Melissa Amaral

Mestre e doutoranda pelo PPGEGC/UFSC. Pesquisadora no grupo CoMovI em Empreendedorismo, ESG, Diversidade nas Organizações e Empoderamento da Mulher.


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Racismo

Por que é tão difícil aceitar que ainda somos racistas?

Negar que o racismo existe ou que se é racista é bem comum

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Foto: Freepik | Divulgação
Foto: Freepik | Divulgação

Estou ensaiando há semanas escrever sobre esse assunto que atinge todas as pessoas desse país. Digo todas porque a metade, ou mais que a metade, é preta ou parda, ou seja, a metade que sofre, sofreu ou sofrerá com o racismo, e a outra metade, “branca”, que comete ou já cometeu, mesmo sem perceber, essa violência imperdoável.

Essa coluna, na verdade não é para falar pelas pessoas negras, mas sim para falar com você, que como eu é branco, e que talvez nunca tenha se dado conta do privilégio que é ter nascido com essa cor.

Vocês podem estar pensando, a Melissa enlouqueceu. Quem disse que eu sou racista? Sinto te informar, mas, você pode não ser ou não se achar racista, mas em algum momento da sua vida teve atitudes, pensamentos ou falas racistas.

Negar que o racismo existe ou que se é racista é bem comum. Ainda escuto muitas piadinhas, brincadeiras ou histórias pejorativas a respeito de pessoas negras, e quando rebato, as pessoas costumam falar: Ah, eu estava só brincando. Não falei nada demais. Quanto mimimi.

E lá vou eu explicar para elas por que isso não pode mais ser dito, e sair de chata e estraga prazer. Não me importo.

Pesquisas apontam o quão controversa é essa questão. Em que pese a maioria dos brasileiros reconhecer que existe preconceito racial no Brasil (84%), a maioria também diz que não é racista (86%).

Será que não é mesmo? Vamos ver alguns dos números:

  • 56% dos brasileiros se intitulam pretos ou pardos.
  • 54% dos negros já foram abordados por policiais. Entre os brancos o índice cai para 29%.
  • Cerca de 50% das pessoas negras já sofreram preconceito no trabalho.
  • Trabalhadores negros ganham em média 24% a menos que trabalhadores não negros na mesma função.
  • 43% das pessoas brancas não gostaria de ter um filho ou filha casado com uma pessoa negra (Instituto Locomotiva, 2021).
  • Em 2020 mais de 75% das pessoas assassinadas eram negras. E 61,8% das vítimas de feminicídio eram mulheres negras.
  • Entre 2009 e 2019 o número de mortos não negros caiu 33%. Mas entre as pessoas negras esse índice aumentou 1,6% (IPEA, 2021).

Existem muitos outros números, pesquisas talvez mais alarmantes, mas acho que já deu para a gente ter uma ideia, não é?

Precisamos assumir que somos racistas sim. E a partir daí tentar desconstruir esse preconceito impregnado na gente. E hoje em dia não adianta somente não ser racista temos que ser antirracistas.

CHEGA DE RACISMO gente.

Chega de afirmar que o racismo não existe. Porque infelizmente ainda EXISTE! Chega de aceitar que a brincadeira com uma pessoa negra seja normal. Chega de rir da piadinha racista.

ASSUMA teu racismo. E a partir daí se trabalhe para ser ANTIRRASCISTA. Eduque seu filho desde o nascimento, não somente pelo exemplo, mas com palavras. Eduque seu pai e seu chefe, suas tias e seus irmãos. A educação antirracista pode acontecer em qualquer ambiente e em qualquer idade.

Eu vou contar para vocês que, em que pese a indiscutível gravidade dos fatos, os últimos e horrendos episódios de racismo divulgados pela mídia fizeram com que eu me desse conta de uma coisa bem importante.

Eu percebi que senti enjoo, senti nojo e fiquei com vontade de estar presente naquele lugar e colocar aquelas pessoas racistas e nojentas no lugar delas.

E assim, me dei conta que eu finalmente estou me tornando antirracista. Mesmo tendo um longo caminho para percorrer, eu hoje posso dizer que sou uma antirracista em construção. 

E você?

Fonte: Pesquisa IPEA disponível aqui .

Instituto Locomotiva aqui .

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