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Polícia

Após atentado, atirador de Aracruz almoçou com os pais e foi para casa de praia

Carta da mãe de uma das vítimas do ataque a tiros, a estudante Selena, 12 anos, viralizou nas redes sociais

• Atualizado

SBT News

Por SBT News

Foto: Reprodução | Redes sociais
Foto: Reprodução | Redes sociais

A Polícia Civil do Espírito Santo informou, durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (28), que o atirador que atacou duas escolas na cidade de Aracruz, matando quatro pessoas e ferindo outras 12, almoçou e foi com os pais para uma casa de praia logo após o crime.

De acordo com o delegado João Francisco Filho, após o ataque ele voltou para casa, guardou as armas e roupas que usou e esperou pelos pais, que estavam em um supermercado. O adolescente, de 16 anos, agiu naturalmente na presença dos familiares.

“Ele volta para casa, em Coqueiral, pega todos os objetos que usou na ação e guarda para que os pais não desconfiassem que ele tinha usado. Coloca tudo onde estava e fica no interior da casa como se nada tivesse acontecido. Os pais chegam e ele age naturalmente”, afirmou o policial.

Ainda segundo o delegado, os pais chegaram a comentar sobre o ataque a tiros com o filho, mas em nenhum momento ele contou ser o responsável pelo crime. Em seguida, eles almoçaram e foram para uma casa de praia da família, onde o adolescente foi preso por volta das 14h10. A invasão na primeira escola aconteceu por volta das 09h30.

A Polícia chegou até a identidade do atirador por meio de pesquisas sobre o carro utilizado por ele, um Renault Duster dourado.

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Douglas Caus, informou que o pai do adolescente, que é tenente da PM, vai ser investigado em um processo disciplinar. Eles vão apurar se o pai facilitou o acesso do atirador às armas.

“Está sendo instaurado hoje um procedimento administrativo para apurar as circunstâncias na qual o autor teve acesso às duas armas dele, uma da corporação e uma de registro pessoal”, disse Caus.

Estados de saúde

O ataque a tiros deixou quatro pessoas mortas, sendo três professoras e uma estudante, além de 12 feridos. Nesta segunda-feira (28), cinco vítimas ainda permanecem internadas.

O estado mais delicado é de uma menina, de 14 anos, que foi atingida por um disparo na cabeça. Ela está entubada e em estado de saúde muito grave no Hospital Estadual Nossa Senhora da Glória “Infantil de Vitória”. Uma outra criança, um menino de 11 anos, está internado na unidade semi-intensiva do mesmo hospital, em estado de saúde estável.

Duas mulheres, uma de 52 e outra de 45 anos, estão em estado grave na UTI do Hospital Estadual Dr. Jayme dos Santos Neves.

Uma outra mulher, de 58 anos, está estável no Hospital Estadual de Urgência e Emergência São Lucas. Ela aguarda a melhora de feridas em uma das pernas para ser submetida a uma nova cirurgia.

Carta da mãe de Selena

A mãe da menina Selena Sagrillo Zuccolotto, uma das vítimas fatais do ataque a tiros nas escolas de Aracruz, no Espírito Santo, na sexta-feira (25), divulgou uma carta sobre a morte da filha. Selena, de 12 anos, estudava no Centro Educacional Praia de Coqueiral, segundo colégio invadido pelo atirador

Selena Sagrillo Zuccolotto, de 12 anos, é uma das vítimas do atirador de Aracruz | Reprodução/Redes sociais

Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto disse que escreveu o texto em um computador do quarto da menina. “Ela estava se tornando uma mulher poderosa, alma livre, feminina”, disse a mãe.

Thais pediu por mais segurança para as crianças que, segundo ela, precisam estar longe da violência, das drogas, de armas e de abusos.

“Clamo por piedade e por segurança para nossas crianças serem as milhões de pequenas revoluções que elas poderiam ser. Segurança nas escolas, ruas, casas. Abrigadas e protegidas de todos os desterros do mundo. Longe da violência, drogas, armas e abusos”, afirmou ela.

Confira a carta na íntegra:

Escrevo este texto do computador e quarto de minha filha Selena, que agora amargam sua ausência. Escrevo, pois não tenho mais voz para falar, não tenho mais lágrimas para chorar.

O lamento, a dor e angústia que estavam no meu peito antes, agora, começam a dar lugar ao sentimento de entendimento, aceitação e saudade.

Sentada em meio ao pequeno caos criativo que era seu quarto, encontrei um texto que falou tão profundamente em meu coração que não consigo deixar de compartilhar com vocês, que tanto estão nos dando forças neste momento. O texto dizia:

“Vai ter um dia em que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia é hoje. Eu esperei minha vida inteira. E tudo está bem. Completei meus 11 anos e tinha voltado ao bairro e a escola que cresci depois de dois anos em São Mateus (ES), e eu disse: Vai ter um dia que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia está próximo.”

Realmente o dia estava próximo para minha filha. Havia 1 mês e cinco dias que ela havia completado 12 anos. O dia de sua morte, dia 25/11, foi também o dia do aniversário de meu pai, e seu avô Jose. Dia 01/12 será aniversario de seu outro avô, Laudérico. Daqui a trinta dias será Natal. Minha filha não verá os próximos jogos da copa do mundo e nunca mais se empolgará com um gol como aquele do Richarlison, que ela achou “incrível”.

Jamais verei do que ela seria capaz. Ela estava se tornando uma mulher poderosa, alma livre, feminina. A promessa de uma vida inteira foi desfeita. Todo um futuro interrompido. A custo do ódio, do desamor, do terror. Não venho aqui clamar por retaliação, pois de ódio, estou farta.

Clamo por piedade e por segurança para nossas crianças serem as milhões de pequenas revoluções que elas poderiam ser. Segurança nas escolas, ruas, casas. Abrigadas e protegidas de todos os desterros do mundo. Longe da violência, drogas, armas e abusos.

Que a partida da Selena seja o início de uma nova revolução, assim como ela gostava, mas uma revolução baseada no amor e segurança para nossas crianças de todas as etnias, regionalidade, classe social e crença.

Esse é um lamento e um grito de uma mãe que padece com a perda de uma filha. Peço que nos mandem orações, amor, energias boas, seja qual for sua crença. Que o mundo se una pela Selena, assim como ela escreveu em seu texto, e por tantas outras Selenas pelo mundo.

Ass. Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto”

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