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CUIDADO SEMPRE

Beleza e sequelas: os riscos por trás dos procedimentos estéticos

Especialistas alertam sobre banalização de procedimentos estéticos e a necessidade de orientação qualificada

• Atualizado

Sarah Falcão

Por Sarah Falcão

Foto: Freepik/Ilustrativa
Foto: Freepik/Ilustrativa

Necrose, deformações no corpo e complicações. Esses são alguns relatos de pacientes que realizaram procedimentos estéticos buscando autoestima, mas saíram com sequelas emocionais. A oferta de procedimentos feitas por profissionais não habilitados preocupa especialistas e acende alertas de riscos muitas vezes desconhecidos.

De acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), em 2023, o Brasil registrou cerca de 3,3 milhões de procedimentos estéticos, se consolidando como o segundo país do mundo que mais realiza esse tipo de intervenção.

Esse número expressivo nos ajuda a entender o crescimento do interesse das pessoas por esses e o consequente aumento das complicações. Fazer um procedimento estético não é errado, mas é importante compreender o que leva a essa decisão, realizar o processo de escolha do profissional com cuidado e ter acompanhamento médico.

Riscos físicos e complicações

A dermatologista Bianca Gastaldi alerta que, qualquer intervenção, mesmo minimamente invasiva, exige acompanhamento médico e habilidade técnica de um profissional.

“Não é porque é estético que não pode inclusive trazer risco de morte. Estamos vendo uma banalização muito grande de procedimentos sendo realizados em consultório principalmente de profissionais não médicos, sem suporte para complicações anestésicas, vasculares ou complicações como reações anafiláticas”, explica.

Além disso, a dermatologista afirma que um bom procedimento é aquele que proporciona resultados sutis, sem que seja percebido.

“Sinais de complicação são dor e mudança de coloração na pele do local preenchido que podem sinalizar um comprometimento da circulação por injeção inadequada do produto e isto pode gerar necrose”, diz.

Casos recentes, como o da modelo Karim Kamada, de 51 anos, que teve necrose na pele e inflamações após um procedimento estético com enzimas, reforçam a necessidade de cuidado na escolha de clínicas e profissionais. O procedimento foi realizado em uma clínica estética de Jaraguá do Sul e é investigado pela Polícia Civil (PCSC) e pelo Ministério Público de Santa Catarina.

Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

O caso não foi diferente com a neuropsicopedagoga Leticia Mello, que sofreu deformações no corpo após passar por 12 cirurgias no mesmo dia. O procedimento foi realizado em 2024.

Na primeira consulta com o médico, o objetivo inicial da mulher era trocar as próteses de silicone e saber mais sobre uma técnica de lipoaspiração. No entanto, o médico sugeriu outros procedimentos.

Em entrevista ao SCC SBT, a paciente afirmou que não foi informada sobre os riscos e a complexidade dos procedimentos, que duraram 10 horas, com a remoção de 7 quilos de gordura.

Após o procedimento, ela ficou 11 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mais de dois meses internada.

Mulher tem corpo deformado após cirurgia plástica em SC | Foto: Arquivo Pessoal/Cedido ao SCC SBT

Padrões de beleza e comparação

Ao SCC10, as psicólogas Alexia Truppel e Vanessa Castro reforçaram alguns fatores que tem levado tantas pessoas a buscar esse tipo de intervenção.

“É como uma forma de lidar com a baixa autoestima e o desejo de se sentirem melhores consigo mesmas. As redes sociais, especialmente o Instagram, têm um papel importante nesse movimento — elas criam um espaço de comparação constante, onde surgem padrões idealizados e uma tendência de querer se parecer com os outros”, explica Vanessa Castro.

A psicóloga observa que existem motivações distintas entre quem busca esse tipo de tratamento. Segundo ela, há um grupo específico que realiza pequenas mudanças de forma consciente e saudável, sabendo exatamente o que deseja e por quais razões.

No entanto, há aquelas que acabam enxergando o procedimento como uma forma de aprovação ou pertencimento.

“Nesses casos, a motivação costuma estar mais ligada à insegurança e à necessidade de se sentir aceita”, explica.

Para ela, influenciadores e filtros digitais têm contribuído para um aumento de distorções da autoimagem.

“A ideia de perfeição que se constrói nas redes, com filtros e edições, distancia as pessoas da realidade. Elas passam a rejeitar suas particularidades e a se enxergar com base em um ideal impossível de alcançar.”

Quando o procedimento não corresponde ao que o paciente imaginou, pode surgir frustração e ansiedade.

“Dependendo da intensidade dessa expectativa, o impacto pode ser significativo, gerando ansiedade, tristeza e até sintomas depressivos. Em alguns casos, a experiência pode ser vivida como algo traumático”, esclarece.

Quando o procedimento deixa de ser saudável

A psicóloga alerta que a busca por melhorar a aparência deixa de ser saudável quando pessoa perde o contato com a própria identidade e busca se enquadrar em padrões.

“Quando os procedimentos se tornam frequentes e há uma necessidade constante de mudar algo, é um sinal de que o foco saiu do cuidado e foi para a tentativa de suprir algo emocionalmente insatisfeito”, conclui.

Como escolher um profissional habilitado?

A dermatologista Bianca Gastaldi deu algumas dicas de como um paciente pode verificar se o profissional é realmente habilitado. Confira o passo a passo.

  1. No site do Conselho Federal de Medicina, procure por “buscar médico”;
  2. Digitar o nome do profissional;
  3. Procure o CRM, um atestado que confere o aval de atuação para o profissional formado em Medicina, ou o Registro de Qualificação de Especialidade (RQE), documento que atesta a formação médica em determinada especialidade.

“O que mais temos na medicina hoje são médicos se dizendo especialistas sem ser e inventando especialidades que não existem para passar uma falsa autoridade em redes sociais”, finaliza.

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