Feminicídios desafiam o título de “estado mais seguro do Brasil”; SC já soma 47 casos em 2025
Com dados atualizados obtidos pelo SCC10, a reportagem traça um panorama dos feminicídios registrados nos últimos meses, mostrando como a violência contra mulheres segue se repetindo de forma brutal
• Atualizado
No dia 25 de novembro, quando o mundo reforça o alerta pelo Dia Internacional de Luta pelo Fim da Violência contra a Mulher, Santa Catarina expõe uma contradição que desafia o discurso de eficiência em segurança pública. Embora tenha sido reconhecido, novamente, como o estado mais seguro do Brasil, liderando o ranking do Anuário Cidades Mais Seguras do Brasil com a menor taxa de mortes violentas do país (8,6 por 100 mil habitantes, frente aos 23 da média nacional) o território catarinense convive com índices persistentes e alarmantes de feminicídio. São números que destoam de todos os demais indicadores criminais e que revelam uma “epidemia” silenciosa que segue vitimando mulheres de diferentes idades, perfis e cidades.
Entre janeiro e novembro de 2025, 47 feminicídios foram registrados. Número que se aproxima da média anual dos últimos cinco anos. Apenas no mês de novembro, nove mulheres foram assassinadas em crimes motivados por violência de gênero, a maioria dentro de contextos de relacionamento ou convivência familiar.
A série histórica confirma um padrão: Santa Catarina registrou:
- 57 feminicídios em 2020;
- 55 em 2021;
- 57 em 2022,
- 57 em 2023;
- 51 em 2024.
Caso o ritmo atual se mantenha, 2025 deverá encerrar com saldo próximo ou até superior ao dos anos anteriores. Ou seja, mesmo enquanto o estado reduz significativamente outros tipos de violência, o assassinato de mulheres pelo simples fato de serem mulheres permanece praticamente estável.
Brutalidade que assusta ainda mais
Os casos registrados desde agosto deste ano ilustram a brutalidade e a diversidade dos cenários em que o feminicídio ocorre. Em apenas 15 dias Santa Catarina somou três crimes desse tipo, o mesmo número de todo o mês de agosto de 2024. No dia 2, em Florianópolis, uma mulher de 61 anos foi morta dentro de casa pelo próprio filho, crime que expõe o quanto a violência doméstica, muitas vezes, se instala no ambiente familiar.

Dias depois, em Gaspar, Dalva Paterno da Silva, de 56 anos, foi assassinada pelo ex-companheiro, mesmo estando sob proteção judicial. A existência de uma medida protetiva não inibiu o agressor, reforçando questionamentos sobre fiscalizações e mecanismos de acompanhamento.

No Oeste do estado, em Maravilha, a professora Andréia Sotoriva, de 38 anos, foi morta dentro de uma loja pelo ex-companheiro, que não aceitava o fim do relacionamento. A execução em plena área comercial chamou a atenção pela ousadia do agressor, que não hesitou em agir em público para consumar o crime. Já no início do ano, em Palhoça, na Grande Florianópolis, uma jovem de apenas 19 anos foi morta a facadas pelo companheiro.

Outro feminicídio que chocou o estado ocorreu no fim de outubro, em Lages, na Serra. Alaide Cristina Varela Teixeira da Luz foi assassinada a facadas pelo ex-companheiro em plena avenida, em frente à panificadora onde trabalhava. O crime ocorreu por volta das 8h, em zona de movimento intenso, o que indica a escalada da violência e a perda total de controle do agressor. Logo depois ele tentou tirar a própria vida.

Já o caso mais recente, envolvendo a estudante de pós-graduação Catarina Kasten, de 31 anos, comoveu Santa Catarina e ganhou repercussão nacional. Catarina saiu de casa na manhã de 21 de novembro para uma aula de natação, na região do Pântano do Sul, na capital, mas não retornou. Após horas de ausência, o companheiro da vítima acionou a polícia. As buscas foram iniciadas imediatamente, e os pertences da jovem foram encontrados na trilha de acesso à Praia do Matadeiro, no Sul da Ilha de Santa Catarina.

Pouco depois, moradores e policiais localizaram o corpo em uma área de mata, com sinais de violência. Segundo informações confirmadas pela Polícia Civil, o suspeito, Giovane Mayer, de 20 anos, teria estrangulado Catarina e cometido violência sexual antes de abandonar o corpo na trilha. Imagens de câmeras de segurança o flagraram circulando na região no mesmo horário em que a jovem desapareceu.
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