Especialista afirma que “Putin fará da Ucrânia o seu quintal”
Em entrevista ao SBT, a professora Maristela Basso comentou o segundo dia de conflito no território ucraniano
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Em entrevista ao SBT, a professora de direito internacional da Universidade de São Paulo (USP) Maristela Basso comentou os desdobramentos do segundo dia de conflito na Ucrânia, invadida pela Rússia na quinta-feira (24).
Confira a entrevista, concedida aos jornalistas Darlisson Dutra e Marcelo Torres, com participação do correspondente internacional Sérgio Utsch:
Qual é o desdobramento deste segundo dia de guerra?
A Ucrânia está completamente sozinha. Os parceiros que pareciam alinhados, como Joe Biden, a União Europeia e Otan, parecem que recuaram e deixaram o presidente da Ucrânia completamente sozinho. O presidente Biden disse ontem que não mandaria nenhum soldado. Essa é uma das mais altas traições que se pode fazer a um parceiro. Então, nesse momento, o presidente da Ucrânia vê que os aliados não são aliados, que ele foi usado como um braço de ferro para fazer uma frente contra Putin, que foi e fez o que tinha dito que faria. A qualquer momento, as tropas russas chegam ao palácio do presidente. Ele pediu para negociar com a Rússia. Se a Rússia chegar mesmo ao palácio do presidente, não vai matá-lo, como se fazia no passado. O que os russos vão fazer é negociar com ele. O que ele pode negociar: uma anistia – ele sair e tocar a vida dele normalmente. Ele pode ser preso e negociar alguns benefícios, ou ele pode negociar de partir para o exílio. Já a Rússia, não vai anexar a Ucrânia porque é caro. Provavelmente o Putin vai destituir o presidente e vai colocar alguém da confiança do governo. Depois, vai negociar as eleições. Como ele mesmo disse, os ucranianos que ficarem na Ucrânia têm todo o direito de escolher o seu próprio destino. Então aí, nós teremos um período de transição para as eleições, seja lá de que forma for. O presidente da Ucrânia não era um homem da política, era um artista. Ele não foi forjado na política interna e nem internacional. Então, confiou demasiadamente. Putin estava pronto para invadir a Ucrânia. De boa fé, o presidente confiou que não estava sozinho, e contava com a amizade da Otan. Mesmo não sendo membro, se fosse precisar de recursos bélicos ia recorrer ao Conselho de Segurança da Onu. Mas ele sabia que se recorresse ao Conselho, não conseguiria que se movimentasse porque haveria o veto de qualquer ação militar em defesa da Ucrânia da Rússia e China, que são membros do Conselho permanente. Então, ele sabia que não contaria com o Conselho de Segurança da Onu, mas contaria com a amizade militar dos países do Ocidente, sobretudo Estados Unidos e União Europeia.
Uma pressão pessoal sobre o Putin pode causar um efeito que as outras sanções não causaram?
Putin está há muito tempo no poder. Ele tem bens que os permite viver de forma razoável, independentemente das sanções. Ele busca um patrimônio maior que o econômico. Para ele, o maior patrimônio é sair nos livros da história russa contemporânea como o presidente que redefiniu as fronteiras da Rússia. Que não refundou a União Soviética, mas recuperou territórios perdidos, segundo a interpretação dele, nos acordos que terminaram com a Guerra Fria. A Ucrânia nunca será completamente independente porque Putin fará do país o seu quintal. Em nome disso, ele está disposto a perder qualquer coisa.
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