Cérebro menor, gastrite, dores, fadiga: entenda a síndrome pós-covid
Médicos observam série de complicações decorrentes da doença que podem surgir meses após a recuperação
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Angelina, 47 anos, relata dificuldades de concentração, problemas pulmonares e vista embaçada. Mariana, 22 anos, sente gastrite e inflamação nas articulações. Thaís, 20 anos, conta ter enxaqueca aguda. Apesar dos relatos distintos, cada uma dessas pacientes têm algo em comum: recuperaram-se da covid-19 e passaram a desenvolver sintomas que nunca haviam se manifestado antes.
De acordo com o Ministério da Saúde, no mundo todo, profissionais de saúde observam uma série de complicações decorrentes da doença que podem surgir meses após resolvido o quadro de infecção pelo SARS-CoV-2. Parte dos pacientes recuperados podem apresentar problemas cardíacos, neurológicos, dermatológicos e pulmonares, entre outros.
“Tive covid em setembro de 2020 e precisei ser internada. Depois disso, desenvolvi pressão limítrofe, problemas de circulação e pulmonares, vista embaçada e dificuldades de concentração. Fiz consultas com angiologista, clínico geral e cardiologista”, lembra a concurseira Angelina Morais, de 47 anos.
Já a estudante Thaís Luiza, de 20 anos, contraiu o novo coronavírus em 2021. “Nunca tive dores de cabeça, mas durante a covid tive várias crises e, depois de me recuperar, tenho enxaquecas constantes”, relata.
A condição pode ser definida como síndrome pós-covid e engloba o conjunto de sinais e sintomas relacionados aos pacientes que se recuperaram da covid-19. “Dor de cabeça, que é um uma queixa frequente dentre esses pacientes, fadiga, principalmente para esforços físicos, dificuldade de concentração, ansiedade, dor nas juntas, além também de alterações de apetite ou mesmo olfato e paladar”, explica o médico infectologista Hemerson Luz.
Segundo ele, os sintomas persistentes, também chamados de covid longa, têm sido registrados em diversos pacientes, mesmo aqueles que tiveram um quadro mais leve da doença. Em geral, os que apresentaram quadros mais graves e que necessitaram de suporte de oxigênio, como Angelina, por exemplo, podem ter sequelas pulmonares que levam à necessidade de reabilitação ou acompanhamento constante junto a profissionais.
A designer Mariana Vasques, de 22 anos, está constantemente em sessões de fisioterapia e precisa tomar medicações para gastrite. Ela teve covid duas vezes. A primeira, em 2020, mais forte, fez com que ela desenvolvesse fadiga constante. A segunda, já em 2022, com sintomas mais fracos por causa da vacina, resultou em outra sequela, desta vez no sistema gastrointestinal. “Fui no médico achando que era gastrite nervosa, mas ele me explicou que a covid inibe um dos processos da digestão”, conta.
Mariana relata ainda que nunca teve problemas nas articulações. No entanto, após a covid, percebeu inchaços no joelho. “Fui informada pelo ortopedista que isso piorou por conta das inflamações nas articulações, uma das sequelas da covid”, diz.
Segundo estudo da Escola de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis, nos Estados Unidos, os sintomas mais comuns da síndrome pós-covid podem incluir ainda derrame cerebral, diabetes, dificuldades respiratórias, danos ao coração, fígado e rins, depressão e perda de memória.
Alterações no cérebro
Pesquisa feita pela Universidade de Oxford e publicada na revista científica Nature mostra que a covid-19 pode reduzir o tamanho do cérebro e da massa cinzenta em zonas que controlam emoção e memória.
“Há fortes evidências de anormalidades relacionadas ao cérebro na covid-19”, diz o artigo. Segundo o estudo, os participantes infectados mostraram, em média, maior declínio cognitivo. “Se esse impacto pode ser parcialmente revertido, ou se esses efeitos persistirão a longo prazo, continua a ser investigado com acompanhamento adicional”, acrescenta.
Outro estudo da Universidade de São Paulo (USP) feito com 425 pacientes que se recuperaram das formas moderada e grave da covid-19, observou alta prevalência de déficits cognitivos e transtornos psiquiátricos. As avaliações dos pacientes foram feitas entre seis e nove meses após a alta hospitalar do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
Mais da metade (51,1%) dos participantes relatou ter percebido declínio da memória após a infecção e outros 13,6% desenvolveram transtorno de estresse pós-traumático. O transtorno de ansiedade generalizada foi diagnosticado em 15,5% dos voluntários. Já o diagnóstico de depressão foi identificado em 8% dos pacientes.
Tratamento
“As sequelas vão durar de acordo com a gravidade do quadro do doente e da sua condição pré-covid. Então, se era um paciente que já apresentava problemas cardíacos, pode ter complicações maiores no coração e assim por diante”, explica Igor Queiroz, doutor em doenças infecciosas e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI),
“O tratamento existe a depender dos sintomas. O paciente com dificuldade para respirar vai ser acompanhado por pneumologista. Se tem alguma alteração neurológica ou psiquiátrica, fazer acompanhamento com neurologista ou psiquiatra, e assim o manejo vai sendo levado adiante até que o paciente se sinta melhor”, afirma.
Segundo o infectologista Hemerson Luz, é aconselhado ainda o retorno gradual das atividades que o paciente estava habituado a praticar antes de contrair a doença. “Ele [paciente] não deve ficar parado, mas sim retornar aos poucos, retomando a sua capacidade física, sempre com orientação de algum preparador físico, tendo a participação também de nutricionistas e outros profissionais”, arremata.
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