Você pensa que pode tudo? Talvez esse seja o problema!
Vivemos na sociedade do desempenho, na ditadura da felicidade. Tudo potencializado pelas redes sociais, onde a ordem é vender a melhor imagem, o-tempo-todo!
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A esta altura você deve ter visto alguma variação do meme sucesso do fim de ano “Então é Natal, e o que você fez? Eu? Eu fiz o que foi possível, oras!”. Não sei vocês, mas eu achei simplesmente fantástico! Isso deveria ser o nosso mantra da vida toda, mas se a gente conseguir encerrar 2020 com esse sentimento de forma genuína no nosso coração, será uma libertação sem tamanho!
Vivemos na sociedade do desempenho, na ditadura da felicidade e na era do empoderamento do indivíduo. Tudo isso potencializado pelas redes sociais, onde a ordem é vender a melhor imagem de si mesmo, o-tempo-todo! E nem ano com pandemia foi suficiente para amenizar essa pressão toda. Não demorou para surgir a onda de “leia todos os livros que você deixou de ler”, “coloque suas séries em dia”, “aproveite para fazer cursos online”, “exercite-se em casa”, “conecte-se, medite, faça Yoga”, etc., etc. etc.
Agora, olhando para trás e percebendo que não atingiu todas estas metas, como você se sente? Ah… Quem entra em cena então é a nossa grande conhecida e companheira, a culpa… Como se manter-se vivo e inteiro, enquanto um vírus desconhecido e mortal (ainda) circula lá fora, já não fosse ocupação suficiente. Só que não! O indivíduo empoderado e dono da sua felicidade nunca descansa, segue se cobrando o melhor desempenho sempre, custe o que lhe custar.
A gente cresce ouvindo que pode tudo, basta querer. No ímpeto de motivar, engajar e mover para a ação, pais, professores, instrutores de esporte e outras tantas atividades – isso sem contar o capítulo inteiro dedicado aos coaches, todos com as melhores intenções repetem essa lei. E não me interpretem mal, não estou dizendo aqui que isso não tem um efeito positivo, afinal quem não aprende que precisa de esforço para realizar, passa a vida acreditando (apenas) em milagres e ao invés de agir, espera que eles venham lhe salvar. O que estou querendo dizer aqui é que quando a gente persegue cegamente esse ideal de que pode tudo, esquece que falhar faz parte do caminho. E que está tudo bem.
Está tudo bem não ler todos os livros, ver todas as séries, ou não ser uma autoridade fitness e exemplo de paz interior. Vocês conhecem aquela frase: todos estão enfrentando uma batalha que você não sabe nada a respeito, seja gentil. Então que tal ser gentil com você mesmo? Olhe para as suas batalhas, respeite a sua luta, reconheça suas fraquezas, abrace a sua dor. Está tudo bem.
Estou escrevendo aqui em primeira pessoa. Escrevo para mim como uma autorização, uma anotação mental para não esquecer disso que eu sempre esqueço. Este texto está há semanas atrasado. Quando aceitei o convite para escrever neste espaço, me comprometi a fazer entregas quinzenais e pensei que seria excelente ter um compromisso externo que me motivasse a me organizar e produzir mais, já que adoro escrever, mas dificilmente conseguia manter uma disciplina de frequência. E consegui! Fiz 3 entregas comprometidas com este prazo auto imposto! E aí, vieram os filhos, o marido, os compromissos de trabalho, a reforma em casa, o cansaço, e as milhares de justificativas verdadeiras, que no fim são apenas justificativas. E falhei.
Mas desta vez, ao invés de embarcar na culpa e na autocobrança, resolvi fazer este texto de final de ano, para me lembrar e também para compartilhar com todos que possam estar com este sentimento difícil de engolir sobre um ano complexo que nos trouxe não apenas para dentro de casa, mas para dentro da gente mesmo.
Integralidade
Era para eu escrever sobre carreira e emprego, mas eu acredito na integralidade do ser humano. Para pensar em trabalho, a gente tem que pensar na gente antes. O quanto desse aprendizado de que você pode tudo lhe traz uma autoexigência cruel e lhe faz ultrapassar os limites da própria saúde física e mental, prejudicando no final das contas, ora, veja bem, o seu próprio desempenho? Por mais contraintuitivo que seja, fazer pausas conscientes, parar para se olhar e se cuidar nos faz sim mais produtivos e eficientes.
O cérebro precisa de espaço em branco para criar, caso contrário, vira uma máquina de reprodução, muito eficaz, é verdade, mas nada criativa. De que maneira não se permitir falhar lhe aprisiona num modelo engessado de profissional que não arrisca e não aprende pelo simples medo de não ser perfeito? Errar não é apenas aceitável, é necessário. Errar é sinal de que se ousou testar algo novo e para testar algo novo, você precisa localizar um problema, formular uma hipótese, projetar uma solução e colocar em prática. Depois de tudo, se o teste não der certo, tarde demais, pois aí a gente já absorveu de uma forma irrevogável o aprendizado da experiência toda.
Então este é meu recado de fim de ano e meu desejo de ano novo: admita que você não pode tudo, você faz o que pode. Faça tudo o que pode, sempre, e quando não der para fazer tudo, diga para você mesmo que está tudo bem. Um 2021 com mais amor e gentileza com a gente mesmo!
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