Outubro Rosa e de todas as cores: instituto ReConstruir acolhe vidas o ano todo
O projeto recebe, acolhe e atende pacientes diagnosticadas com câncer com serviços como atendimento psicológico, jurídico, social, nutricional, além de sessões de micropigmentação de reconstrução de sobrancelhas e das mamas
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“O nosso trabalho é feito o ano todo. É importante reforçar isso, porque as nossas pacientes costumam reclamar que elas só são lembradas no mês de outubro, nos outros meses não se sentem acolhidas. E oferecer esse acolhimento o ano todo é crucial para o tratamento.”
É assim que a fundadora do Instituto ReConstruir, Gisele Allebrandte, gosta de ressaltar o trabalho voluntário feito há 12 anos: com o Outubro Rosa e o ano todo colorido. O projeto, uma associação sem fins lucrativos, recebe, acolhe e atende pacientes diagnosticadas com câncer com serviços como atendimento psicológico, jurídico, social, nutricional, além de sessões de micropigmentação de reconstrução. Tudo de forma totalmente gratuita.
A associação busca criar uma rede de apoio que as mulheres possam contar. Além dos serviços, também são oferecidas atividades fora do ambiente hospitalar, como eventos ao ar livre, banhos em águas termais, passeios em hotéis parceiros em Florianópolis e festas para que elas se distraiam de suas rotinas.
Qualquer pessoa diagnosticada com câncer pode buscar pelo atendimento do Instituto ReConstruir, mesmo que seja comum e que haja muito mais mulheres uma vez que, segundo Gisele, homens procuram ajuda muito menos do que elas. E para começar basta entrar em contato diretamente com a fundadora, contar sua história, levar documentação e exames com o diagnóstico:
“Eu faço primeiro o acolhimento, busco saber tudo, para que elas realmente se abram e falem sobre elas. Eu faço uma entrevista com as pacientes e isso traz tanto aprendizado para a minha vida também. Inclusive, meu marido começou a se interessar pela área e se formou em psicanálise justamente para se aproximar das pacientes e ajudá-las diretamente”, conta Gisele sobre o processo inicial de acolhimento.
Em Santa Catarina, mais especificamente na Grande Florianópolis, o projeto atende 33 mulheres e já tem mais 15 pacientes na fila para iniciar o acolhimento. Como Gisele morava no Rio de Janeiro antes, o ReConstruir também atende 60 mulheres por lá, com atendimento presencial a cada três meses.
Entre as demandas das pacientes está a solicitação de remédios de alto valor para o Estado; a solicitação de aposentadoria por invalidez; o acompanhamento nutricional para enfrentar a quimioterapia de forma menos agressiva para o corpo; e o acompanhamento piscológico.
Gisele, como estetista, também faz atendimento com micropigmentação para seios e sobrancelhas, para auxiliar na autoestima das mulheres que enfrentam o tratamento.
Para atender todas as necessidades do grupo, o instituto conta com o apoio de voluntários como cinco diretores, uma assistente social, dois advogados, uma nutricionista e uma tatuadora.
A equipe do Primeiro Impacto SC, em parceria com o SCC10, também conheceu e conversou com uma das pacientes do projeto. Confira:
Acolhimento aos familiares
Além do apoio às pacientes, o instituto ReConstruir iniciou um projeto de encontros semanais de apoio psicológico para os familiares. Os encontros são toda quinta-feira, na sede do projeto que, hoje, é em uma sala comercial de Gisele em São José.
A médica mastologista e Professora Doutora pela USP, Rebeca Neves Heinzen, quando soube sobre o grupo de apoio aos familiares achou interessante e importante para o enfrentamento da doença.
“Esse tipo de iniciativa é uma coisa que a gente vê muito pouco na prática e essas doenças afetam muito a estrutura familiar. É comum que se cuide muito da paciente, mas não haja acompanhamento para a família, que está passando por medos também. Isso também pode causar danos emocionais aos familiares e é importante que eles estejam estruturados para que saibam lidar melhor com a doença e inclusive auxiliar a paciente”, explica Rebeca Heizen.
Ainda segundo a especialista, o acompanhamento aos familiares auxilia na forma de falar sobre a doença com a paciente.
“É muito importante que a família tente não trazer experiências pessoais, nem tente justificar a doença. Como, por exemplo, trazer situação emocional que a paciente poderia estar passando antes do diagnóstico. Apopulação sempre tenta procurar uma justificativa e isso pode acabar culpabilizando a paciente e pesando um comportamento pessoal na evolução da doença.”
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“Fui diagnosticada com câncer de mama, e agora?”
É comum que surjam diversas dúvidas logo após o diagnóstico. Para isso, a médica mastologista Rebeca Neves Heinzen reforça que o papel de uma rede de apoio é crucial inclusive antes do diagnóstico:
“Quando a paciente está para receber o laudo de biópsia de um profissional da saúde, é importante que ela vá acompanhada de alguém de confiança para dar suporte para ela. Nesse momento, o diagnóstico é tão dolorido que às vezes ela pode não absorver as instruções e informações sobre o assunto.”
Atrelado ao apoio de uma pessoa de confiança, é fundamental tirar todas as dúvidas possíveis com o especialista durante o atendimento. Ela frisa que deixar para pesquisar na internet, longe de um profissional, pode trazer efeitos negativos ao psicológico.
“Na internet as informações são jogadas livremente, então a ideia passada é que a doença é muito mais agressiva do que ela realmente é. Se a paciente for pesquiar na internet, que pesquise em sites confiáveis para não se assustar ainda mais.”
Outra indicação que a médica dá é falar abertamente sobre a doença. Ela explia que é importante relembrar isso para as pacientes, porque é comum, principalmente entre mulheres, que elas não queiram incomodar com seus problemas e “se a pessoa se fecha muito, ela não tem a rede de apoio tão necessária. É muito importante que seja desmistificada, porque falar mais sobre o assunto é bom para elas”.
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