Precisamos falar de uma democracia doente
A divisão política entre bolsonaristas e lulistas saiu das redes sociais. O radicalismo estava no aguardo de novos fatos e eles vieram
• Atualizado
Você já discutiu com algum conhecido por causa de política? Deixaria de frequentar um ambiente no qual as pessoas manifestam posições ideológicas divergentes às suas?
A divisão política entre bolsonaristas e lulistas ultrapassou as barreiras da participação ampliada da sociedade nas discussões sobre o passado, o presente e o futuro do Brasil. Saiu das redes sociais. O radicalismo, que parecia ter sido superado após as eleições municipais, só estava no aguardo de novos fatos e eles vieram.
O que Felipe Nunes e Thomas Traumann alertavam em 2023, com base em um enriquecido repertório de pesquisas e fatos, no livro Biografia do Abismo, concretiza-se à frente de nossos olhos. A polarização criou uma ruptura profunda na sociedade brasileira, nas nossas relações profissionais e afetivas. A democracia ficou doente e o caso é grave.
Ataques ao Supremo Tribunal Federal, com direito a um popular provocar uma explosão que lhe custou a vida; guerra de narrativas políticas depois de uma infeliz fala da primeira-dama Janja; e a revelação de uma suposta tentativa de golpe com plano de assassinato do presidente Lula, do vice, Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes. E o que é mais crítico em toda esta fratura exposta: atribui-se ao ex-chefe do executivo, Jair Bolsonaro e militares aliados crimes de abolição violenta do Estado Democrático, golpe de Estado e organização criminosa.
Que país é este que não consegue dialogar? As pautas de interesse social perdem para o campo da polarização. Nada parece ser mais importante na voz política que a rivalidade, a crítica e o incentivo ao extremismo.
Bolsonaristas esqueceram das inúmeras frases infelizes do ex-presidente e atiram pedras em telhado de vidro. A custo do quê? Do incentivo ao ódio. Petistas extremistas agem da mesma forma, como se o país fosse governado meramente para os seus eleitores. Até quando?
O debate de ideias contrárias precisa ser possível e quando transgredir a lei precisa ser punido com rigor. Se a anistia aos golpistas de 8 de janeiro parecia possível, devemos negá-la. O Brasil precisa de antibióticos severos.
A democracia não suportará mais a tolerância aos que insistem em promover o conflito. A História aqui e lá fora mostra que a transgressão do limite em que nos encontramos hoje levou a um passado de dor e caos, com feridas ainda abertas.
Para a cura da doença avançada de nossa democracia será preciso reencontrar o caminho do diálogo. Isto é urgente.
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