Melissa Amaral

Doutora e Mestre pelo PPGEGC/UFSC. Pós-doutoranda. Pesquisadora no grupo de pesquisa CoMovI em Sustentabilidade Organizacional, ESG, Empreendedorismo e Empoderamento da Mulher.


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Inovação urbana

Sustentabilidade: o início, o meio e o fim das cidades inteligentes

Ser inteligente não é somente ter mais tecnologia, e sim vislumbrar um futuro sustentável para todas as pessoas.

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Sustentabilidade: o início, o meio e o fim das cidades inteligentes | Foto: reprodução
Sustentabilidade: o início, o meio e o fim das cidades inteligentes | Foto: reprodução

Estive recentemente em Gramado, fui conversar com o pessoal da radio Massa Serra Gaúcha sobre ESG e sustentabilidade e aproveitei para passear, porque ninguém é de ferro. Mas tanto na conversa com a equipe e enquanto caminhava por lá, percebi o tamanho do potencial que essa cidade incrível tem. Fiquei pensando no quanto admiro essa cidade e sua capacidade de se reinventar, a construção civil de vento em popa, bares, restaurantes e lojas fechados (mas para reforma, fazendo melhorias), e muitas novas atrações. Tudo isso pouco tempo depois que todo o nosso Rio Grande do Sul passou pela tragédia das enchentes, que impactou o estado todo.

Mas não é só Gramado que me provoca reflexões. Florianópolis, com sua energia criativa e tecnológica, também me desperta esse olhar. Com tantos desafios, o tempo todo melhorando e crescendo. Com um povo tão misturado, afinal aqui temos os donos do pedaço, os manezinhos, mas temos pessoas de toda santa Catarina e de todo o Brasil (quem não quer vir morar no paraíso?) que ajudam Floripa a ser o objeto de desejo de muita gente.


E, claro, não posso deixar de mencionar Lages, minha cidade natal, com sua identidade cultural tão forte e um povo sofrido e muito trabalhador. O que essas cidades, e tantas outras no Brasil, têm em comum? Todas são cheias de potencial, mas ainda enfrentam o desafio de se consolidarem como verdadeiras cidades inteligentes e sustentáveis. Florianópolis já trilhou passos importantes, liderou o ranking Connected Smart Cities em 2024, mas o caminho ainda é longo.

As pergunta são: o que define, afinal, uma cidade inteligente? O que é uma cidade inteligente e por que depende da sustentabilidade?

Uma cidade inteligente é aquela que utiliza tecnologia, dados e inovação para melhorar a vida das pessoas, otimizando recursos e promovendo inclusão. Isso acontece por meio da integração de tecnologia, como sensores e a Internet das Coisas (IoT), para gerenciar áreas como transporte, energia e segurança de forma mais otimizada e para promover o desenvolvimento social, ambiental e econômico. Mas ela não se resume a sensores, câmeras ou internet 5G. Ser inteligente significa colocar a sustentabilidade como princípio orientador — desde o planejamento urbano até as políticas sociais, passando pela economia, cultura e governança.

É aqui que está a chave: sustentabilidade é o início, o meio e o fim (o objetivo) das cidades inteligentes.

  • Início, porque sem ela não existe propósito claro.
  • Meio, porque guia cada decisão de gestão, infraestrutura e inovação.
  • Fim, porque o grande objetivo é garantir qualidade de vida com equidade intergeracional, ou seja, pensar no desenvolvimento sustentável do presente sem comprometer as infinitas possibilidades para nossos filhos, netos e bisnetos.
  • Sustentabilidade: muito além do meio ambiente

A palavra vem do latim sustentare: sustentar, manter. Em sua essência, sustentabilidade é a capacidade de manter processos e condições equilibradas ao longo do tempo. Não estamos falando somente sobre preservar rios ou plantar árvores, embora isso seja fundamental.

Precisamos entender sustentabilidade como um princípio ético, sistêmico e multidimensional, que contempla, entre outras, as dimensões:

  • Ambiental: uso responsável dos recursos naturais e combate às mudanças climáticas.
  • Social: justiça social, direitos humanos, equidade e qualidade de vida.
  • Econômica: inovação e prosperidade de longo prazo, com distribuição justa.
  • Política e institucional: governança democrática, participação e transparência.
  • Cultural e espacial: valorização da identidade local, ordenamento territorial equilibrado.
  • Temporal: pensar os impactos de hoje sobre as próximas gerações.

Por isso, a sustentabilidade não é um aspecto das cidades inteligentes — ela é o próprio
objetivo delas. Exemplos pelo mundo: o que podemos aprender?

  • Barcelona (Espanha): referência global, une tecnologia digital à mobilidade sustentável, políticas de habitação e participação cidadã. Aqui, a inteligência urbana não é só inovação, mas também inclusão social.
  • Copenhague (Dinamarca): aposta em neutralidade de carbono e mobilidade ativa,
  • mostrando que tecnologia e sustentabilidade só têm sentido quando caminham juntas para o bem-estar coletivo.
  • Curitiba (Brasil): pioneira em soluções de transporte coletivo integrado e planejamento
  • urbano sustentável, tornou-se exemplo latino-americano de como aliar inovação, mobilidade e qualidade de vida.
  • Esses exemplos revelam: a tecnologia só transforma uma cidade quando está a serviço
  • da sustentabilidade em todas as suas dimensões.

O desafio de se reinventar

Floripa já se destaca pela infraestrutura digital, mobilidade cicloviária e polos de inovação. Mas, se quiser realmente se consolidar como cidade inteligente sustentável, precisa avançar em aspectos como inclusão social, justiça territorial e participação cidadã. Os problemas recentes, e graves no centro da cidade, envolvendo pessoas em situação de rua é um dos exemplos do que precisa ser melhorado.

O Projeto Floripa 2030 é um passo importante, mas só terá impacto real se integrar bairros periféricos, comunidades e as pessoas que vivem a cidade cotidianamente no processo de decisão, especialmente no continente e nas áreas menos favorecidas. Cidades inteligentes precisam de muito mais do que startups ou distritos de inovação, elas exigem um pacto coletivo para sustentar a vida em sua plenitude. Se Florianópolis integrar inovação com governança democrática, justiça social e equilíbrio ambiental,
poderá não só liderar rankings, mas também se tornar um modelo de cidade inteligente sustentável para o Brasil e o mundo.


Outras cidades, como Lages, com sua vocação agrícola e cultural, e Gramado, com sua força no turismo, têm tudo para trilhar esse caminho. O segredo está em compreender que cidades inteligentes não são somente vitrines de tecnologia, mas ecossistemas vivos que equilibram recursos, pessoas e futuro.

Se pensarmos e agirmos dessa forma, veremos que a sustentabilidade é a essência, a base e o horizonte das cidades inteligentes.

Porque ser inteligente não é ter mais tecnologia. É ter mais futuro sustentável para todas as pessoas.

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