Falta de comida: crianças podem ter corpo e cérebro menos eficientes
60% das famílias não têm acesso pleno a alimentos; desnutrição pode prejudicar nova geração
• Atualizado
“Os números da insegurança alimentar preocupam no Brasil e no mundo porque a tendência é que sejam ainda piores no futuro”, alerta Rafael Zavala, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO-ONU).
Atualmente, mais de 33 milhões de brasileiros passam fome. Em apenas um ano, a quantidade quase dobrou, de acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid no Brasil.
Os dados foram coletadas entre novembro de 2021 e abril de 2022 em 12.745 domicílios, de 577 municípios nos 26 estados e Distrito Federal. Quase 59% da população vive em insegurança alimentar de algum grau – leve, moderado ou grave.
A cada 10 famílias brasileiras, seis não têm acesso pleno à comida. São 60% das crianças se desenvolvendo mal. Não é novidade que a desnutrição limita o crescimento, a formação de ossos, o sistema imunológico e até o cérebro.
Fato que preocupa do pediatra ao nutricionista. Do psicólogo ao pedagogo. Pois, como será a próxima geração de brasileiros? Para a Sociedade Brasileira de Pediatria, cinco nutrientes são essenciais para o desenvolvimento das crianças:
Ferro
As principais fontes são: carnes, fígado, cereais integrais, leguminosas e vegetais folhosos.
As manifestações clínicas da carência são: palidez, fadiga, apatia, anorexia e até geofagia (mania de comer terra).
Zinco
As principais fontes são: carnes (principalmente vermelhas), leite, queijos, cereais integrais e leguminosas.
O zinco tem importância na visão, percepção do paladar, cognição, reprodução celular, imunidade e maturação sexual.
Cálcio e vitamina D
As fontes de cálcio são: leite e derivados, vegetais verde-escuros, e as de vitamina D incluem leite e ovos.
Ambos são essenciais para os ossos. Aproximadamente 40% do pico de massa óssea são atingidos durante a puberdade.
Vitamina A
Os alimentos-fonte são: as frutas e os legumes alaranjados, como mamão, manga, abóbora e cenoura.
A vitamina A atua na manutenção da visão e das mucosas, que atuam como barreiras de proteção.
Proteínas
As principais fontes são: carnes, ovos, leite e derivados, além de vegetais como feijão, ervilha, lentilha, grão-de-bico e soja.
As proteínas são nutrientes essenciais para o crescimento linear e desenvolvimento infantil e construção de órgãos e tecidos.
Elas, que ao mesmo tempo estão entre os ingredientes que devem consumidos diariamente, também estão entre os itens mais caros da cesta básica dos brasileiros. As carnes tiveram reajuste de preço de mais de 30% em um ano no país, conforme o IBGE.
“Para as crianças as proteínas são fundamentais desde os 6 meses de vida. Quando começamos a introdução alimentar, o consumo de proteínas de alto valor biológico ajuda no desenvolvimento cognitivo”, de acordo com a nutricionista Fabiana Borrego.
A profissional também indica: “Devemos ingerir diariamente de 0,8 a 1,0 grama a cada quilo corporal que temos”. Mas como garantir esse valor nutricional mínimo para que tenhamos daqui alguns anos, adultos saudáveis fisicamente e cognitivamente.
Para a ONU, não faltam alimentos. O problema está na distribuição e renda. “Não é um problema derivado da produção, mas sim da pobreza e da desigualdade. Por outro lado, sob a perspectiva da produção agrícola, existe o desafio de produzir alimentos saudáveis a um custo mais baixo para torná-los mais acessíveis para a maioria das populações dos países”, explica Rafael.
O representante da ONU considera que, atualmente, ocorre uma “tempestade perfeita” para a insegurança alimentar porque existem fatores atuando juntos: conflitos armados, choques climáticos, choques econômicos e choques sanitários.
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