UFSC aprova retirada de nome de ex-reitor do campus; entenda
Decisão foi tomada por 56 votos favoráveis durante sessão do Conselho Universitário nesta terça-feira (18).
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O Conselho Universitário (CUn) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) aprovou, na tarde desta terça-feira (18), a retirada do nome do ex-reitor João David Ferreira Lima do campus-sede da instituição, localizado no bairro Trindade, em Florianópolis. A decisão foi aprovada por 56 votos favoráveis e celebrada com aplausos por representantes da comunidade acadêmica, movimentos sociais e público presente no Auditório Garapuvu.
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A proposta foi analisada em uma sessão especial, originalmente prevista para a última sexta-feira (14), mas adiada após um pedido de vistas. Para a mudança ser aprovada, o CUn exigiu voto aberto e quórum qualificado de três quintos dos conselheiros.
Histórico da decisão
A alteração do nome do campus atende à recomendação nº 6 da Comissão Memória e Verdade (CMV-UFSC), que investigou vínculos de ex-dirigentes universitários com o regime militar brasileiro (1964-1985). O parecer aprovado foi apresentado pelo conselheiro Hamilton de Godoy Wielewicki, que defendeu a mudança com base em documentos e depoimentos coletados pela comissão.
Segundo a CMV, Ferreira Lima teria colaborado com a repressão ao movimento estudantil e a perseguição de docentes durante sua gestão como reitor. O relator afirmou que a manutenção da homenagem contrariava os princípios democráticos e os direitos humanos defendidos pela universidade.
No novo texto sugerido para o Estatuto da UFSC, a instituição passa a ser descrita apenas como “Campus Universitário localizado no Bairro Trindade”, sem referência nominal ao ex-reitor.
Voto divergente e pedido de consulta pública
O conselheiro Alexandre D’Avila da Cunha, representante da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), foi o primeiro a se manifestar, apresentando voto contrário à mudança. Ele argumentou que a comissão interpretou os fatos com uma “lente distorcida”, desconsiderando o contexto autoritário da época e a pressão imposta aos gestores públicos.
Para Cunha, não há provas concretas de que Ferreira Lima tenha sido responsável direto por perseguições. O conselheiro sugeriu, caso sua posição fosse vencida, que a UFSC realizasse uma consulta pública à comunidade antes de qualquer alteração — proposta que acabou rejeitada.
Debates e manifestações
A sessão desta terça foi a quarta dedicada ao tema e contou com forte presença de estudantes, servidores, professores, ex-reitores e familiares de vítimas da ditadura. Entre os discursos, houve defesa da mudança como reparação histórica, mas também manifestações em apoio ao ex-reitor.
Beatriz Galotti, neta do professor José do Patrocínio Galotti — perseguido em 1964 —, criticou o uso do nome de seu avô na defesa de Ferreira Lima. Já José Rafael Mamigonian, filho do professor Armen Mamigonian, apresentou documentos que, segundo ele, mostram que o ex-reitor denunciou docentes e alunos à repressão militar.
A advogada da família de Ferreira Lima, Heloísa Blasi Rodrigues, contestou o relatório da CMV, apontando inconsistências nos documentos utilizados. Ela alegou que não houve punições diretas decorrentes das ações do ex-reitor e que parte das comunicações citadas eram protocolares e determinadas por normas da época, como o Ato Institucional nº 1.
Caminho até a decisão
A análise do tema teve início com o relatório da Comissão de Encaminhamento das Recomendações (CER), presidida pelo professor Daniel Castelan. Ele destacou a necessidade de rever homenagens a figuras ligadas ao regime militar e afirmou que a universidade não pode perpetuar símbolos associados à repressão.
Castelan rebateu a defesa da família e defendeu que o ex-reitor colaborou com a ditadura ao fornecer informações sobre membros da comunidade universitária. “Calou a universidade”, declarou.
A Resolução 16/2025, aprovada anteriormente pelo CUn, embasou o processo ao reconhecer a competência da universidade para alterar a denominação de seus espaços.
Marco institucional
A decisão do Conselho Universitário representa um marco simbólico para a UFSC. Além de reafirmar a autonomia universitária, a mudança sinaliza um posicionamento claro em defesa da democracia, dos direitos humanos e da memória institucional.
O novo nome do campus ainda não foi definido e deverá ser discutido em etapas posteriores.
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