Michelle vira “peça-chave” para atrair o eleitorado feminino a Bolsonaro
Primeira-dama tem ganhado protagonismo na campanha, reforçando palanque e fazendo discursos
• Atualizado
A primeira-dama Michelle Bolsonaro vem ganhando cada vez mais destaque na campanha do marido, Jair Bolsonaro (PL). Aposta dos estrategistas de campanha para alavancar o desempenho do marido entre o eleitorado feminino, Michelle tem ido de cultos e vigílias no Palácio do Planalto, em Brasília, a participações no palanque de aliados do partido.
Com discursos em tom religioso, voltado para às mulheres e a família, especialistas avaliam que a mulher de Bolsonaro transmite emoção na fala e está à vontade ao microfone. Tem sido assim desde que subiu ao palco, no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, e fez sua estreia na convenção que confirmou a candidatura de Bolsonaro (PL) à reeleição para a presidência, no último domingo de julho (24).
“A Michelle, apesar de ser discreta no geral, está sendo pensada justamente como uma carta na manga na campanha de Bolsonaro, tanto pelo fato dela ser evangélica devota quanto por ser uma mulher jovem”, explica Caio Barbosa, cientista político da Universidade de São Paulo (USP).
“Além de poder estreitar os laços com o eleitorado evangélico, o maior objetivo é tentar reduzir a rejeição de Bolsonaro entre as eleitoras. Utilizar Michelle na campanha pode ser uma estratégia para mostrar que, apesar do estilo bruto de ser, Bolsonaro é um bom marido, e que faz muito pelas mulheres brasileiras, como ela ressaltou no seu discurso do lançamento da campanha”, pontua.
Pesquisadora em gênero e política na Universidade de Humboldt, mestra e doutoranda em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), Hannah Maruci explica que, apesar da presença das esposas não ser novidade no palanque ao lado dos candidatos, Michelle pode ter um papel diferente no pleito deste ano.
“Michelle vem para reforçar a ideia da mulher como coesão familiar, defensora dos valores morais e assim faz um trabalho de se aproximar das mulheres que se identificam com valores mais conservadores”, afirma.
A especialista também avalia que como as mulheres formam maioria do eleitorado brasileiro, a participação da primeira-dama se torna ainda mais fundamental diante de uma eleição polarizada.
“Acredito que essa participação ganha mais destaque nessa eleição, pois temos historicamente um crescimento da visibilidade das mulheres na política e se tomou consciência de o eleitorado das mulheres pode decidir a eleição. Nesse ano, as mulheres são a maioria dos eleitores e conquistar o voto delas entra então como uma prioridade dos presidenciáveis”, avalia.
Cultos no Planalto e no Alvorada
No domingo (31) Michelle divulgou um vídeo em suas redes sociais em que aparece cantando e pregando ao lado de fiéis nos Palácios da Alvorada e do Planalto, em Brasília, respectivamente à residência oficial e o local de trabalho de Jair Bolsonaro. Michelle que é evangélica, ligada à Igreja Batista, estava com uma bíblia na mão.
Há uma semana a primeira-dama publicou um vídeo com um grupo de religiosos no gabinete do presidente. Na postagem, 13 pessoas aparecem cantando uma música gospel “Pelo Sangue” que diz no refrão: “Somos redimidos, sim. Pelo sangue carmesim. Pelo sangue de Jesus no Calvário!”.
A palavra carmemsim é usada na Bíblia para traduzir pelo menos três palavras hebraicas e tem mais de um significado, mas o principal deles é o tom mais vivo da cor vermelha a que se assemelha ao sangue de Jesus Cristo. O grupo estava reunido na parte do gabinete onde ficam sofás e que Bolsonaro normalmente usa para receber delegações estrangeiras e fazer conversas mais informais.
Na convenção do Partido Liberal, no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, Michelle discursou por 12 minutos e citou Deus mais de dez vezes. Durante a fala para os apoiadores de Bolsonaro, a primeira-dama revelou que todas as terças-feiras espera o marido deixar o Palácio do Planalto para ir até o gabinete dele e rezar.
Carisma contra crises
A avaliação do QG da campanha do presidente Jair Bolsonaro é que a primeira-dama pode fazer com que o eleitorado feminino diminua a resistência ao nome de Bolsonaro já que pesquisas internas da sigla e levantamentos feitos por órgãos de imprensa revelam uma taxa alta de rejeição. A participação de Michelle na convenção mostrou que ela cedeu à pressão e que deve participar de forma efetiva dos roteiros pelo Brasil.
No sábado (30), a primeira-dama voltou a dividir o palanque com o marido, durante o lançamento da candidatura do ex-ministro Tarcísio de Freitas a governador de São Paulo. Em seu discurso, Bolsonaro aproveitou para exaltar a mulher.
O presidente chamou Michelle de sua “dona”, apontou feitos de seu governo relacionados a pessoas com deficiências auditivas, os quais, segundo o presidente, foram ideias da primeira-dama, e disse ser mais feliz após o casamento.
Assessores de Bolsonaro preparam uma agenda própria para que a primeira-dama também viaje pelo país para propagar ações que foram feitas na gestão do marido.
Sinais positivos
As últimas pesquisas mostram que a atuação de Michelle vem surtindo efeitos positivos no eleitorado feminino, com expectativa de crescimento nos próximos meses.
Pesquisa Datafolha divulgada na última quinta-feira (28) mostrou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) cresceu 6 pontos percentuais — valor acima da margem de erro, de 2pp — entre as mulheres, na comparação com levantamento anterior. A diferença entre o atual chefe do Executivo e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) neste segmento do eleitorado, que já foi de 28 pontos percentuais (49% x 21%), agora é de 19 pontos (46% x 27%).
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