Trump cometeu ‘abuso de poder’ e taxou Brasil ’em favor de amigo’, dizem senadores
Congressistas democratas alertaram sobre riscos à economia dos EUA e avanços da China na América Latina
• Atualizado
Dois dias antes de uma comissão de senadores brasileiros, entre eles o catarinense Esperidião Amin (PP) e o líder do governo Jaques Wagner (PT-BA), chegar aos Estados Unidos, um grupo de senadores democratas enviou uma carta a Donald Trump, chamando de “claro abuso de poder” as ameaças do presidente dos Estados Unidos de iniciar uma guerra comercial com o Brasil.
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Os 11 parlamentares opositores de Trump afirmam que o republicano usa a economia para “interferir em favor de um amigo”, em referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Usar todo o peso da economia americana para interferir nesses processos em favor de um amigo é um grave abuso de poder, enfraquece a influência dos EUA no Brasil e pode prejudicar nossos interesses mais amplos na região”, diz o texto.
Os congressistas criticam a imposição de tarifas de 50% sobre todas as importações brasileiras e a ordem de investigação comercial aberta contra o país, que mirou o PIX, a Lei Geral de Proteção de Dados e até a Rua 25 de Março.
Para eles, as duas movimentações de Trump têm como objetivo “forçar o sistema judiciário independente do Brasil a interromper a acusação contra o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro”.
Os senadores da oposição também defendem que o tarifaço contra o Brasil causará um aumento de custos para as famílias americanas. Eles destacam que os EUA importa mais de US$ 40 bilhões (cerca de R$ 250 bilhões) do Brasil por ano, incluindo US$ 2 bilhões (Cerca de R$ 10 bilhões) em café, e que o comércio entre os dois países sustenta quase 130 mil empregos em território norte-americano.
“Uma guerra comercial com o Brasil tornaria a vida mais cara para os americanos, prejudicaria as economias americana e brasileira e aproximaria o Brasil da China – tudo porque o presidente dos Estados Unidos quer corromper um processo judicial estrangeiro para ajudar seu amigo pessoal”, escreveram.
Movimento aproximaria o comércio entre Brasil e China
Uma possível aproximação entre o comércio brasileiro e a China também é citada com preocupação pelos 11 congressistas democratas.
“Uma guerra comercial com o Brasil também aproximaria o país da República Popular da China (RPC) em um momento em que os EUA precisam combater agressivamente a influência chinesa na América Latina. Empresas estatais e ligadas ao Estado chinês estão investindo fortemente no Brasil, incluindo vários projetos portuários em andamento”, dizem.
Uma comitiva com oito senadores brasileiros viaja nesta sexta-feira (25) para Washington, na tentativa de um diálogo com empresários e parlamentares norte-americanos contra a taxação. Reuniões devem acontecer dos dias 28 a 30 de julho.
O tarifaço está previsto para entrar em vigor no dia 1º de agosto e, até o momento, não há sinalização de recuo ou abrandamento da medida por parte de Trump.
Assinaram a carta os seguintes senadores democratas: Tim Kaine, Jeanne Shaheen, Adam B. Schiff, Richard J. Durbin, Peter Welch, Kirsten Gillibrand, Mark R. Warner, Catherine Cortez Masto, Michael F. Bennet, Jacky Rosen e Raphael Warnock.
*Com informações do SBT News.
Leia a carta na íntegra:
“Prezado Presidente Trump,
Escrevemos para expressar sérias preocupações sobre o claro abuso de poder presente em sua recente ameaça de iniciar uma guerra comercial com o Brasil. Os Estados Unidos e o Brasil têm questões comerciais legítimas que devem ser discutidas e negociadas. No entanto, a ameaça de tarifas feita por sua administração claramente não se refere a isso. Tampouco se trata de um déficit comercial bilateral, já que os EUA tiveram um superávit de US$ 7,4 bilhões em bens com o Brasil em 2024 e não registram déficit comercial com o país desde 2007.
Na verdade – como o senhor afirma explicitamente em sua carta ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva – a ameaça de impor tarifas de 50% sobre todas as importações do Brasil e a ordem para que o Representante de Comércio dos EUA inicie uma investigação sob a Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 têm como principal objetivo forçar o sistema judiciário independente do Brasil a interromper a acusação contra o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
Interferir no sistema legal de uma nação soberana estabelece um precedente perigoso, provoca uma guerra comercial desnecessária e coloca cidadãos e empresas americanas em risco de retaliação. O Sr. Bolsonaro é um cidadão brasileiro sendo processado nos tribunais brasileiros por ações alegadamente cometidas sob jurisdição nacional. Ele é acusado de tentar minar os resultados de uma eleição democrática no Brasil e de planejar um golpe de Estado.
Usar todo o peso da economia americana para interferir nesses processos em favor de um amigo é um grave abuso de poder, enfraquece a influência dos EUA no Brasil e pode prejudicar nossos interesses mais amplos na região. O anúncio de sua administração em 18 de julho de 2025, de sanções de visto contra autoridades judiciais brasileiras envolvidas no caso do Sr. Bolsonaro, indica – mais uma vez – a disposição de sua administração em priorizar sua agenda pessoal em detrimento dos interesses do povo americano.
Suas ações aumentariam os custos para famílias e empresas americanas. Os americanos importam mais de US$ 40 bilhões por ano do Brasil, incluindo quase US$ 2 bilhões em café. O comércio entre EUA e Brasil sustenta cerca de 130 mil empregos nos Estados Unidos, que estão em risco diante da ameaça de tarifas elevadas. O Brasil também prometeu retaliar, e o senhor prometeu retaliar em resposta – o que significa que os exportadores americanos sofrerão e os impostos sobre importações para os americanos aumentarão além do nível de 50% que o senhor ameaçou.
Uma guerra comercial com o Brasil também aproximaria o país da República Popular da China (RPC) em um momento em que os EUA precisam combater agressivamente a influência chinesa na América Latina. Empresas estatais e ligadas ao Estado chinês estão investindo fortemente no Brasil, incluindo vários projetos portuários em andamento. Recentemente, o China State Railway Group assinou um Memorando de Entendimento para estudar um projeto ferroviário transcontinental.
Essas considerações não são exclusivas do Brasil. Em toda a América Latina, a RPC está trabalhando para ampliar sua influência por meio da Iniciativa do Cinturão e Rota. Estamos preocupados que suas ações para minar um sistema judicial independente apenas aumentem o ceticismo em relação à influência americana na região e deem mais credibilidade à agenda de autoridades e empresas estatais chinesas. A mesma tendência também está ocorrendo no Leste e Sudeste Asiático.
Os objetivos principais dos EUA na América Latina devem ser o fortalecimento de relações econômicas mutuamente benéficas, a promoção de eleições democráticas livres e justas e o combate à influência da RPC. Instamos o senhor a reconsiderar suas ações e a priorizar os interesses econômicos dos americanos, que desejam previsibilidade – não outra guerra comercial”.
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