Modelo sofre necrose após procedimento estético e caso vira alvo de investigação do MPSC
O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) instaurou uma notícia de fato, na segunda-feira (20), para apurar irregularidades e possíveis riscos sanitários
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O que deveria ser um passo para retomar a carreira de modelo se transformou em meses de dor, cirurgias e medo. A moradora de Schroeder, Karim Kamada, de 51 anos, enfrenta as sequelas de um procedimento estético com enzimas. O caso agora é investigado pela Polícia Civil (PCSC) e pelo Ministério Público de Santa Catarina.
Karim conta que estava retornando ao trabalho como modelo. “Aquele sonho que eu havia deixado para trás ressurgiu. Estava extremamente feliz: ser modelo 40+, representar mulheres que tinham sonhos, mostrar que era possível recomeçar”, relatou.
Buscando melhorar a aparência da pele e se preparar para novos trabalhos, a modelo encontrou uma profissional de Jaraguá do Sul, por meio de um anúncio patrocinado nas redes sociais. O procedimento, que prometia reduzir celulites, foi apresentado sem riscos, usando uma caneta pressurizada, equipamento que injeta líquidos sem o uso de agulhas.
“Ela dizia ter 23 anos de experiência em estética avançada. Em nenhum momento me informou sobre algum risco, disse ser procedimentos não invasivos e tranquilos”, relatou Karim.
A modelo explicou que na primeira conversa que teve com a esteticista, solicitou informações sobre a formação profissional.
“Ela respondeu na terceira pessoa, técnica de estética avançada.”
Complicações do procedimento estético
As aplicações iniciaram em maio e foram realizadas aproximadamente seis sessões. Karim relata que além de glúteos, em algumas ocasiões, a substância foi aplicada nos braços e abdômen.
Após algumas sessões, a modelo começou a sentir ardência e notar pontos vermelhos na pele.
“Achei estranho o quanto algo tão pequeno ardia. Quanto mais eu me mexia aquilo parecia intensificar, eu dizia para ela que tinha algo estranho mas ela minimizava dizendo fazer parte do processo inflamatório”, detalha a paciente.
Karim precisou passar por duas cirurgias e sentiu dores. “Fiquei com muita dor de cabeça e pescoço duro, tive que voltar à emergência e fizeram desbloqueio de dor”, relata.
As sequelas do procedimento afetaram a rotina da modelo e sua vida profissional.
“Tive crise de pânico porque com a situação de abrir a cirurgia e ter coagulado, latejava. Achava que estava infectada e que ia morrer se dormisse. Sempre treinei e agora não posso, isso muda também a questão hormonal e bem-estar. Sou uma pessoa super ativa e que teve que parar tudo”, disse Karim.
De acordo com a modelo, o caso foi denunciado à Vigilância Sanitária de Jaraguá do Sul. Karim não assinou nenhum termo e não realizou anamnese antes do procedimento estético.
Denúncia
Ao SCC10, a Vigilância Sanitária informou que esteve na clínica de Vanderleia de Fátima Andrade Santos, em 29 de julho, e constatou irregularidades que motivaram a interdição.
Em 8 de setembro, o órgão recebeu outra denúncia de que a atividade permanecia ocorrendo de forma irregular. Diante disso, os fiscais foram até a clínica, com o auxílio da Polícia Militar (PMSC).
Foi lavrado auto de infração por conta das irregularidades encontradas e por descumprimento da medida de interdição.
A Vigilância Sanitária também relatou que, durante a fiscalização, foram constatadas irregularidades relacionadas à ausência de documentos obrigatórios para o funcionamento da atividade e a profissional não apresentou a documentação que comprovasse sua habilitação para efetuar os procedimentos.
Diante das denúncias, o órgão de fiscalização sanitária e a Polícia Civil (PCSC) retornaram ao local e realizaram uma inspeção, em 7 de outubro, às 10h. As equipes constataram apenas atendimento de massagem.
“Ela regularizou sua atividade profissional para Práticas Integrativas e Complementares em Saúde Humana (PICS), foram apresentados certificados que a autorizam a realizar as seguintes técnicas: Massoterapia, Drenagem Linfática e Massagem Relaxante”, escreveu a Vigilância Sanitária.
Alvo de investigação do MPSC
Apesar da regularização, o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) instaurou uma notícia de fato, na última segunda-feira (20), para apurar irregularidades e possíveis riscos sanitários, incluindo procedimentos invasivos sem alvará, condições precárias de higiene e o uso de canetas pressurizadas sem habilitação adequada em atendimentos estéticos.
Conforme o MPSC, o uso da caneta pressurizada foi registrado em um auto de infração e é considerado de risco, sendo restrito a profissionais habilitados e sujeito a registro na Anvisa.
A investigação busca esclarecer se os procedimentos estéticos realizados pela profissional representam riscos à saúde pública e violam direitos dos consumidores.
A Promotora de Justiça Rafaela Póvoas Cardozo Lehmann determinou diligências para verificar se houve regularização, se os equipamentos utilizados estão devidamente registrados e se há responsabilidade na cadeia de fornecimento das canetas pressurizadas.
O Portal SCC10 entrou em contato com Vanderleia de Fátima Andrade Santos, mas não teve retorno até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para posicionamento.
Inquérito
O caso também é alvo de um inquérito policial, que apura a responsabilidade penal da profissional. A PCSC apura o caso e o delegado responsável está ouvindo testemunhas.
Segundo a PCSC, o processo está próximo da conclusão, mas houve um adiamento solicitado pela autora para ser ouvida em outra data.
Enquanto segue em recuperação, Karim Kamada alerta outras mulheres sobre o cuidado ao procurar por serviços estéticos.
“Antes de realizar qualquer procedimento estético, não confie apenas na palavra de quem oferece o serviço dizendo que ‘é seguro’. Muitas mulheres deixam de agir por vergonha ou medo, mas é justamente isso que mantém esses casos acontecendo”, orienta.
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