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Destruição

“Apagou parte da nossa história”, diz moradora após casa ser coberta pela enchente em Canoas

Quanto vale tudo que está dentro de sua casa? Geladeira, fogão, televisão, mesas, roupas, brinquedos, mas, principalmente, memórias?

• Atualizado

Vitória Hasckel

Por Vitória Hasckel

Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

A água que invadiu as residências no Rio Grande do Sul nas últimas semanas deixou uma perda incalculável ao povo gaúcho. E não levou apenas bens materiais, mas levou embora lembranças, fotos de família, desenhos dos filhos pequenos, roupinhas infantis guardadas com carinho e cuidado.

Moradora de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, Manoela Rebello Griebeler perdeu tudo que tinha. Ela, que é mãe de três meninas pequenas, nem imaginava que em dois dias a água da maior enchente já enfrentada no Rio Grande do Sul subiria rapidamente e cobriria por mais de dez dia a residência de sua família.

“Tudo que eu tinha dentro de casa se perdeu. A geladeira, que comprei em dezembro e ainda estamos pagando, está de molho há onze dias em uma água podre e fedorenta. São coisas que a gente cuidava, preservava. Perdemos uma vida toda de trabalho dentro da água, tudo que adquirimos, cada coisa que estava dentro da casa, cada brinquedo que tínhamos apego, a água levou”, conta Manoela, emocionada!

Veja como ficou a residência após enchente em Canoas:

“Não são só bens materiais. Os desenhos das meninas, o HD antigo com fotos e vídeos delas pequenas, o primeiro álbum de bebê, as fitinhas do hospital: tudo isso, todas essas lembranças foram embora. É como se apagasse uma parte da nossa história”.

As filhas ainda não sabem sobre a gravidade da situação no Rio Grande do Sul. Por serem pequenas, Manoela e o marido Ezequiel preferiram não falar e assim preservar o psicológico das crianças. No dia das mães, a família conseguiu estar reunida mesmo em meio ao caos em Canoas.

“Matei a saudade mas já estou voltando pra linha de frente, encarar tudo aquilo que precisamos enfrentar para voltarmos a estarmos juntos novamente”, escreveu Ezequiel, que está auxiliando no resgate de pessoas e animais em Canoas, nas redes sociais.

“Eu tentei não chorar na frente delas, não falei nada para não causar traumas na vida delas. A ficha vai cair quando verem a situação da casa. Por enquanto elas não viram, acham que vão voltar, que vai estar a bicicleta delas lá, a casinha de bonecas e tudo que elas tinham”, relata a mãe.

O início da chuva para a família de Manoela

A enchente em Canoas das últimas semanas era algo “inacreditável” de se acontecer para ela, para a família e para os vizinhos. “Nunca entrou água como deste vez, foi algo nunca visto na história de Canoas”, pontua.

No dia 2 de maio, a família Griebeler tinha um dia normal, uma vez que as chuvas começaram na Serra gaúcha, se estendendo pelo Vale do Taquari, cobrindo casas e comércios.

Apenas dois dias depois elas chegaram no Lago Guaíba, em Porto Alegre. As comportas, que circundam o rio na capital gaúcha, foram fechadas e deveriam proteger a cidade da água, mas não foram suficientes para barrar o avanço dela.

Em Porto Alegre, assim como em Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo, as águas subiram rapidamente, com ondas que pareciam do mar.

No bairro em que Manoela mora a água demorou a subir mas, quando começou, foi rápida. Ela e as filhas deixaram a casa na sexta-feira, dia 3 de maio, antes de ela ser coberta pelas águas, o que aconteceu no sábado (4).

“O meu sogro disse para eu pegar minhas filhas, ir dormir na minha sogra e não colocá-las em risco. E decidimos pecar pelo excesso”, relembra.

Antes de sair de casa, Manoela, o marido Ezequiel e as filhas erguerem brinquedos e móveis para, caso a água entrasse, não estragar os bens. Mas na madrugada de sexta para sábado, o que a família não imaginava aconteceu. A água subiu rapidamente e cobriu completamente a residência da família, estragando móveis, a casa e carregando com ela as memórias físicas daquele lar.

“Ficamos cuidando como estava a água pelas câmeras da casa, até que chegou um ponto que acabou a luz, mas já estava subindo na altura da grade. Foi questão de uma hora e meia para ela tomar conta. Uma conhecida que mora na mesma rua ficou mais 40 minutos e saiu com água no peito”, afirma Manoela sobre o início da enchente em Canoas.

“Foi um verdadeiro pesadelo, porque quando acordamos os nossos conhecidos estavam pedindo resgate. Nossos vizinhos foram resgatados de helicóptero. Foi aí que o pavor tomou conta de Canoas”, pontua.

Apagou parte da nossa história, diz moradora de Canoas após casas ser coberta pela enchente
Foto: Arquivo Pessoal

Ezequiel, esposo de Manoela, assim como centenas de gaúchos assumiram a frente dos resgates. Após conseguir jet skis e barcos, começaram a salvar conhecidos, desconhecidos e animais.

Até esta sexta-feira (15), a enchente tirou a vida de pelo menos 154 pessoas e deixou um rastro de destruição, com 540.192 pessoas desabrigadas em todo o estado do Rio Grande do Sul. Mas para Manoela, mesmo após mais de 15 dias de caos, o pior ainda não passou:

“A hora que a gente ver a água baixar e ver a realidade que está dentro de casa, isso sim vai ser um horror”.

“Tem muita gente mobilizada mandando água, cesta básica e roupa, mas temos muitas famílias desabrigadas, fora de casa e não adianta receber uma cesta básica e não ter uma geladeira e um fogão. Infelizmente a gente precisa de outras formas de ajuda porque não adianta eu ter uma cesta básica e não ter um fogão para cozinhar. A gravidade, ela é muito pior”, finaliza.

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