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Prazer Feminino

Dia do orgasmo: os tabus que atrapalham a sexualidade feminina

Uma pesquisa de 2019 da Prosex mostrou que 78% das mulheres não se sentem satisfeitas com a vida sexual, sendo que 26,2% não atingem o orgasmo

• Atualizado

Jéssica Schmidt

Por Jéssica Schmidt

Imagem Ilustrativa. Foto: Banco de Imagens | Freepik
Imagem Ilustrativa. Foto: Banco de Imagens | Freepik

Já é possível ver uma breve mudança de paradigmas, mas a sexualidade feminina ainda é vista com tabus, preconceito, crenças limitantes e muita censura.

Vivemos numa sociedade em que as mulheres aprendem desde o início da vida que precisam ser comportadas, que não podem falar abertamente sobre sexo, sobre o próprio prazer e seus desejos.

Apesar de alguns avanços decorrentes das lutas em busca da igualdade de gênero, elas continuam sendo educadas dentro de uma estrutura conservadora, numa sociedade que julga mulheres que falam abertamente sobre sexualidade.

É fato que todo esse sistema torna cada vez mais distante a mulher viver e sentir o prazer sexual, livre de culpas, de todos os medos e insegurança.

Hoje, 31 de julho, é celebrado o Dia do Orgasmo. Que tal aproveitar a data para chegar ao clímax de muitas maneiras?

Ficção

The Bold Type, uma série lançada em 2017, conta a história de três amigas: Jane Sloan (Katie Stevens), Kat Edison (Aisha Dee) e Sutton Brady (Meghann Fahy), e a realidade delas enquanto empregadas de uma revista feminina de grande porte, a Scarlet Magazine.

No segundo episódio, Jacqueline Carlyle (Melora Hardin), editora-chefe da Scarlet, sugere que Jane cubra a coluna de sexo e fale exclusivamente sobre “Melhor orgasmo”. Relutante, Jacqueline a deixa sem escolhas. Em “O Hell No”, Jane inicia a busca por seu primeiro orgasmo. Confessando esse segredo às amigas, de maneira tímida e envergonhada, soando até mesmo como culpa, Jane entende que a realidade de mulheres que nunca tiveram a experiência não é absurda, tão pouco pequena.

Estatisticamente falando, uma pesquisa de 2019 do Projeto de Sexualidade da Universidade de São Paulo (Prosex), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que 78% das mulheres não se sentem satisfeitas com a vida sexual, sendo que 26,2% não atingem o orgasmo. Já um estudo da Archives of Sexual Behavior do mesmo ano apontou que 58,8% das entrevistadas disseram ter fingido orgasmo alguma vez.

O enredo traz para The Bold Type a possibilidade de tocar em um tabu: a da desmotivação dada às mulheres em explorar seus corpos e o próprio prazer. O episódio abre porta para que Jane procure novas experiências sexuais, principalmente sozinha.

Realidade

Longe da ficção, percebe-se um aumento no número de pessoas que falam sobre sexualidade feminina, principalmente utilizando-se das redes sociais. Rita de Cássia Domingos, de 36 anos, é uma delas.

Desde muito cedo, entendeu que falar sobre sexo não deveria ser um tabu. Era a amiga que sempre tocava no assunto e percebia o quanto muitas de seu círculo ainda sentiam certa timidez, e até mesmo preferiam mudar o rumo da conversa.

O caminho para falar de sexualidade abertamente foi por meio de uma página no Instagram. Lá, ela começou dando dicas e trazendo postagens bem-humoradas. Mas, foi na pandemia que Rita decidiu utilizar desta página e empreender, criando o Erotices Sex Shop on-line. Pensando em não somente comercializar os produtos eróticos, a empreendedora se especializou em sex coach, ou coach em sexualidade.

“O curso de sex coach surgiu após abrir a loja e movimentar o Instagram. Muitas mulheres me procuravam sempre com algum desabafo, problema ou situação. Foi então que soube que uma das marcas de produtos que eu vendo possui uma plataforma chamada “Universidade a Sós”. Aproveitei a oportunidade para me especializar e ajudar mulheres a entenderem os motivos pelos quais não chegam ao orgasmo”, destaca a empreendedora.

Durante as aulas, foi possível aprender desde a história da sexualidade, anatomia, até as técnicas de coach. “Assim, usando técnicas voltadas para a sexualidade, eu consigo nortear e tentar ajudar a mulher a trabalhar tabus e crenças limitantes”, afirma.

Sexo e tabu

Não chegar ao orgasmo pode ser reflexo de diversos fatores. Segundo Rita, de todos os estudos e experiências de relatos em mentorias, a maioria das mulheres não “chega lá” porque não conhece o próprio corpo. “Elas relatam que tem vergonha do corpo, de se tocar, de dizer para o outro do que gosta, mas principalmente por não se conhecer, não saber como sentir prazer e excitação”, diz a especialista.

E os motivos são diversos: tabu, a criação familiar e o preconceito. Rita relembra o que muitas escutam desde a infância: “Tira a mão daí”, “Não se toca”, “É feio”, “É sujo”.

“Ouvir todas essas frases traz para nosso inconsciente de que a sexualidade deve ser tratada com preconceito e, infelizmente, isso vai nos bloqueando. Se a mulher não conhece o próprio corpo, ela deixa de conhecer os pontos que a farão chegar ao orgasmo com mais facilidade. Além disso, precisamos de muito mais estímulos para conseguir atingir o ápice do prazer”, informa.

Masturbação

Outro estudo divulgado pelo portal inglês Metro, que envolveu mais de 15 mil pessoas, concluiu que a igualdade sexual ainda está longe de ser alcançada. Isso se dá, porque estatisticamente, os homens se masturbam duas vezes e meia mais do que as mulheres.

Entre os entrevistados, é amplamente aceito que os homens falam sobre autoprazer mais do que as mulheres, provavelmente porque é mais socialmente aceitável. Enquanto isso, quase um terço acredita que a masturbação feminina está manchada de vergonha e negatividade, então não é de se admirar que os homens globalmente estejam em média tendo mais tempo a sós do que as mulheres.

De acordo com uma enquete do Erotices sex shop realizada este mês, 88% das mulheres já teve um orgasmo, 52% tem facilidade de chagar ao orgasmo e 96% se masturba. Ainda na enquete, 89% se sente “nas nuvens” após o orgasmo e 54% utilizam os produtos eróticos para atingir o prazer máximo.

No perfil da empreendedora, é possível perceber que boa parte do público se sente à vontade com o assunto. 85% das pessoas que responderam a pesquisa afirmaram conseguir falar abertamente com o parceiro sobre como gosta da relação sexual. Inclusive, 58% afirmou que não ter um orgasmo é responsabilidade dos dois.

Em contrapartida, um número expressivo de mulheres já fingiu orgasmo. 69% disseram não ter chegado lá e mentiram para seus parceiros (as).

Produtos eróticos e prazer

Os produtos eróticos são aliados do prazer. Tanto para facilitar e melhorar o orgasmo, quanto para apimentar uma relação. A sex coach destaca que o lubrificante é um deles.

“Ele vai ajudar na masturbação feminina sem machucar o clitóris, por exemplo. O vibrador líquido, que na composição tem Jambu, uma erva encontrada na região norte do Brasil, é responsável por pequenas vibrações no clitóris. Lembrando que o órgão possui oito mil terminações nervosas, o que o torna responsável por quase todo prazer feminino, além da penetração seja pelo pênis, seja pelo vibrador”.

Rita de Cássia reforça que, caso a mulher sinta dor ou desconforto durante a relação sexual e masturbação, o indicado é procurar um profissional para auxiliar.  

Em uma relação a sós ou em casal, pode-se aproveitar da diversidade de produtos, formatos, tamanhos, sabores e texturas para chegar ao orgasmo com mais facilidade e diversão.

Na série mencionada no começo da matéria, a personagem Jane Sloan consulta uma sexóloga e tenta práticas diferentes de estimulação. Após todas as pesquisas e conversas, ela consegue atingir o primeiro orgasmo durante uma relação sexual.

Quando se trata de orgasmo, conhecer o próprio corpo e se permitir sentir prazer é fundamental. Com gentileza e sem cobranças, a mulher terá muito mais possibilidades de chegar ao prazer máximo. Aproveite as experiências!

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