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QUANDO O PÃO VIRA VENENO

Vidas sem glúten: o desafio de ser celíaco no Brasil

Uma migalha de glúten pode ser suficiente para causar dor, inflamação e uma mudança radical de vida

• Atualizado

Redação

Por Redação

Vidas sem glúten: o desafio de ser celíaco no Brasil. – Foto: Imagem Ilustrativa/Canva/Reprodução
Vidas sem glúten: o desafio de ser celíaco no Brasil. – Foto: Imagem Ilustrativa/Canva/Reprodução

Imagina acordar um dia e descobrir que o pãozinho do café da manhã pode te fazer mal. Para quem é celíaco, o que antes era prazer vira risco. Uma migalha de glúten pode ser suficiente para causar dor, inflamação e uma mudança radical de vida. Em *reportagem especial, a repórter Sofia Gonzalez explora a nova rotina de quem descobre a doença.

A doença celíaca é uma condição autoimune em que o sistema imunológico ataca o próprio intestino ao identificar a presença do glúten, proteína presente no trigo, cevada e centeio.

O resultado é a dificuldade na absorção de nutrientes e sintomas que vão muito além do desconforto intestinal.

A servidora pública Carline Fuhr sentiu isso na pele. “Fiquei muito assustada. Saí do consultório sem saber exatamente o que estava acontecendo comigo”, conta a servidora.

Desde o diagnóstico, ela precisou rever cada aspecto da rotina, da alimentação ao convívio social. “A grande maioria dos eventos sociais são envolvidos com a alimentação. Tem muita gente que vem com aquela expressão de pena. Acabam até não convidando mais, porque você não vai ter o que comer”, revela Fuhr.

Doença celíaca: quando comer exige vigilância

Não se trata apenas de evitar um pão ou uma bolacha. A contaminação cruzada — quando o alimento sem glúten entra em contato com vestígios da proteína — é uma ameaça real.

“Pode estar na esponja da pia, na tábua de corte, no prato”, alerta Nelson. Uma fração menor que 1/360 de um pão já é suficiente para inflamar o intestino de quem tem a doença.

Além dos sintomas clássicos, como diarreia, barriga estufada e perda de peso, a doença celíaca também pode causar anemia, osteoporose e até infertilidade. “Esses sintomas extraintestinais tornam o diagnóstico mais difícil, principalmente na vida adulta”, completa o médico.

Foi o que aconteceu com Mara Janete Correia dos Santos Puttkamner. Ela levou tempo até descobrir o que tinha, e depois disso veio outro desafio: reaprender a comer.

“Eu não sabia fazer pão. Nem com trigo, muito menos sem”, relata Mara. Foi fazendo cursos, tentando receitas e, aos poucos, encontrou um caminho. “No começo, a gente podia construir uma casa com tanto pão que dava errado, mas depois fui melhorando”, lembra Puttkamner.

A necessidade virou oportunidade. Junto do marido, Arley Puttkamner, ela fundou uma empresa especializada em produtos sem glúten. Hoje, 95% da clientela é composta por celíacos.

“A princípio, queríamos atender só a Grande Florianópolis, mas a demanda é tanta que temos clientes em Joinville, Lages, Curitiba, Porto Alegre…”, conta Arley. O pão francês sem glúten é o carro-chefe, mas o cardápio já inclui calzones, bolachas, empadas e outras delícias.

O maior obstáculo? O custo. “A farinha de arroz precisa ser misturada com outras farinhas, o que encarece muito o processo”, explica ele. Mesmo assim, o casal busca manter os preços justos, sem abrir mão da qualidade.

“Teve uma criança que queria muito um pão doce. Ela era diabética e chorava de emoção ao conseguir comer. Isso mexe muito com a gente”, lembra Mara.

Para a diretora social da Acelbra SC, Luiza Dadan Perini, informação é um dos principais aliados para quem é celíaco. “Mesmo conhecendo bastante a doença, eu demorei para chegar ao diagnóstico porque os sintomas eram muito inespecíficos. Os pacientes saíam chorando, apavorados”, diz Perini.

Com mais pessoas diagnosticadas e procurando alternativas, cresce também a consciência sobre a doença celíaca. Mas ainda há muito o que avançar, seja em políticas públicas, inclusão social ou acessibilidade a alimentos seguros. Enquanto isso, quem vive com a condição segue lutando por algo simples, mas essencial: o direito de comer em paz.

Confira a reportagem completa

*A reportagem é uma produção de Kleyton Carlos, Rodolfo Carreirão e Sofia Gonzalez. Com edição de texto de Vítor Filomeno, edição de imagens de Gustavo Nunes e Fernando Vieira, artes de Gustavo Nunes e imagens de Marne Menezes.

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