João Silva

Graduado em economia e relações internacionais pela Boston Univeristy. Mestre em relações internacionais na University of Chicago e mestre em finanças pela University of Miami.


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João Victor da Silva

Rússia como nova aliada do Brasil? Entenda

Viagem de Bolsonaro a Moscou em fevereiro pode ser oportunidade de realinhar a política externa brasileira.

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Foto: Alan Santos | PR
Foto: Alan Santos | PR

Há duas semanas, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, convidou Jair Bolsonaro para ir a Moscou. Oficialmente, de acordo com ambas as partes, o encontro entre os Chefes de Estado deve ser realizado apenas para estreitar as relações comerciais, científicas e energéticas entre os dois países. No entanto, esta viagem será uma oportunidade para estabelecer uma aliança geopolítica entre Brasil e Rússia. Afinal de contas, ambos os países sofrem fortes pressões de agentes estatais e não estatais do Ocidente, os quais possuem interesses em interferir na soberania dos dois países.

Atualmente, existe uma grande confrontação ideológica no mundo. De um lado, existem os “globalistas”, lideranças políticas que desejam o avanço de uma determinada agenda política sob todas as nações. Está agenda transnacional busca solucionar “problemas globais”, na seara ambiental, econômica e política. A China é outro agente que visa minar a soberania de outros países. Contudo, o objetivo dos chineses não é implementar uma agenda política transnacional, mas garantir seu acesso aos mercados exportadores de matéria-prima. Do outro lado, existem os grupos “nacionalistas”, os quais almejam a manutenção da soberania de seus países sobre seus assuntos domésticos.

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Apesar do Brasil ter uma maior aproximação cultural com os países ocidentais (representados essencialmente por Estados Unidos e Europa ocidental), hoje as lideranças globalistas destas nações impõem um dos principais desafios a política externa brasileira. Afinal de contas, diversos líderes desses países vêm relativizando a soberania brasileira sobre a Amazônia, a nossa política de demarcação de terras indígenas, além de tentarem minar o avanço do setor agropecuário brasileiro. Declarações recentes do presidente francês, Emmanuel Macron, ilustram bem as pressões internacionais sofridas pelo Brasil. Macron é uma das principais lideranças que tentam minar a soberania brasileira para avançar com suas pautas políticas. Em 2019, por exemplo, o Chefe de Estado da França chegou a afirmar que “A Amazônia é nosso bem comum”.

Diante de tal cenário, de pressão política internacional, o Brasil teria três opções para arrefecer a coação internacional contra o país. A primeira seria aceitar as imposições da agenda globalista sobre a sua política doméstica. Em segundo lugar, o governo brasileiro poderia elevar o poder político internacional do Brasil, principalmente com o fortalecimento de seu poderio militar. A última opção seria o estabelecimento de uma aliança com algumas das superpotências globais, as quais poderiam salvaguardar a soberania do país através de seus poderes de veto em organismos internacionais e sacramentando uma aliança militar e econômica com o Brasil.

As duas primeiras opções são inviáveis ou indesejáveis atualmente. Afinal de contas, ceder as pressões externas simbolizaria o fim da independência do Brasil, pois seus assuntos internos seriam pautados e estabelecidos por potências e, até mesmo, atores não estatais estrangeiros. Já o fortalecimento militar do país seria uma opção inviável, devido as restrições fiscais e econômicas que o governo brasileiro possui. Assim sendo, o estabelecimento de alianças com outros países seria uma estratégia viável para garantir que o Brasil consiga resistir as pressões exercidas pelos agentes da agenda globalista.

O natural aliado do Brasil seria os Estados Unidos, pois temos um longo histórico de cooperação e uma forte aproximação cultural. No entanto, o próprio Estados Unidos vive um forte embate interno entre as forças globalistas e nacionalistas. A disputa entre o partido Republicano e o partido Democrata simbolizam bem está confrontação ideológica. Nesse sentido, os Estados Unidos tornam-se um parceiro pouco confiável porque quaisquer mudanças de poder doméstico nos Estados Unidos devem interferir substancialmente em sua política externa. Assim, o Brasil poderia estar sujeito a uma nova condição de relacionamento com Washington, caso haja uma mudança de governo naquele país. Ademais, a própria característica das relações econômicas entre Brasil e Estados Unidos dificultam o estreitamento as relações diplomáticas entre os países. Assim como o Brasil, os Estados Unidos possuem um setor agropecuário forte que compete diretamente com o Brasil. Como o agronegócio americano possui uma vasta influência política sobre o Congresso e o Poder Executivo daquele país, o governo dos Estados Unidos é mais suscetível a aplicar medidas protecionistas contra o agronegócio brasileiro.

Já a China, maior parceira comercial do Brasil, também não seria uma opção para estreitar as relações diplomáticas. Afinal de contas, o governo chinês tem-se mostrado uma das principais ameaças a soberania brasileira. Seu embaixador no Brasil, por exemplo, vem tecendo diversos comentários sobre assuntos domésticos do país, além de realizar diversas ameaças econômicas ao governo brasileiro. A China possui uma política internacional ofensiva que busca assegurar sua influência sobre os países que lhe exportam matérias-primas como uma forma de consolidar seu poder político, econômico e militar.

Diante deste cenário, a Rússia pode se tornar uma peça-chave para o nosso país contrabalançar as ambições dos grupos globalistas e dos chineses sobre a nossa soberania. A Rússia, sendo uma das maiores potências militares e políticas do planeta, pode nos garantir um apoio estratégico em diversas disputas internacionais. Com o apoio militar russo e seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, o país euroasiático poderia coibir o avanço de diversas pautas que tem o potencial de minar a soberania do Brasil sobre seu território e políticas domésticas. Para os russos, uma relação mais estreita com o Brasil também garantiria um acesso mais facilitado deles as commodities brasileiras, que são importantes para seu desenvolvimento militar. Além disso, com uma aproximação diplomática com o Brasil, reduzir-se-ia a influência dos Estados Unidos sobre a América Latina.

Para o Brasil, o grande desafio dessa relação seria superar as diferenças culturais e políticas entre os dois países, os quais possuem modelos de sociedade muito distintos. Contudo, como estamos tratando de uma estratégia de manutenção da soberania e independência do Brasil, caberia adotar uma política pragmática, a Realpolitik, na qual considerações ideológicas e morais seriam relegadas a um segundo plano de prioridades.

O fato é que não sabemos o grau de aprofundamento das relações entre Brasil e Rússia que teremos durante o encontro de Putin com Bolsonaro em fevereiro. No entanto, é crítico que o Itamaraty leve em consideração as potenciais vantagens que um estreitamento das relações entre os dois países poderia ter para nossa relevância na política internacional e na salvaguarda de nossa soberania. Se os custos forem menores do que os benefícios, deveríamos considerar seriamente a possibilidade de estabelecer uma aliança com os russos.

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