Mais de 50 mil mortes no Brasil por ano são associadas ao consumo de alimentos ultraprocessados, diz estudo
Muitas pesquisas apontam que o consumo de produtos ultraprocessados está relacionado ao aumento de peso e ao risco de várias doenças não transmissíveis
• Atualizado
Um recente estudo produzido por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo), da Fiocruz, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e da Universidad de Santiago de Chile apontou que dos 541,2 mil óbitos de indivíduos entre 30 e 69 anos no Brasil por ano, 57 mil são associadas ao consumo de alimentos ultraprocessados.
O artigo foi publicado na segunda-feira (7) na revista científica American Journal of Preventive Medicine e calculou o número de mortes. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) considera morte prematura abaixo de 70 anos, por conseguinte, 10,5% puderam ser associados aos alimentos ultraprocessados.
O que são alimentos ultraprocessados?
Os ultraprocessados são formulações industriais feitas com partes de alimentos e que geralmente contêm aditivos como corantes, conservantes e aromatizantes sintetizados em laboratório: são guloseimas industrializadas, salgadinhos de pacote, refrigerantes, pizzas, lasanhas congeladas, salsichas, nuggets de frango, etc.
Alerta!
Esses números representam só para se ter uma ideia, mais do que o total de homicídios no país no mesmo período que foram 45,5 mil em 2019, segundo o Atlas da Violência e do que a soma de mortes ao ano por câncer de pulmão (28,6 mil) e de mama (18 mil), os dois tipos de tumores que mais matam no país, segundo dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer). Ao todo, 541,1 mil pessoas de 30 a 69 anos morreram no Brasil em 2019.
Desse total de mortes, consideradas prematuras, 57 mil, ou 10,5%, foram associadas ao consumo de ultraprocessados, segundo a estimativa do modelo. A maioria das mortes atribuíveis aos ultraprocessados ocorreu entre homens (60%). Em relação à faixa etária, os óbitos foram mais numerosos entre pessoas entre 50 e 69 anos (68%).
Os achados desse estudo servem como alerta para a população, já que o consumo de ultraprocessados cresceu 20% nos últimos dez anos no país, o que representa entre 13% e 21% dos alimentos consumidos pelos brasileiros.
“Buscamos quantificar, mostrar a prioridade pública, que é a questão dos ultraprocessados no Brasil. Isso é uma questão mundial. É muito importante encarar isso como um problema de saúde pública, trabalhar em políticas que favoreçam escolhas saudáveis a partir do padrão alimentar. É isso que vai preservar o que temos de cultura alimentar brasileira”, afirma em uma entrevista para o R7, o principal autor do estudo, o pesquisador Eduardo Nilson, do Nupens/USP (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde/Universidade de São Paulo) e da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
As consequências dos ultraprocessados
Muitas pesquisas apontam que o consumo de produtos ultraprocessados está relacionado ao aumento de peso e ao risco de várias doenças não transmissíveis, como diabetes, problemas cardiovasculares e câncer. De acordo com a última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, em média, 19,7% das calorias ingeridas pelos brasileiros vêm de alimentos ultraprocessados.
Os pesquisadores estimaram ainda os óbitos que poderiam ser evitados se o consumo total desses produtos por parte dos brasileiros diminuísse. Caso a população reduzisse a proporção de ultraprocessados na ingestão diária, em 10%, 20% ou 50%, seriam poupadas 5,9 mil, 12 mil e 29,3 mil vidas por ano, respectivamente.
“A gente vê uma tendência de crescimento dos ultraprocessados substituindo a dieta tradicional. Há vários motivos para isso, mas um fator determinante é, sem dúvidas, o preço: temos estudos mostrando que há uma tendência de redução nos preços dos ultraprocessados, enquanto o de alimentos frescos, in natura e minimamente processados está crescendo. Isso é muito cruel porque afeta principalmente as populações de menor renda, mais vulneráveis”, reiterou o pesquisador Eduardo Nilson, do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens).
Os próximos passos dos pesquisadores incluem pesquisas para quantificar não apenas o número de mortes, mas também os impactos econômicos do consumo de alimentos ultraprocessados, já que esse tipo dieta é responsável por internações hospitalares, falta ao trabalho e afastamento previdenciário.
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