Esquema de exploração sexual envolvia empresários e famosos
Investigação revela rede de prostituição de brasileiras com ramificações em 15 países em diferentes continentes
• Atualizado
Rodrigo Otávio Cotait é um homem vaidoso. Nas redes sociais, gosta de exibir fotos com mulheres jovens e bonitas. Também é na internet que ele as agencia, as trata como mercadoria e, nas palavras dele, as exporta para o mundo todo. É ele quem, segundo a Polícia Federal, lidera um complexo esquema de exploração sexual. Na última terça-feira (27), seis integrantes da quadrilha foram presos no Brasil, Espanha e Portugal durante a Operação Harém BR. O SBT News teve acesso com exclusividade à investigação.
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A Polícia Federal de Sorocaba, interior de São Paulo, passou a monitorar o grupo ao receber, em 2017, a denúncia de uma jovem que foi enviada ao Qatar, no Oriente Médio, para se prostituir. A partir daí a trama comandada por Rodrigo passou a ser desenrolada. De acordo com a investigação, ele dizia ser dono de uma agência de modelos, mas na verdade coordenava uma rede de mulheres que mantinham relações sexuais com clientes no Brasil e no exterior. As fotos delas eram compartilhadas por aplicativos de mensagens e sites específicos, em um formato chamado pelos agentes federais de “broadcast” da prostituição.
Em janeiro de 2018, Rodrigo recebeu uma mensagem de um possível cliente interessado em contratar sete recepcionistas para um evento. A resposta foi que “o escopo da agência é o pós feira”. Nos catálogos, as mulheres eram identificadas por códigos. Arquivos com imagens de mais de 300 jovens seminuas – as quais ele tratava como produtos cuja qualidade tinha de ser “testada primeiro por ele”. Um dos requisitos para que elas entrassem no esquema era, segundo a investigação, manter relações sexuais também com Rodrigo.
Para aliciar meninas que não conhecia, o criminoso dizia ser proprietário de uma marca de maquiagens chamada Tommy G e, assim, se aproximava delas por mensagens diretas no aplicativo Instagram. Muitas dessas garotas nunca havia se prostituído e passavam por dificuldades financeiras – uma delas chegou a mandar uma foto com a geladeira vazia para o agenciador. Em uma das mensagens interceptadas, Rodrigo diz: “é o que eu mais faço. Perverter e chamar para o “job” mulheres novas. Eu tenho um monte de cliente que me passa a lista de desejos”. “Job” é um eufemismo para os encontros sexuais.
Em outra mensagem, Rodrigo deixa claro ser misógino. “É o seguinte, a mulher tem três funções. Primeira, lógico, a mais importante: putaria, evidente. Segunda: ‘ai Rô, não faço, não gosto de putaria’, não tem problema, amor, você tem função ainda: você pode ser útil, me apresente suas amigas. ‘Ai Rô, não tenho amiga’. Não tem problema, você vai ter uma função finalmente: por favor, vassoura e pano de chão tá ali, vamos limpar a casa né?”, escreveu.
“Exportação de mulheres”
Até o momento, foram identificadas ramificações da quadrilha no Qatar, Estados Unidos, Espanha, Inglaterra, Suécia, Austrália, Nova Zelândia, Paraguai, Bolívia, Peru, China, Suécia, Holanda, Coréia do Sul e Dubai. A possibilidade de ganhar em dólar é um chamariz para essas jovens. Para quem aceita ir para o Qatar, por exemplo, a promessa é de 3 mil reais por dia. O país do Oriente Médio é um dos principais destinos de exploração sexual do mundo.
Mas nem sempre tudo ocorre como o prometido. Na investigação da Polícia Federal, há relatos de uma modelo que foi agredida fisicamente por um cliente e obrigada a encontrá-lo mais uma vez, além de ter sido estuprada por um desconhecido no hotel onde estava hospedada. Outra mulher relata ter sido coagida a manter relações com mais de dez homens por dia, o que ela classificou como “escravidão sexual”. Também há relatos de mulheres que tiveram dificuldade para retornar ao Brasil e outras que foram presas e deportadas.
Para manter a rede de prostituição internacional, Rodrigo contava com a ajuda de mulheres nos Estados Unidos e Europa – além de um esquema de pagamento de propina para policiais de outros países e de falsificação de passaportes e passagens aéreas.
Agenciadores e vítimas famosos
Entre os agenciadores parceiros de Rodrigo, também havia brasileiros. De acordo com a Polícia Federal, a modelo Nubia Cassia de Oliveira, conhecida como “Nubia Oliver”, era uma dessas pessoas. Em mensagens obtidas durante a investigação, Nubia envia fotos sensuais de outras mulheres ao agenciador e combina um programa sexual com uma delas em troca de uma comissão de mil reais.
Um dos principais alvos da investigação é Wissam Nassar, um poderoso e rico empresário que é dono de um dos maiores shoppings do Paraguai. Ele é investigado por explorar sexualmente menores de idade, agenciadas por Rodrigo a pedido dele. A abordagem dessas meninas era feita pela internet através de perfis falsos em redes sociais. Em 2019, a cantora Mirella Fernandez, a MC Mirella, foi acusada de aliciar uma adolescente de 17 anos. Ela teria oferecido R$ 5 mil para que a garota se encontrasse com Wissam Nassar.
A funkeira chegou a ser investigada pelo Ministério Público Federal, mas essa investigação revela que, na verdade, ela foi vítima da quadrilha quando era adolescente O próprio Rodrigo admite — nas comunicações interceptadas — ter aliciado a cantora quando ela tinha 16 anos. Ao SBT News, Mirella admitiu ter sido explorada pela quadrilha.
Nas mensagens, o agenciador a chama de burra e diz que ela arriscou a carreira ao tentar convencer outra garota a se encontrar com Nassar por uma comissão de R$ 3 mil. Ao expressar preocupação de que essa investigação contra Mirella recaísse contra Rodrigo, uma comparsa dele diz que a cantora não teria como comprovar que também foi vítima do grupo porque, à época, foi paga em dinheiro. A Polícia Federal começou a ouvir as vítimas da rede de prostituição internacional nesta semana. Ainda não é possível saber quantas meninas e mulheres foram exploradas pela quadrilha.
O que dizem os envolvidos
Rodrigo Otávio Cotait
O Sr. Rodrigo Otávio Cotait, conceituado empresário do setor de cosméticos, foi alvo de ilegal mandado de prisão expedido pela 1ª Vara Federal de Sorocaba. A prisão preventiva contra ele decretada viola a Constituição Federal e o Código de Processo Penal. Não obstante as dificuldades decorrentes da falta de acesso à integralidade dos autos do Inquérito Policial que deu origem à “Operação Harém”, fato que inviabiliza o exercício da ampla defesa, os Advogados subscritores desta nota impetraram, na última quinta-feira, dia 29 de abril, habeas corpus perante o egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região. A Defesa confia no Poder Judiciário brasileiro e espera que essa injustiça seja reparada o mais breve possível.
Nubia Oliver
Agradeço o contato, contudo, como os autos tramitam em sigilo, por ora, a defesa técnica da Sra. Nubia Cassia Ferreira de Oliveira, irá respeitá-lo, ou seja, não nos manifestaremos sobre a investigação policial federal. Aliado a isso, fomos constituídos na data de ontem, e ainda não conseguimos acesso ao inteiro teor. Em momento oportuno poderemos falar.
Mc Mirella
Em atenção a Vossa solicitação, informamos que nos causou grande estranheza a solicitação de “uma defesa” para a Mirella, pois se verificaram o processo, certamente constataram que a Mirella fora intimada e ouvida da condição de VÍTIMA/TESTEMUNHA, portanto não há o que falar de defesa, inclusive peço atenção dos senhores a esse ponto, que não é apenas um detalhe. Trata-se de uma investigação da Polícia Federal, o qual possui a ação cautelar e Inquérito, em andamento na 1ª Vara da Justiça Federal de Sorocaba, nos quais a Mirella já contribuiu com seu testemunho, várias outras pessoas também vítimas da quadrilha foram ouvidas. No que poderia a Mirella colaborou com a investigação para que a justiça se cumpra, uma vez que já foi contatada pelo grupo investigado.
Sem mais para o momento.
Wissam Mohamed Nassar
O advogado disse que Wissam não vai se pronunciar.
Assista à reportagem completa do SBT Brasil:
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