“Cada cérebro é um mundo”: Neurocirurgião espanhol fala sobre procedimentos realizados em hospital de SC
Equipe do hospital participou de pesquisa internacional com três cirurgias de ressecção de tumores cerebrais em conjunto com comitiva espanhola
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Nesta semana, a equipe do departamento de Neurocirurgia/Neurologia do Hospital Regional do Oeste (HRO) recebeu o neurocirurgião e neurocientista cognitivo espanhol Jesús Martín-Fernández e a neuropsicóloga Natalía Maria Navarro Peris para a realização de três procedimentos visando a ressecção de tumores cerebrais.
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As cirurgias farão parte do trabalho internacional multicêntrico intitulado: “E-motions Test: Monitoramento e preservação do processamento emocional, cognição social e saúde mental em pacientes com tumor cerebral usando mapeamento cognitivo multimodal”, conduzido pelos espanhóis.
A equipe já passou por 22 países realizando a pesquisa e o HRO é o único hospital a ser admitido no estudo em todo o Sul do Brasil.
O neurocirurgião Marcelo Lemos Vieira Da Cunha, integrante do departamento de Neurocirurgia e Neurologia do HRO e responsável pelas cirurgias de tumor cerebral, explica que os espanhóis tiveram a sua vinda viabilizada devido ao trabalho já desenvolvido pela equipe do HRO, que realiza o procedimento há quase uma década.
Outro fator seminal que possibilitou essa integração com a equipe é a estrutura do centro cirúrgico o qual conta com moderno microscópio capaz de utilizar fluorescências (corantes) que delimitam o tumor a ser ressecado, ultrassom, aspirador ultrassonico e por ser, capaz de realizar transmissão de cirurgias ao vivo em alta qualidade para fins educacionais e de aperfeiçoamento cirúrgico encontrada em hospitais como Sírio-Libanês e o Albert Einstein.
Martín-Fernández destaca a estrutura do HRO. “Encontramos um hospital que está em perfeitas condições, com todo tipo de equipamento.”
“O que nos chamou a atenção foi a incrível organização que houve de tudo, e foi um prazer para nós. Estamos muito felizes, tudo saiu muito bem e esperamos voltar”, afirma.
A neuropsicóloga também elogia a recepção na instituição. “Eles se preocuparam em deixar tudo pronto para quando chegássemos. Os pacientes também estavam muito bem informados, os casos foram selecionados de acordo com toda a filosofia e técnica, então estamos encantados. Foi um prazer”, comenta.
Cunha ressalta a importância dessa interação internacional para estar que o HRO esteja na vanguarda das neurocirurgias para ressecção de tumores cerebrais.
“Essa visita importante marca um divisor de águas na Neurocirurgia Chapecoense. Isso tudo é fruto do empenho de todo o departamento de neurocirurgia do Hospital Regional, juntamente com o apoio extremamente importante da direção e órgãos governamentais, valorizando toda uma estrutura montada com dinheiro público em prol de toda a população do Oeste Catarinense”, ressalta Cunha.
Entenda a pesquisa
A cirurgia cognitiva com o paciente acordado tem como objetivo a preservação de todas as funções neurológicas do mesmo, mas a pesquisa de Martín-Fernández vai além, sem restringir a parte somente de movimentos e fala. Em 2023, ele realizou a primeira cirurgia acordada do mundo usando um teste baseado em inteligência artificial para preservar emoções após cirurgia de tumor cerebral.
A cirurgia com o paciente acordado é uma técnica já utilizada há anos, sobretudo visando a preservação de fala e movimentos do paciente. A inovação estudada e desenvolvida pelo Dr Jesús consiste em avaliar também as emoções essenciais a qualquer pessoa para uma adequada interação social utilizando ferramentas de inteligência artificial.
“O melhor exemplo para entender o porquê da cirurgia acordada é que cada cérebro é um mundo. Imagine que o cérebro é uma casa: Uma cirurgia com o paciente dormindo é entrar com a luz apagada, você vai tropeçando nas coisas, não sabe onde estão e, no final, não consegue controlar os resultados. Com a cirurgia acordada, é um pouco como acender a luz e ver onde está cada coisa e tentar deixá-la em seu lugar”, exemplifica o neurocirurgião espanhol.
Natalía explica também a importância da neuropsicologia no processo. “É fundamental, porque é ela que nos permite dar essa luz, essa orientação para que o neurocirurgião saiba a hora de retirar o tumor e localizar as áreas mais críticas das funções que queremos preservar”, ressalta.
Isso é possível através de testes realizados com o paciente antes e durante o procedimento, que permitem os profissionais saberem, de acordo com o desempenho e os resultados do teste, como proceder dentro do centro cirúrgico.
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