Além do prato: conheça a rica história cultural do entrevero de pinhão
A base do entrevero é uma tradição antiga
• Atualizado

Um dos pratos mais emblemáticos da culinária serrana o entrevero tem sua história de criação revisitada. Após anos de uma versão simplificada, a verdade por trás do surgimento do prato que conquistou Lages revela que não foi apenas uma pessoa a responsável por essa iguaria.
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Para desvendar os mistérios do entrevero de pinhão, a Rádio Clube recebeu no estúdio Sônia Gamboge, administradora e diretora agropecuária da Fazenda Pedras Brancas. Ela trouxe à tona detalhes inéditos sobre a origem do prato, corrigindo a percepção popular que muitas vezes atribuía a criação exclusivamente a Júlio Ramos.
Uma tradição centenária reinventada na fazenda
Sônia esclareceu que a base do entrevero é uma tradição antiga, enraizada na vida dos fazendeiros de Lages, incluindo seus bisavós, avós e os avós de Júlio Ramos. “Esse prato entrevero é um prato que é originário dos fazendeiros antigos. Do meu bisavô, do meu vô, do vô do Júlio”, revelou Sônia.
Antigamente, quando as lavouras eram plantadas e colhidas com muita mão de obra, era comum que, no horário do almoço, os trabalhadores se reunissem no campo. Com um disco de arado e uma fogueira improvisada, as mulheres da fazenda preparavam o pinhão cozido, charque picado, linguiça e outros ingredientes. Essa refeição era feita no próprio local para otimizar o tempo de trabalho. “Era uma comida normal, de família, uma tradição”, explica Sônia, ressaltando que muitos fazendeiros lageanos compartilhavam essa prática.
O surgimento do entreveiro moderno no turismo rural
A inovação que levou ao entrevero como o conhecemos hoje ocorreu com a criação do turismo rural na Fazenda Pedras Brancas, em 1985, a primeira experiência do tipo no Brasil. Inicialmente, o hotel da fazenda servia churrascos de porco, costelão de gado e carneiro. No entanto, um pedido de um hóspede mudou tudo.
Certa noite, um hóspede perguntou a Júlio Ramos e Sônia se eles não serviam algum petisco antes da refeição. A resposta rápida e improvisada de Júlio Ramos deu origem ao entrevero de pinhão. “Aquilo foi tão rápido, que a gente sempre com o pinhão pronto cozido”, lembra Sônia.
Júlio Ramos pegou o disco de arado, montou-o no fogão e começou a instruir os presentes. “Pessoal, vamos picar. Vamos lembrar das coisas que os avós faziam. Pica a linguiça, pica o charque. Vamos picando tudo em quadradinhos iguais e vamos montando.”
O processo começou com bacon picado no disco quente para soltar a gordura. Em seguida, foram adicionados o charque e a linguiça. Um detalhe crucial surgiu quando, ao experimentar a mistura, perceberam que estava um pouco salgada. “Daí o Júlio disse, manda tomate picado, fatiado, cebola e foi colocando os ingredientes ali pra tirar aquele sal. Na verdade era pra tirar o sal.” Alho e pimentão (verde, amarelo e vermelho) também foram incorporados para aprimorar o sabor e equilibrar o sal.,
Sônia enfatiza que estava ao lado de Júlio Ramos, ajudando a cortar os ingredientes enquanto ele preparava a base. A cena, com pessoas se juntando ao redor do disco de arado para observar a mistura, resultou em um prato “lindíssimo” que se tornou o entrevero que hoje é sinônimo de Lages e da Festa Nacional do Pinhão.
A história do entrevero, portanto, é uma bela fusão de tradição rural e inovação, criada a muitas mãos e saberes, perpetuando o legado das fazendas lageanas na gastronomia da região.
Matéria em colaboração com o repórter Evandro Gioppo
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