Roberto Azevedo

O jornalista Roberto Azevedo tem 39 anos de profissão, 17 deles dedicados ao colunismo político. Na carreira, dirigiu equipes em redações de jornal, TV, rádio e internet nos principais veículos de Santa Catarina.


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Eleições 2024

O abismo está cada vez maior entre PL e PSD em SC

Jorginho Mello e João Rodrigues ainda mantêm distância diante da crise nacional

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O governador Jorginho Mello e o prefeito João Rodrigues quando o clima era de parceria plena. | Foto: Divulgação
O governador Jorginho Mello e o prefeito João Rodrigues quando o clima era de parceria plena. | Foto: Divulgação

Nos 17 maiores colégios eleitorais de Santa Catarina, que vão de 434.821 a 60.225 eleitores, em apenas três municípios PL e PSD estão unidos em coligação, recorte que demonstra muito bem o grau de distanciamento das duas siglas no Estado, uma antecipação do embate que se avizinha daqui a dois anos, ao governo do Estado. Enquanto o governador licenciado Jorginho Mello corre de um lado, o prefeito João Rodrigues intensifica as visitas Estado afora de outro, ambos prováveis protagonistas nos projetos de PL e PSD.

As duas siglas estão coligadas em 43 cidades catarinenses, número pequeno se considerar que, nas acima de 60 mil eleitores, somente em Florianópolis, Tubarão e São Bento do Sul se revezam entre cabeça de chapa ou vice ou simplesmente dão apoio. As expectativas no pleito são diferentes: o PL tem 184 candidatos a prefeito e 131 a vice, quer fazer entre 80 e 100 prefeitos; já o PSD escalou 96 a prefeito e 104 a vice, e quer subir o sarrafo dos atuais 46 municípios comandados, pois administra cinco das 10 cidades mais populosas do Estado.

O vice-presidente estadual do PL, Bruno Mello, considera que João Rodrigues não é uma preocupação, o que é corroborado pelo irmão, o advogado Filipe Mello, coordenador da campanha à reeleição de Topázio Neto (PSD), em Florianópolis. Nas últimas duas semanas, a temperatura entre liberais e pessedistas subiu, principalmente no Sul do Estado, depois da prisão do prefeito Clésio Salvaro (PSD), em Criciúma, na Operação Caronte, do Gaeco, que, antes de ser detido, disparou contra Jorginho, a quem acusou de interferir politicamente na investigação, argumento negado pelo governador.

Diferenças devem ser ampliadas Brasil afora

Em meio à guerra que deputados federais como Nikolas Ferreira (PL-MG) estão promovendo contra o PSD no país, uma tática para empurrar parlamentares da sigla no Congresso Nacional a se posicionarem favoráveis à abertura do processo de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), as diferenças devem ser ampliadas. Nikolas defende que os bolsonaristas devem boicotar o partido presidido por Gilberto Kassab e não devem votar em pessedistas, o que dificilmente terá respingos em Florianópolis, onde Topázio Neto tem a vice Maryanne Mattos (PL). Para Nikolas, o PSD está no governo Lula e é de esquerda, o que não combina com o perfil da sigla em terras catarinenses.

O PSD já retrucou com o senador o senador Otto Alencar (PSD-BA), um dos líderes da agremiação, que disparou: “Se tem um partido que não pode fazer cobrança ao PSD é o PL”. O senador referia-se à pandemia, quando, de acordo com Alencar, o PL “ficou em silêncio” e os pessedistas fizeram uma CPI “para mostrar que o presidente (Bolsonaro) não estava comprometido”.

Há meses, o próprio Jair Bolsonaro já argumentou que não tinha conversa com o PSD. Depois, admitiu que o problema era em São Paulo, com Kassab, e abriu uma série de exceções, aparentemente ignoradas por Nikolas e o também deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), companheiro de campanha anti-pessedista. Em Minas Gerais, Nikolas é adversário do presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD) e a disputa pelo governo mineiro também está na alça de mira desta divergência.

O clima está mais quente em grandes colégios

Pelo sim, pelo não, PL e PSD devem ter cautela em Santa Catarina. O clima anda muito pesado, por exemplo, em São José, quarto maior colégio eleitoral e quinta maior economia do Estado, onde a ex-prefeita Adeliana Dal Pont (PL) e o atual Orvino de Ávila (PSD) vivem de dar caneladas nas redes sociais, um extrato do que significa o bolsonarismo para a maioria dos candidatos no Estado, disputado por ambos.

Em Joinville, o PSD está com o candidato à reeleição Adriano Silva (Novo) e o deputado Sargento Lima (PL), que sempre defendeu distância da sigla, defenderá o boicote proposto por Nikolas. Fato que poderia ser replicado em Blumenau, onde os pessedistas subiram no palanque do projeto de Odair Tramontin (Novo) e lhe garantem, inclusive, o tempo de rádio e TV, pelas mãos do ex-prefeito e atual deputado Napoleão Bernardes, sem que o candidato Delegado Egídio (PL) veja a situação com bons olhos.

Mas mesmo onde este embate não está na cabeça de chapa ou na condição de vice, como em Lages, as posturas não são diferentes. O PSD, de Raimundo Colombo, apoia Lio Marin (União Brasil) – que tem como vice Vinicius Borges (Novo) – candidato que mais dispara contra Carmen Zanotto (Cidadania), que tem Jair Júnior (Podemos) de vice. O que Lio diz agora é que Carmen é de esquerda, embora a Federação PSDB/Cidadania não apoie oficialmente o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além de sugerir que a candidata deve continuar na Câmara dos Deputados.

Veja a situação nas principais cidades

Nos 17 maiores colégios eleitorais de Santa Catarina estão concentrados 2.725.663 eleitores, pouco menos que a metade dos 5.640.659 aptos a votar no Estado. Eis os números e a situação entre as duas siglas:

1º Joinville – 434.821 eleitores (PSD apoia Adriano, do Novo, à reeleição. PL tem Sargento Lima)

2º Florianópolis – 410.812 (Clima de convivência, PL indica a vice de Topázio Neto, do PSD, à reeleição)

3º Blumenau – 265.491 (PSD apoia Odair Tramontin, do Novo. PL tem Egídio Ferrari na disputa)

4º São José – 191.370 (PL aposta em Adeliana, PSD na reeleição de Orvino)

5º Itajaí – 174.571 (PL vai de Robison Coelho e PSD de Osmar Teixeira)

6º Chapecó – 161.252 (PSD tem João Rodrigues à reeleição, PL sequer disputa a prefeitura)

7º Criciúma – 154.638 (PSD vai de Vaguinho Espíndola, PL de Ricardo Guidi)

8º Palhoça – 146.889 (PL concorre com Eduardo Freccia à reeleição, PSD com Luciano Pereira)

9º Lages – 126.235 (Os dois partidos apoiam diferentes candidatos de Cidadania e União Brasil)

10º Jaraguá do Sul – 126.025 (PSD está na reeleição de Jair Franzner, do MDB, e PL tem Edson Junkes)

11º Balneário Camboriú – 106.783 (PSD com Juliana Pavan, PL com Peeter Grando)

12º Brusque – 98.652 (PL com André Vechi à reeleição, PSD com João Martins)

13º Tubarão – 82.244 (PSD indica o vice Denis Matiola de Estêner Soratto Júnior, do PL)

14º São Bento do Sul – 64.230 (Em paz: PSD apoia Antonio Tomazini, do PL)

15º Navegantes – 60.845 (PL vai de Rogério da Equilibrios, PSD à reeleição com Liba Fronza)

16º Camboriú – 60.580 (PL tem Ramon Jacob, PSD vai de Leonel Pavan)

17º Concórdia – 60.225 (PSD concorre com Fabiano Caitano, PL com Edilson Massocco)

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral de SC

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