Por que se relacionar nunca foi tão difícil?
Não há consenso. Mas, se você está se sentindo assim, leia este texto.
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Se antes bastava um olhar e uma boa conversa para um romance começar, hoje tudo se resume a uma curtida nas redes sociais e uma espera que parece infinita. Ninguém se move ou toma uma atitude. O máximo que muitos fazem é reagir a uma foto e torcer para que o destino resolva o resto.
Não há consenso. Mas, se você está se sentindo assim, leia este texto.
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A frase “os homens de hoje em dia não são mais como os de antigamente” é frequente entre grupos de amigas. Mas a ideia não é romantizar um passado machista, e sim apontar como a atitude da “classe” mudou em alguns aspectos.
Ah! E antes que você pense “mulheres também podem ter atitude“, precisamos avisar que a desculpa já foi debatida. Enquanto se luta para descontruir a ideia de que somente os homens devem ter esse papel, o “ghosting” se populariza.
Voltando. Antes, eles se esforçavam para conquistar, impressionar, “mimar“. Agora, muitos nem sabem decidir um lugar para sair. “Onde você quer ir?” se tornou o sinônimo da falta de iniciativa masculina.
E, quando finalmente um date acontece, tudo vira um jogo silencioso de “quem demonstra menos“. Perguntar demais ou demonstrar o mínimo pode ser taxado como “emocionado“.
A ironia? Nunca estivemos tão disponíveis e, ao mesmo tempo, tão inacessíveis.
Conexões reais, onde encontrar?
As festas, antes cenário perfeito para encontros casuais, se transformaram em vitrines. Olhares que se cruzam, mas não conectam. Há flerte, mas não atitude. As pessoas se observam, mas ninguém faz nada.
Nem mesmo os aplicativos de relacionamento, antes grandes aliados, escaparam dessa nova maneira de se relacionar. Viram apenas catálogos, em que o objetivo é um match que massageie o ego.
E, se por um milagre, a conversa avança, pode durar meses sem sair do mundo virtual. O que deveria ser um convite para um encontro real se perde em mensagens espaçadas, respostas monossilábicas e a eterna promessa de que “um dia a gente marca“.
Plot! Esse dia raramente chega.
“Uma curtida em uma foto ou mesmo um story já pode ser uma forma de prender o outro emocionalmente por algum tempo. Além disso, muitas pessoas não estão interessadas verdadeiramente no outro, mas em receber uma validação para si mesmos. Sendo assim, ser desejado e requisitado, ainda que apenas online, já pode trazer satisfação o suficiente para alguns”, pondera a psicóloga Marina Garcia.
Apagão sexual
A pesquisa Mosaico 2.0, realizada no Brasil, revela que os jovens de 18 a 25 anos são os que mais consideram o sexo de pouca ou nenhuma importância na vida.
Sabemos que isso não se limita à faixa, e atualmente ocorre em todas as idades.
Já um estudo internacional do Instituto Karolinska, em parceria com a Universidade de Washington, identificou um fenômeno chamado “apagão sexual” na Geração Z.
Muitos relataram não ter tido relações sexuais no último ano, um dado que evidencia uma mudança significativa nos comportamentos.
Para o sexólogo Renan de Paula, essa transformação tem várias razões. Primeiro, a tecnologia reformulou como nos relacionamos.
Hoje, o prazer pode ser encontrado de várias maneiras: sozinho, com brinquedos, virtualmente ou até mesmo por meio de conteúdos pagos. O sexo deixou de ser algo limitado ao encontro entre duas pessoas.
Além disso, a hiper conectividade criou um paradoxo: facilitou o acesso a possíveis parceiros, mas também banalizou o interesse verdadeiro.
Quando há infinitas opções, ninguém se sente motivado a investir esforço real em alguém. Tudo parece substituível.
Falta maturidade?
Outro fator que pesa é a diferença de amadurecimento entre homens e mulheres. Enquanto muitas mulheres batalham por uma carreira e elevam os padrões para um relacionamento, uma parcela dos homens ainda vive uma vida de adolescente aos 25+.
Se antes era natural que eles tivessem emprego e planos, agora muitos continuam presos a uma fase de imaturidade, sem grandes ambições. E isso, em uma balança de dois pratos, traz desequilíbrio.
Além disso, as mulheres já tomam decisões o tempo todo — no trabalho, na vida financeira, no futuro. E muitas não querem ter que decidir tudo em um relacionamento também.
Às vezes, elas só querem que alguém diga: “Te pego às 20h“. Pequenos gestos de decisão e atitude fazem diferença.
Mas, se o homem não corresponde ao que se espera, a mulher simplesmente segue em frente. Exigências aumentaram. Se um detalhe desagrada, basta deslizar para o lado.
Cuidado, você está sendo filmado
O medo da exposição também pesa. Ninguém quer mostrar vulnerabilidade. Quem se declara primeiro parece “fraco“. Elogiar virou sinônimo de “se iludir“.
Até o menor erro pode ser fotografado, gravado e transformado em piada pública nas redes sociais. O resultado? Pessoas que nunca se mostram de verdade, sempre temendo o julgamento.
E assim, seguimos vivendo nesse eterno impasse. Todo mundo quer se conectar, mas ninguém sabe mais como.
Qual a solução?
“Não podemos controlar o desejo ou as ações do outro. O que resta é maturidade e coragem para lidar com o que possa acontecer”, aconselha Marina Garcia.
“Se eu puder fazer uma sugestão, seria para que, especialmente as mulheres, se fortaleçam emocionalmente para não se despedaçar com uma rejeição que, inclusive, pode dizer muito mais sobre o outro do que sobre elas”, aconselha a psicóloga.
“Em um mundo com relações tão rasas, que não se sintam mal por sentir, demonstrar, se importar com o outro. Isso vale para os homens também”, continua Garcia.
“Se desejamos ver uma mudança na forma como estamos nos relacionando atualmente, que possamos também bancar esse desejo. Se o outro não tem maturidade ou não está disposto a corresponder, que saibamos que isso não define nosso valor”, finaliza a psicóloga Marina Garcia.
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