Por que Milei contava com Massa para vencer na Argentina
Novo presidente é economista e dono de um discurso ultra liberal
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O líder da coalizão La Libertad Avanza (A Liberdade Avança), o economista, professor e deputado Javier Milei, de 53 anos, venceu a eleição à Presidência da Argentina neste domingo (19) muito por conta de um discurso ultra liberal e de um adversário que só seria melhor para suas pretensões se fosse encomendado: o atual ministro da Economia do país vizinho, Sérgio Massa, representante de um peronismo decadente, que, com inconsistências e excesso de populismo nas últimas duas décadas, deixa como legado de inflação prevista para chegar a 138% este ano. Milei sempre liderou as pesquisas, tropeçou no primeiro turno pela divisão na direita e assegurou a vitória porque um em cada quatro argentinos vive na pobreza extrema.
Histriônico e bravateiro, Milei deverá enfrentar dificuldades para pôr em execução algumas propostas de campanha, como a dolarização da economia, o fim do peso argentino e do Banco Central. O presidente eleito argentino defende um pauta de costumes, muito semelhante com as do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Brasil, embora alguns pontos da política internacional impressionam: o rompimento econômico com o Brasil, a saída da Argentina do Mercosul e a negação de fazer qualquer negócio com a China. Milei disse que não pretende se reunir com o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e com o chinês Xi Jinping.
Brasil e China são os maiores parceiros comerciais do país que Milei governará e considerados por ele como estados comunistas. Aliás, o primeiro passo do eleito será construir uma maioria no Congresso de La Nación, contra quem ele mesmo levantou barricadas e dinamitou pontes ao falar que se posiciona contra e que qualifica de “casta política”. As idiossincrasias de Milei começam por aí: hoje é deputado federal (eleito por Buenos Aires) e, na juventude, foi estagiário do Banco Central, que curiosamente financia o Tesouro Nacional argentino e emite títulos próprios.
Nos últimos dias antes da eleição, Milei diminuiu a intensidade e declarou que não irá privatizar a saúde e a educação, movidas por subsídios no país vizinho, justamente para atrair simpatizantes mais ao centro. Bem, o presidente eleito prometeu ainda não privatizar o futebol e restringir a vida das baleias nas água territoriais da Argentina. Outro alvo constante de Milei é o Papa Francisco, que diz representar o maligno na terra. O chefe da Igreja Católica Apostólica Romana é argentino.
Presidente eleito se define como libertário, mas o que isso significa?
O libertarianismo é uma corrente filosófica da política que estabelece a “liberdade individual como valor político supremo”, afirma David Boaz, ex-vice-presidente do Instituto Cato, fundação norte-americana que busca justamente promover essa ideologia. As informações são da BBC News Mundo.
“Um libertário admite que as pessoas podem ser justificadamente forçadas a fazer certas coisas, sendo a mais óbvia abster-se de infringir a liberdade dos outros. No entanto, um libertário considera inaceitável que alguém possa ser forçado a servir aos outros, mesmo que seja para o seu próprio bem”, define a Enciclopédia Filosófica da Universidade de Stanford, dos EUA.
Vice de Javier Milei é advogada, neta de militares e gosta de polêmicas
Ao seguir Javier Milei, que pretende legalizar o porte de arma e diz ser contra o aborto, a candidata a vice Victoria Villarruel de 48 anos, é neta do contra-almirante Laurio Hedelvio Destéfani, membro da Marinha Argentina e autor dos dez volumes da história marítima argentina e filha do tenente-coronel aposentado Eduardo Villarruel, membro do Exército Argentino, veterano da Guerra das Malvinas contra a Inglaterra. Advogada, Victoria é católica tradicionalista.
Integrante de La Libertad Avanza, ela costuma comparar os opositores ao regime militar, que vigorou na Argentina de 1976 a 1983, como terroristas, ativistas de uma “guerra suja” e gerou polêmica ao propor uma homenagem às vítimas da guerrilha. No mais, Victoria tem uma pauta pesada e disse que a crise Argentina só deve acabar como uma “tirania”. Tanto Victoria quanto Milei seguem o discurso contra o Poder Judiciário, uma marca do conservadorismo Bolsonaro e do norte-americano Donald Trump (Republicano), defendida à risca pelos novos governantes argentinos, que tomam posse dia 10 de dezembro próximo.
A Argentina escolheu uma alternativa ao triste ocaso do peronismo, que sempre oscilou entre direita e esquerda, desde os tempos de Juan Perón, fundador do Partido Justicialista, e que simpatizava com o fascismo italiano, de Benito Mussolini, e espanhol, de Francisco Franco. Basta lembrar que, entre ex-presidentes, Carlos Menem (1989 a 1999) era de direita, enquanto Néstor (2003 a 2007, já falecido) e Cristina Kirchner (2007 a 2017, como presidente, e de 2019 a 2023, como vice-presidente) se dizem de esquerda, assim como atual presidente Alberto Fernández (2019 a 2023), que sequer ousou participar da campanha porque tinha 80% de rejeição.
Naturalmente, os conservadores brasileiros darão parte da parcela da eleição de Milei a Bolsonaro, um alento para quem já foi considerado inelegível por três vezes. E dirão que Lula perdeu, pois apostava em Massa. Ambas as assertivas estão corretas na visão brasileira, os argentinos nem querem saber disso.
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