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Um ano após estouro, Rio do Brás segue poluído e sem previsão de despoluição

Com problema crônico de lançamento irregular de esgoto, o Rio do Brás se encontra hoje poluído e com a barra permanentemente fechada.

• Atualizado

Vitória Hasckel

Por Vitória Hasckel

Reprodução | SCC Meio-Dia
Reprodução | SCC Meio-Dia

É com tristeza no olhar, que moradores nativos de Canasvieiras, no Norte da Ilha de Santa Catarina olham para o Rio do Brás. Um olhar bem diferente do lançado décadas atrás quando moradores observavam pescadores com suas redes e tarrafas lançados no rio e pessoas nadando e se divertindo no local. Com problema crônico de lançamento irregular de esgoto, o curso de água se encontra hoje poluído e com a barra permanentemente fechada.

Nos últimos anos, o Rio do Brás ganhou as manchetes dos jornais após a barreira, construída pela Prefeitura de Florianópolis visando barrar que o mar e a água poluída do rio se encontrem, romper em pelo menos três ocasiões. O último rompimento da barreira de areia aconteceu em dezembro de 2022, em razão do elevado nível do rio, devido às fortes chuvas que atingiram Santa Catarina. O mesmo foi registrado em 2016.

Já em 2018, preocupados que o aumento do nível do Rio do Brás resultasse no alagamento das ruas do bairro, moradores desfizeram a barreira de areia. Nos três casos, o encontro do rio e do mar coincidiram com a água da praia de Canasvieiras ficando imprópria para banho, o que gerou reflexos no turismo e na economia da região.

Os rompimentos, assim como os impactos causados por eles, geraram um constante sentimento de preocupação. É a previsão de chuva intensa se concretizar, que moradores e comerciantes passam a se questionar se um novo estouro pode acontecer. “Nós entendemos que essa situação não pode perpetuar porque esse caso é recorrente. O clima está modificado, está mexido como se diz, e vamos ter muitos estouros do Rio do Brás, até que se ache definitivamente uma solução para esse problema. “, afirma Sardá.

URA e Limpeza do Rio do Brás?

A CASAN mantém duas Unidades de Recuperação Ambiental (URAs) em Florianópolis, sendo uma delas no Rio do Brás, que começou a operar em 2016. Os equipamentos atuam no controle dos poluentes conduzidos pela rede de drenagem, evitando que a água contaminada por esgoto irregular chegue até o rio.

O objetivo das URAs é fazer o tratamento da água contaminada. A unidade recebe o material da rede de drenagem que pode estar com esgoto irregular. Nas Unidades de Recuperação Ambiental esse líquido é tratado, para então ser lançado no mar ou no rio livre de impurezas.

De acordo com a CASAN, a URA do Rio do Brás trata cerca de 600 mil litros de água por mês. A partir da coleta no rio e em seus canais alimentadores, o equipamento faz a depuração, acelerando o processo de despoluição que ocorre na natureza. “A meta é colaborar com a recuperação da qualidade ambiental do Rio do Brás, que há décadas está com sua qualidade ambiental comprometida”, informou a Casan em 2022.

Atualmente, os esforços da Prefeitura de Florianópolis estão em ações para coibir o lançamento irregular de esgoto no Rio do Brás, como o “Se Liga na Rede” e a “Blitz Sanear”. Em 2022, a Blitz Sanear identificou 44 residências com inadequações na rede de esgoto em Canasvieiras, enquanto o Se Liga na Rede identificou 12 entre os dias 28 e 29 de dezembro, uma vez que o contrato de inspeções na região iniciou a partir dessa data. Já em 2023, até outubro, a Blitz Sanear identificou 23 e o Se Liga na Rede 412.

Aparecimento de tapete de macrófitas

A Secretaria de Meio Ambiente realiza a cada seis meses a limpeza da superfície do rio, para retirar as macrófitas, plantas aquáticas que indicam a presença de fósforo e nitrogênio, componentes que dificultam a oxigenação do rio e já criaram um “tapete verde” na superfície do Rio do Brás devido ao esgoto.

“A Prefeitura tem feito sua parte, mas também dependemos, sobretudo, da conscientização dos moradores. A limpeza tem surtido efeito e recentemente também realizamos uma limpeza grande nos canais de drenagem do Sapiens Parque, que recuperou a capacidade de recebimento de água da parte a montante do rio”, pontua Bruno Vieira Luiz, superintendente de saneamento da Prefeitura de Florianópolis.

A parte a montante do rio é “o lugar que está acima do ponto considerado ou se refere à sua nascente no referido curso d’água”.

Contudo, segundo o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e PhD em Ciências Biológicas e Ecologia Marinha Paulo Horta, as macrófitas não são o problema em si, mas indicam que há um problema no rio. As plantas aquáticas são responsáveis por absorver os poluentes e sua proliferação descontrolada é resultado do aumento da poluição, com despejo irregular de esgoto no rio.

“Quando ela cobre toda a superfície do rio, impedindo que a luz chegue no fundo, é ruim para o rio. Mas se a gente mantém um percentual de macrófita, a gente melhora muito a qualidade da água, retirando poluentes que estão por baixo da areia contaminando o ambiente costeiro”, destaca Horta.

“Sabemos que a Prefeitura também tem boa vontade de resolver, mas precisamos fazer muito mais, o que precisamos aqui é um projeto macrodrenagem, com eficiência para que a gente possa resolver e mitigar esse problema e fazer deste rio um ambiente agradável, revitalizado. Nós queremos melhorar a qualidade deste rio”, afirma José Luiz Sardá, que é nativo de Canasvieiras e se tornou a voz do Rio do Brás, em 2015.

O que pode ser feito:

De acordo com Horta, remover a matéria orgânica em decomposição despejada no rio pelo esgoto e que interfere na proliferação descontrolada das macrófitas é a primeira ação a ser realizada. Isso pode ser feito com a introdução de tapetes de algas, responsável por filtrar a água, removendo nutrientes, poluentes. A remoção da matéria orgânica auxiliará ainda na oxigenação do rio, fundamental para a qualidade do água.

Para o Horta, as preocupações serão resolvidas se, com ações concretas, o rio for despoluído:

“Não só é possível despoluir o rio como eu acredito que a gente não tem o direito moral e ético de não fazê-lo. Podemos não só melhorar a qualidade da água, como restaurar e plantar a vegetação que um dia viveu às margens do Rio do Brás”, garante Horta.

Já para Sardá, é necessário que o Rio do Brás seja dragado, uma vez que, segundo ele, o rio está com 50 centímetros de profundidade, situação bem diferente de anos atrás, quando possuía de três a quatro metros.

“Nós do Instituto SOS Rio do Brás temos uma proposta de fazer um estudo, um diagnostico socioambiental onde vamos mostrar para a sociedade que há solução, a comunidade vai ser ouvida, vamos apresentar propostas e ver qual a melhor saída, se seria a desobstrução dessa barra, a construção de molhes, ou um ambiente fechado mas que a água tenha condições de recuperação”, reflete o presidente do instituto.

O que está sendo feito no Rio do Brás

Além do trabalho para interromper o lançamento de dejetos no rio, a Prefeitura de Florianópolis estuda a possibilidade de colocar aeradores, equipamentos capazes de espalhar oxigênio para os ambientes em que é inserido, neste caso o Rio do Brás, assim como construir moles, diques ou tubos que possibilitem a comunicação do rio com a praia de Canasvieiras.

Para acompanhar a qualidade da água do Rio do Brás, desde outubro está sendo realizada a coleta e análise laboratorial mensal da água. Para Bruno Vieira, o monitoramento possibilitará analisar se a carga orgânica, lançada ao rio junto ao esgoto irregular, está aumentando ou diminuindo. 

“Essas ações com certeza melhorariam a oxigenação e a salinidade, o que acreditamos que irá melhorar as condições do rio. Mas estamos estudando ainda, porque do ponto de vista ambiental a intervenção no local é bem complexa, precisa de licenciamento ambiental, projetos de obra e de engenharia”, destacou o superintendente de saneamento da Prefeitura de Florianópolis.

Até o momento não há previsão de quando os estudos serão concluídos. Enquanto isso, a foz do Rio do Brás, local onde um curso d’água deságua no mar, permanece permanentemente fechada.

“Manter a barra dele fechada quebra um ciclo natural que é fundamental. Do ponto de vista ambiental é dramático, porque só aprofunda o problema de saúde do Rio do Brás. É fundamental que o rio siga seu curso natural. É verdade que, eventualmente, esse balanço de sedimento, para rios que têm baixo fluxo, acaba produzindo o fechamento da barra. Isso é muito comum, mas, quando chove muito, o rio, então, abre suas barras e essas águas são novamente trocadas”, afirma Paulo Horta. 

Durante o evento de apresentação do Estação Verão na manhã da última sexta-feira (14) com a presença do Governador Jorginho Mello, o presidente da CASAN (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) Edson Moritz apresentou um pacote de ações para a alta temporada, o que inclui investimentos no Rio do Brás.

A CASAN prevê a instalação de um contêiner ao lado do Rio do Brás, em Canasvieiras, para informar a população sobre a necessidade de fazer a ligação correta na rede.

Enquanto o Rio do Brás não é despoluido, Sardá segue com o sonho de desfrutar das águas limpas, assim como fazer no local um grande parque linear. “Quem não conhece não preserva. Nós precisamos levar essa informação através da educação ambiental com trilhas ecológicas pras pessoas entrar num ambiente frágil, entender o a problemática que é o nosso meio ambiente que tanto pede ajuda e a gente precisa fazer a nossa parte”, finaliza o presidente do instituto.

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