Agricultura: como Brasil está buscando amenizar os impactos da guerra no setor?
Diretor da CNA destaca chance de faltar trigo, o que levaria ao aumento no preço de diversos produtos
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Passados 25 dias, os impactos econômicos da guerra na Ucrânia são sentidos em todo o mundo, nos mais diversos setores. No Brasil, o valor dos combustíveis foi o primeiro a afetar a população na última semana. Agora, as atenções estão voltadas à agricultura.
Um dos setores que mais movimentam dinheiro no país, a agricultura brasileira tem como principais importadores de fertilizantes e adubos a Rússia e a Bielorússia, responsáveis por pelo menos 23% do produto usado em território nacional, segundo a Comex Stat.
Quanto às preocupações e especulações sobre possíveis suspensões de envio por parte da Rússia, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou estar segura com a quantidade já adquirida. Sua preocupação, porém, gira em torno da elevação. Como forma de repúdio aos ataques à Ucrânia, muitas empresas petrolíferas estão interrompendo seus investimentos ou até mesmo deixando o país russo – caso da Shell, BP, Equinor e Total Energies.
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Apesar das sanções à Rússia e os impasses para o envio de fertilizantes — uma vez que há dificuldade no transporte e pagamentos após bloqueio dos bancos russos da Swift, principal sistema de finanças mundial –, as entregas de fertilizantes ao Brasil seguem normalmente, informou o Ministério da Agricultura. Segundo a pasta, em 4 de março uma carga de fertilizantes da empresa russa Acron saiu com destino ao país.
No último dia 11, o governo brasileiro lançou o Plano Nacional de Fetilizantes (PNF), que tem como objetivo reduzir em até 50% a dependência de importação nos próximos 28 anos. O plano é composto por 80 metas e 120 medidas estratégicas para até 2050.
No lançamento da iniciativa, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e a ministra Tereza Cristina ressaltaram que o PNF já estava sendo pautado há algum tempo. Cristina destacou que as principais diretrizes do plano são a sustentabilidade, investimentos em ciência e tecnologia, segurança jurídica e governança.
Na visão do diretor da Secretaria Executiva do Ministério da Agricultura, Luis Eduardo Rangel, a criação do projeto “coincide com a guerra e aumento substancial do preço dos fertilizantes”.
“Nós temos uma dependência que chega a 80% ou mais. Está na hora de entendermos a necessidade de mitigarmos essa dependência. Se não nos tornarmos auto suficientes, pelo menos não ficarmos tão dependentes nesta proporção”, pontuou.
Riscos
Para o diretor técnico da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Bruno Lucchi, “de imediato, acredita-se que não haverá problemas para a segunda safra, mas os preços podem aumentar de forma significativa até o meio do ano, e a terceira safra – 22 e 23 – poderia ser a menor, também a mais preocupante para os agricultores”.
Lucchi enfatiza a necessidade de cautela diante do atual cenário, que não está concreto nem possibilita a perspectiva de como o preço e a entrega dos produtos vão se desenhar nos próximos dias e meses.
“A gente precisa realmente ter cautela nesse momento e avaliar como todas as questões ligadas à guerra estarão se equacionando, até mesmo para que o produtor possa estudar quais seriam as melhores estratégias para esse momento”, ponderou.
Uma das maiores preocupações com relação à importação de produtos agrícolas é o aumento dos preços da alimentação em território nacional. O diretor da CNA comenta que a Rússia e Ucrânia são responsáveis por 30% do mercado internacional das exportações de trigo – precursor de várias farinhas usado em grande parte da alimentação animal. “Então, se houver problema com o plantio, isso poderá impactar seriamente o valor não apenas da alimentação humana, mas principalmente a animal, o que encarece as proteínas: carne, leite e ovos.”
Outro destaque é que, além do preço dos fertilizantes, a instabilidade política gera aumento no dólar, que onera muito o produtor rural que depende diretamente de produtos do exterior.
“É preciso mais tempo para avaliar como vai ser o desdobramento da guerra para saber como o agricultor brasileiro e, consequentemente a população, serão afetados”, concluiu Bruno Lucchi.
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