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Produção local

Agricultores familiares de Santa Catarina produzem as melhores cachaças do mundo

Este ano, dos 148 premiados, 25 foram de rótulos catarinenses.

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Viviane Abreu

Por Viviane Abreu

Foto: Amaral Camargo
Foto: Amaral Camargo

A 27ª edição do Concurso Mundial de Bruxelas, maior evento voltado para avaliação e premiação de destilados do mundo inteiro, concedeu a premiação máxima para duas cachaças catarinenses produzidas por agricultores familiares: Cachaça do Conde, de Orleans, e Cafundó da Serra, de Lauro Müller. As duas foram agraciadas com a grande medalha de ouro, que é concedida aos rótulos já premiados mediante uma segunda degustação, na qual são escolhidos as melhores do evento. O resultado da competição foi anunciado em novembro.

O concurso concede três tipos de prêmios: grandes medalhas de ouro, medalhas de ouro e medalhas de prata. Das 44 bebidas premiadas no concurso, 12 são catarinenses.  O destaque também ficou para uma aguardente do Engenho Borghezan, produzida por um agricultor de Grão-Pará, que recebeu a premiação ouro, e para a Cachaça Imigrante, de produtores de Pedras Grandes, premiados com prata. A Cafundó da Serra também teve um rótulo premiado com ouro pelo segundo ano consecutivo.

Esses empreendimentos catarinenses também vêm mostrando a qualidade dos seus produtos desde 2017 ao serem condecorados na Expocachaça, maior vitrine mundial da cachaça. Este ano, dos 148  premiados, 25 foram de rótulos catarinenses, dos quais os quatro ganhadores em Bruxelas também figuram na lista dos melhores no evento brasileiro.

A produção de cachaças diferenciadas pelos agricultores familiares se deve em parte ao trabalho da Estação Experimental da Epagri em Urussanga (EEUR), que no início dos anos de 1990 começou um trabalho de avaliação de cultivares de cana-de-açúcar para recomendação de plantio no estado, inclusive fornecendo mudas aos interessados. A unidade de pesquisa também possui um laboratório para análise dos destilados em diferentes processos da produção. Ali são avaliados parâmetros norteadores da qualidade da bebida, como grau alcoólico, acidez volátil, ésteres, aldeídos, cobre, entre outros. “Esses dados são fundamentais para ajustar a produção à qualidade desejada”, explica o pesquisador Stevan Arcari, responsável técnico pelo laboratório de bebidas da EEUR.

Foto: Tanoaria Espanha

O coordenador do Programa Gestão de Negócios e Mercados da Epagri no Sul Catarinense, Marcelo Pedroso, afirma que é um orgulho para Empresa ter participado dessa conquista, visto que ela é parceira dos agricultores no que diz respeito à legalização dos alambiques e das unidades engarrafadoras, à capacitação para boas práticas para a produção de uma cachaça de qualidade e ao apoio na comercialização.

A participação dos empreendimentos desses agricultores familiares nos dois concursos foi articulada pela Associação Catarinense dos Produtores Artesanais de Aguardente e Cachaça de Qualidade (Acapacq). Dentro do projeto da Acapacq para o fortalecimento e desenvolvimento da cachaça catarinense, a entidade recebeu recursos do Sebrae para que os associados pudessem promover as bebidas do estado. O concurso de Bruxelas foi uma dessas iniciativas, que teve o Sebrae à frente para viabilizar toda a burocracia.

“Com o resultado da Expocachaça, podemos dizer que Santa Catarina está entre os estados com as melhores cachaças do Brasil. Com as premiações em Bruxelas, podemos afirmar que temos as melhores cachaças do mundo”, diz o presidente da Acapacq, Leandro Melo. Ele afirma que o estado tem joias escondidas durante muitos anos e que agora estão aparecendo.

Para ele, Santa Catarina tem algumas peculiaridades que favorecem a produção de destilados diferenciados: “Temos uma variedade de clima e solo, contamos com descendentes de imigrantes de diferentes etnias com um modo único de saber fazer e nossos cultivos possuem rígido controle fitossanitário, assim como as unidades produtoras. Além disso, contamos com um fato histórico: fomos o primeiro estado que teve essa cultura de produzir e armazenar cachaça em barris de carvalho, diferente dos outros estados ”, diz Leandro.

Cachaça é um destilado primário do mosto da cana-de-açúcar fermentado. Ou seja, recebe essa denominação apenas a bebida feita da garapa da cana fermentada e destilada. Para ser comercializada, precisa ter registo no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

O controle de qualidade da cachaça artesanal começa lá no campo, no solo usado para o plantio, que deve ter pouca acidez e boa fertilidade. No cultivo da cana-de-açúcar também deve ser feito o controle de pragas para que resulte em matéria-prima de excelência. As variedades de cana também são importantes: Ricardo Sorato, da Cachaçaria Imigrante, relata usar desde cultivares superprecoces a supertardias, para ter colheita no ano todo. “O importante é que a colheita seja feita com a cultura  100% madura para não causar acidez no produto final. O corte da cana também tem que ter mão de obra qualificada, para que seja realizado de forma correta e lá no campo já seja feita a limpeza das impurezas”, explica.

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