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esgotamento profissional

Movimento Quiet Quitting abandona a “ideia de ir além no trabalho”

Saúde mental, condições ruins de trabalho e resquícios da pandemia podem explicar a movimentação

• Atualizado

SBT News

Por SBT News

Foto: Freepik
Foto: Freepik

Pouco se sabe de Zaid Khan. Músico de Nova York, nos Estados Unidos, ele usou o TikTok para trazer à tona um termo que havia acabado de aprender: Quiet Quitting. Desde então, seu vídeo foi visto 3,5 milhões de vezes e dá voz a uma nova geração de funcionários que quer reescrever as relações trabalhistas. 

Traduzido erroneamente como demissão silenciosa ou desistência silenciosa, Quiet Quitting, segundo Khan, é abandonar a “ideia de ir além no trabalho”. “Você ainda está cumprindo seus deveres, mas não adere mais à mentalidade da hustle culture (termo em inglês que significa cultura do trabalho constante) de que o trabalho deve ser nossa vida.”

Cláudia Danienne, psicóloga organizacional, especialista em Gente e Gestão, e sócia na Degoothi Consulting, avalia que o quiet quitting não deve ser visto como uma rebeldia.”O real sentido aqui é o de ‘não exploração’, e sim conte comigo para o que eu fui por você contratado”, analisa.

“Apesar da tradução literal ser demissão silenciosa, o comportamento que está ligado ao termo é o desejo de cumprir exatamente o que se estabeleceu contratualmente. O grande ponto de atenção aqui é o respeito e o fair process. Ou seja, um processo justo entre as partes (empregador e funcionário)”, avalia a especialista, que defende que as relações de trabalho não devem visar somente o lucro do empregador. Todos devem ganhar.

Apesar do termo ter se popularizado agora, essa atitude sempre existiu, aponta Danienne. Mas ficou em evidência porque as novas gerações têm uma relação diferente com o mercado de trabalho, buscando por propósito, além de lucro. 

“É uma geração que questiona mais e não aceita a imposição de trabalho sem propósito. Principalmente por ser uma geração que almeja satisfação naquilo que desempenha, indo muito além de salário.”

“Um ambiente de trabalho acolhedor, íntegro, com acordos transparentes, com oportunidades de encarreiramento e desenvolvimento remuneradas e reconhecidas, com líderes cônscios de seu papel, fóruns internos de diálogos sobre a saúde integral do colaborador, são exemplos de práticas que auxiliam as empresas a lidar com o quiet quitting.”, reforça a psicóloga organizacional.

O quiet quitting acontece em meio ao número recorde de demissões nos Estados Unidos, movimento que ficou conhecido como Great Resignation, ou Grande Renúncia. Somente em novembro de 2021, 4.1 milhões de trabalhadores norte-americanos desistiram dos seus trabalhos. Saúde mental e condições ruins de trabalho, resquícios da pandemia, podem explicar essa movimentação e também a demissão silenciosa. 

“Na pandemia, muitos profissionais foram demitidos e outros que ficaram, absorveram as funções, ocorrendo uma sobrecarga de trabalho gigantesca, onde as regras não foram claras para muitas relações de trabalho. Quem “aceitou” essa condição pelo medo de perder o trabalho e a fonte de renda está esgotado mente e corpo”, enfatiza a especialista, que continua, “o mercado de trabalho tem culpa à medida que, após uma retomada de fôlego e alcance da estabilidade, não ofereceu conforto e sim, manteve o fazer mais com muito menos. Só que desta vez, esta máxima de gestão por muito tempo atrás percebida como eficiente, traz o componente de lutos, de transtornos psicológicos, de fragilidades desencadeadas da pandemia e que na prática não vem funcionando pelos altos números de Burnout, languishing, dentre outros sintomas que o mundo inteiro vivência.”

Ainda que fazer aquilo para o qual foi contratado não seja errado, uma cultura organizacional sinérgica aos princípios e valores pessoais de seus colaboradores, pode atrair mais engajamento dos seus funcionários, ressalta Danienne, que alerta que sem esses componentes,”não há milagre de gestão que funcione. Haverá insatisfação e aí mais do que nunca, a vontade de “não pertencer”.

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