Especialistas apontam erros na metodologia dos institutos de pesquisas eleitorais
Para Leonardo Barreto, é preciso obter dados em todos os estados para levantamentos mais precisos
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Depois do resultado do primeiro turno no domingo (2), dúvidas têm sido levantadas sobre as pesquisas eleitorais. Os levantamentos, apesar de terem acertado no desempenho do ex-presidente Lula (PT), erraram ao mostrar o candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), muito abaixo do que foi demonstrado nas urnas.
Para o cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília, o que se observa agora é uma crise das pesquisas de amostra única nacional, ou seja, de usar apesar uma amostra para pesquisar o Brasil inteiro num único estudo. “Acredita-se que para a pesquisa ser confiável ela precisa ser grande, isso não é verdade”, diz.
“Para a pesquisa ser boa, a amostra precisa espelhar aquilo que é a sociedade, e o fato é que a sociedade brasileira é muito desigual. Está muito difícil fazer esse espelhamento”, explica Barreto.
Em entrevista ao Agenda do Poder desta terça-feira (4), ele disse que uma pesquisa eleitoral mais precisa consiste em fazer levantamento estado por estado, e só então agregar os dados para chegar ao resultado nacional. “Existia uma dificuldade técnica de captar o voto do Bolsonaro, e essas questões que o pessoal está falando de espiral do silêncio, sobre voto envergonhado, indecisos, abstenção, tudo isso influência nesse processo”, pontua.
Na corrida ao Planalto, o presidente Jair Bolsonaro, que oscilava na faixa dos 35% nas pesquisas eleitorais, obteve 43% dos votos válidos, contra 47% de Lula – que aparecia com 50%. Para Barreto, a expectativa agora é que os candidatos busquem estratégias para conquistarem os votos que lhes faltaram para definir a disputa logo no primeiro turno.
“Lula só tem essa condição de favorito por causa do Nordeste. Isso traz uma questão estratégica para Bolsonaro que não é simples. Ele deve se concentrar em focar no Nordeste para tentar reduzir essa diferença, sabendo que nessas regiões há muito voto de lealdade, que é um voto difícil de virar, ou ele deve se concentrar nos colégios eleitorais mais amigáveis para tentar abrir mais frente.”
Foco no 2º turno
Neste cenário, o cientista político explica que o papel dos aliados é muito importante. Nesta terça-feira (4), Bolsonaro se encontra com o governador reeleito do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL). Ele já declarou apoio ao presidente. Os dois e a equipe de campanha podem alinhar as estratégias daqui para frente. Depois da vitória em Minas, Romeu Zema, do Novo, falou que não vai apoiar o PT no 2º turno. Ele também teve reunião com Bolsonaro.
“Essa questão com os governadores deve ser prioridade pra ele [Bolsonaro], e tem que achar uma estratégia para pelo menos reduzir o dano no Nordeste. Eu vejo que ele talvez deva colocar a Damares e a Michelle para fazer um tour pelo Nordeste, para tentar ajudá-lo nesse sentido”, afirma Barreto.
A ex-ministra da Mulher, Damares Alves, foi eleita senadora pelo Distrito Federal, com mais de 684 mil votos. Já a primeira-dama Michelle Bolsonaro tem sido a aposta do presidente para conquistar mais simpatia do eleitorado, sobretudo o feminino.
“Olhando para esse cenário e olhando que o Brasil é mais conservador, Lula deve evitar temas mais progressistas, falar mais sobre economia, e ele tem até um certo conforto em virar votos em regiões onde o PT já foi muito forte”, arremata o cientista político.
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