Universidade de SC auxilia idosos com o uso da tecnologia
Os encontros ocorrem semanalmente e reúnem cerca de 35 estudantes e mais de 40 idosos
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Desenvolvido para transformar a relação da população idosa com a tecnologia, a Prefeitura de Chapecó, em parceria com a Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), criou o projeto Mentes Digitais 60+.
Realizado por acadêmicos da Universidade com turmas da Cidade do Idoso, a oficina tem proporcionado diversas práticas sobre o uso de celulares, aplicativos essenciais, segurança digital e navegação na internet. Os encontros acontecem todas as quintas-feiras, no período matutino e vespertino, no Pollen Parque Científico e Tecnológico, apoiador do projeto.
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Ministrada por acadêmicos da primeira fase dos cursos de Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Biomedicina da Uno, a oficina entra como parte das disciplinas de Aprendizagem Baseada em Experiências (ABEx). Os encontros ocorrem semanalmente no quinto andar do Pollen e reúnem cerca de 35 estudantes e mais de 40 idosos em três turmas, duas pela manhã e uma no período da tarde.
Mais do que ensinar a usar aparelhos tecnológicos, o projeto promove autonomia, acesso à informação e maior qualidade de vida aos participantes. Um dos objetivos é facilitar o uso de ferramentas como o aplicativo do Sistema Único de Saúde (SUS), do Governo Federal (EGOV) e outros serviços voltados à saúde e cidadania.
Tecnologia intergeracional
O professor Sandro de Oliveira, coordenador dos cursos de Ciência da Computação e Sistemas da Informação, conta que os estudantes se preparam com orientações sobre comunicação, respeito e escuta para atender de forma correta os idosos participantes. “Ele (o curso) prepara as habilidades pessoais, as soft skills, você tem que ensinar, precisa ter muita paciência”.
Segundo o acadêmico do 1º período de Ciência da Computação, Igor Andreis, os materiais apresentados são preparados durante a semana, com o intuito de identificar dificuldades apresentadas pelos alunos nas últimas aulas e, após resolvidas, dar segmento no conteúdo tecnológico.
“Inicialmente sentimos um pouco a dificuldade por não saber a melhor forma de conduzir as aulas, mas o público idoso sempre foi muito receptivo conosco e sempre demonstraram muita disposição e vontade de aprender, o que nos ajudou muito a ter uma melhor interação com eles e também uma melhor elaboração das aulas”, afirmou.
Para dar sequência nas atividades, o grupo de calouros deseja continuar o trabalho com os idosos, mesmo após o fim da disciplina, expandindo os atendimentos para o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) da EFAPI, como Atividade Curricular Complementar (ACC).
Além de beneficiar os idosos, a iniciativa também fortalece o desenvolvimento dos estudantes. Eduarda Nardi, acadêmica de Ciência da Computação, a experiência, além de impactar emocionalmente os discentes, também contribui para a formação acadêmica.
“O contato com esse público nos fez perceber que, apesar da tecnologia estar amplamente presente em nossas vidas, muitos idosos são alijados de seu uso. Isso nos trouxe uma nova perspectiva sobre a importância da inclusão digital e a necessidade de abordagens mais empáticas e adaptadas ao ensinar essas habilidades”, definiu.
A experiência já gerou resultados marcantes. Um dos idosos, por exemplo, trocou o antigo celular com teclas e apareceu com um smartphone moderno já na segunda aula para poder acompanhar melhor os ensinamentos repassados. “A gente vê que eles se ocupam bastante, tem muita curiosidade, porque é algo extremamente novo para essa geração”, completa o professor Sandro.
Biomedicina e a Gerontologia
O curso de Biomedicina se insere no programa com o objetivo de auxiliar os estudantes com o uso de aplicativos de saúde, tanto os disponibilizados pela Prefeitura, como os do governo. O intuito é garantir que este público consiga acessar os serviços essenciais no dia a dia ou em casos de emergências.
Além da parte tecnológica, o curso também desenvolve habilidades profissionais no projeto, com o ensino dedicado à terceira idade, também conhecido como Gerontologia.“O contato direto com o público idoso é fundamental para que os acadêmicos compreendam melhor suas necessidades e possam pensar em soluções práticas, humanas e inovadoras voltadas à saúde e ao bem-estar dessa população”, explica a coordenadora do curso, Paula Deboni.
A coordenadora ainda reforça a importância dos idosos em receber essa atenção com o uso das tecnologias, não apenas para facilitar, mas também para promover autonomia, inclusão e qualidade de vida.
“Ao mesmo tempo, é uma experiência enriquecedora para os acadêmicos, que passam a enxergar o envelhecimento com mais respeito, sensibilidade e consciência do seu papel como futuros profissionais da saúde”, finalizou.
Para os estudantes, um dos principais desafios é adaptar a linguagem técnica, adotando uma comunicação informal e simples, facilitando a compreensão da turma de idosos. “Além disso, utilizamos configurações diferenciadas na preparação dos materiais entregues a eles, como fontes maiores, cores fortes e destaque para palavras-chave”, explicaram as acadêmicas de Biomedicina, Yasmin Tonello, Nicoly Facenda e Enaile Evelyn de Sá Rosa.
“Essa história de internet…”
Sentada na segunda fileira, com um celular na mão, um óculos rosa e uma disposição contagiante, estava a dona Noema. Com 79 anos e impressionantes 15 netos, ela decidiu que queria saber mais sobre as redes sociais e claro, recebeu todo o apoio da família.
Participante do programa Cidade do Idoso desde o primeiro dia, há 17 anos, assim que soube da criação de um curso de tecnologia voltado à terceira idade, com aulas ministradas por discentes da Uno, ela disse “mas já estou lá!”. E ela veio, e saiu radiante com o que aprendeu.
“Aprendi o que eu queria demais aprender: mexer no Youtube, tirar foto e o aplicativo do INSS, que esse nós precisamos saber”, destacou Noema, com um sorriso enorme no rosto.
Mais do que aprendizagem, a moradora de Chapecó há 46 anos não mensurou palavras ao elogiar os estudantes de Biomedicina que a auxiliaram. “Mas são uns amados. Muito atenciosos, tratam o idoso como eu nem imaginava, vou levar muito ensinamento”.
Já para Waterloo, apesar de não imaginar um dia estar atualizado das tecnologias, é necessário se aperfeiçoar um pouquinho de cada vez. Em sua segunda aula, ele tinha algumas dúvidas sobre o Facebook, que agora conseguiu esclarecer.
“Essa história da internet… Eu pelo menos nunca achei que eu ia andar com o celular na mão, né? Então a gente tem que aprender o básico e eu gostei do curso”. Com seus 80 anos, ele decidiu buscar conhecimento por iniciativa própria, contando com a ajuda da Universidade.
Com um nome carregado de história, Waterloo também representa um grupo disposto a continuar a busca pelo conhecimento, independente da idade ou qualquer outro desafio pertinente, pois chegou a hora de “finalmente enfrentar a sua Waterloo”, (como diria o Abba).
A iniciativa faz parte do programa Chapecó Inovadora, que visa promover a inclusão digital e a autonomia da população idosa do município. Para o secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação, Márcio da Paixão, o projeto Mentes Digitais 60+ busca melhorar a autonomia e o empoderamento dos idosos.
“A ideia é ampliar o acesso e o domínio da tecnologia para pessoas com mais de 60 anos e capacitá-los para utilizar os serviços digitais, as ferramentas digitais e aprender a utilizar a internet com mais segurança”, destacou.
Com o sucesso da proposta e o envolvimento de todos os envolvidos, a intenção é que a parceria se estenda e faça parte de um projeto ainda maior, com continuidade nas próximas fases.
Sob supervisão de Rubens Felipe.
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