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JULGAMENTO EM BLUMENAU

“Vivendo cada dia essa dor”, funcionária depõe em julgamento do ataque a creche em Blumenau

Famílias das vítimas buscam por “encerramento de ciclo”

• Atualizado

Beatriz Agnes

Por Beatriz Agnes

Olga Helena de Paula

Por Olga Helena de Paula

Foto: SCC10
Foto: SCC10

O julgamento do acusado pelas mortes de quatro crianças e outras cinco feridas no ataque a creche em Blumenau, está acontecendo nesta quinta-feira (29), no salão do Tribunal do Júri do Fórum Central da cidade. Conforme os advogados das famílias das vítimas, todas buscam por esclarecimentos, uma condenação justa, mas acima de tudo por um “encerramento de ciclo”.

Uma professora auxiliar da creche Cantinho Bom Pastor está depondo nesta manhã. Durante o relato da profissional, ela explicou que “estava no parque, em uma rodinha de conversa”.

“Sempre após o café da manhã, fazíamos a rodinha. Falávamos sobre a Páscoa e Deus. Bernardo (vítima fatal) até disse que ‘Deus é amor'”. A funcionária ajudou a prestar os primeiros socorros à criança. Chorando, a professora auxiliar também contou que às crianças foram atingidas no pescoço.

Além disso, a funcionária tinha parentesco com o Bernardo. “Prof. tira o sangue, prof. tira o sangue. Tinham muitos gritos”, disse. “Ele falava que ele não queria os adultos. Eu tirei a minha camiseta e estanquei o sangue de outra vítima. Quando os bombeiros chegaram, nos disseram que não tinha mais o que fazer”, concluiu.

Sobre o pós massacre, ela comenta que “vem vivendo cada dia essa dor”. “Tem criança que teve o comportamento totalmente mudado, brinca de zumbi. Nós tentamos estimular pular corda, outras brincadeiras. Cada dia é uma dor”.

Ainda segundo o relato, o acusado empurrou uma das funcionárias e disse que só queria às crianças. “Tentamos fazer boca boca e massagem, mas não tinha mais o que fazer. Cada uma das professoras foi em uma das crianças para estancar o sangue”, falou a funcionária da creche.

"Vivendo cada dia essa dor", funcionária depõe em julgamento do ataque a creche em Blumenau
“Vivendo cada dia essa dor”, funcionária depõe em julgamento do ataque a creche em Blumenau. Foto: SCC10

Expectativa para o julgamento

O advogado Rodolfo Warmeling espera demonstrar aos presentes, em especial para os jurados, a gravidade do crime que ocorreu em Blumenau. “Nosso intuito é de demonstrar isso, trazer o anseio das famílias para que o réu receba uma pena exemplar para que isso nunca mais volte a acontecer”, disse.

“Não esperamos uma pena específica, mas queremos que ele pegue o máximo possível dentro dos parâmetros da lei. Mas se trabalharmos uma pena máxima e uma mínima, seria mais de uma centena de anos de prisão. Nossa missão é trazer esse aporte para que a magistrada possa decidir a sentença”, completou.

Caso será julgado pela comunidade de Blumenau

Antes da data do julgamento ser marcada, a defensoria pública, que representa o réu, havia solicitado o desaforamento do julgamento, ou seja, o deslocamento do júri da cidade de origem para outra próxima, por questão segurança. O que foi negado pela Justiça.

Conforme os advogados, assim como no Massacre em Saudades, a Justiça manteve o julgamento na cidade onde o crime ocorreu.

O caso será julgado a partir das 8h, desta quinta-feira (29), no salão do Tribunal do Júri do Fórum Central de Blumenau. Sendo que apenas os familiares das vítimas e do réu terão acesso ao julgamento, sem a presença do público externo.

A rua em frente ao fórum, será temporariamente fechada no início e no término do julgamento. Além disso, um forte esquema de segurança será implementado no local.

Creche não abrirá

Por motivo de segurança, a creche Cantinho Bom Pastor não funcionará no dia do julgamento. A decisão foi tomada pela diretoria da escola, juntamente com a polícia e pais dos alunos. “É uma questão de precaução, pois o medo sempre existe”, comentou o Obregon sobre o fechamento da unidade no dia do júri, o filho dele já estudou na unidade.

“As duas últimas semanas têm sido muito angustiantes para a creche. Nós intensificamos o contato com as professoras, então elas estão revivendo aquele momento, tendo que falar sobre o dia. E isso, infelizmente é inevitável. Somente agora elas estão encaixando as peças e entendendo o que realmente aconteceu”, revelou Vanieli.

“É função de todos nós, tanto como advogados e imprensa, quanto como comunidade, não tornar esse caso ‘normal’, digamos assim. E de novo entramos na questão da pena, que tem que ser exemplar, o mais exorbitante possível, para que possamos mostrar que situações assim não são toleradas”, destacou Warmeling. “Esse não é um caso de homicídio simples, estamos falando de um homem frio, que foi atrás de crianças e que atacou uma creche, então isso é sem precedentes, esse não é um processo qualquer”, concluiu.

Warmeling também comentou sobre a similaridade entre os casos de Saudades e Blumenau, ambos atentados em unidades de ensino de Santa Catarina. “Todo crime trás consequências para a sociedade. Confesso que acho que o massacre em Saudades foi um pouco negligenciado. Pois Santa Catarina teve esse precedente com muitas vítimas fatais, mas foi somente quando ocorreu uma situação similar em Blumenau, que o Estado tomou providências mais enérgicas, como por exemplo seguranças em escolas”.

Os três advogados representam oito famílias das vítimas, sendo que somente uma optou por outra defesa.

O que diz a defesa do réu:

O SCC10 também entrou em contato com a equipe do advogado Arthur Albuquerque da Defensoria Pública de Santa Catarina, que irá defender o réu durante o julgamento. Em nota, eles informaram que a defesa irá trabalhar para que o acusado tenha um julgamento justo.

Leia a nota na íntegra:

“O defensor público que irá atuar no julgamento do réu Luiz Henrique pelo tribunal do júri está cumprindo com o seu dever legal e irá realizar a sua defesa a fim de que ele tenha um julgamento justo, pois todas as pessoas que cometem um crime serão atendidas obrigatoriamente pela Defensoria Pública caso elas não contratem um advogado particular.”

O réu será acusado por quatro homicídios qualificados e cinco tentativas de homicídio qualificado. As qualificadoras analisadas serão motivo torpe, meio cruel, uso de recurso que dificultou a defesa das vítimas e crime contra menores de 14 anos.

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