessiva, amargor, etc) ou até mesmo algum defeito, quanto qualidades. Daí, podemos depreender que, se esconde qualidades, que motivo teria um produtor para usar seus melhores vinhos na elaboração de um vinho suave?

Por outro lado, se pequenas “imperfeições” podem ser encobertas, qual o motivo para apostar que um vinho assim sair-se-ia bem como seco? Portanto, é provável que o nível de qualidade do vinho suave realmente não seja o máximo, o que não significa nem que é um produto ruim, nem que é de restos.

Fonte: Pixabay

Qualidade inferior?

E sim, a possibilidade dos restos existe, pois se não forem bons, são mascarados com os açúcares, e se forem bons, pouco influenciam se misturados a um lote maior de vinho a ser adoçado, ou talvez até bonifiquem a qualidade. As sobras são comuns na prática da vinícola ao se movimentar vinhos, filtrar, fazer cortes, dentre outras situações, e isso não indica má qualidade. Vale lembrar, mais uma vez, que o preço médio de um suave é baixo, e que dificilmente alguém estaria propenso a gastar mais por uma promessa de maior qualidade.

É importante saber que muitos (quiçá todos) os consumidores de vinhos secos e encorpados passaram, em algum momento, por um estágio de vinhos mais simples e menos secos. A simbólica garrafa azul de brancos doces dos anos 90 é testemunha disso. Entender o papel que esses vinhos podem ter na iniciação do consumidor de vinho é verdadeiramente torcer pela democratização da bebida de Baco.

O que é necessário, em definitivo, é respeitar o gosto dos outros, e inclusive o nosso próprio. Se o vinho que agrada é mais barato, mais simples, suave, é esse que deve ser comprado. Não é segregando os bebedores de vinhos suaves que sairemos do pífio consumo per capita nacional.

Santé!

por Jucelio K. Medeiros


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