Equidade, igualdade e empatia: quando a luta do outro também é a nossa
Quando a sociedade caminha lado a lado, as organizações e as comunidades ficam mais fortes
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Faz dias que eu penso sobre o que trazer nesta coluna. Comecei pelo Novembro Azul, mês dedicado à saúde do homem, mas que, na verdade, diz respeito a todas as pessoas. Quando homens e mulheres cuidam uns dos outros, quando a sociedade caminha lado a lado, as organizações e as comunidades ficam mais fortes.
No meio dessa reflexão e das pautas importantes do mês de novembro, pensei em falar sobre o Dia da Consciência Negra, que nos lembra da urgência da justiça racial. E, também o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as mulheres, pois infelizmente, ainda convivemos com a violência contra as mulheres, que não desacelera.
O caso recente de Catarina Karsten, assassinada na praia do Matadeiro, em Florianópolis, é mais um retrato da brutalidade que insiste em atravessar a vida das mulheres. Me dei conta que todos esses temas, promoção da saúde, igualdade de raça e gênero, combate à violência, estão conectados pela mesma raiz: a necessidade de caminharmos juntos. Homens e mulheres juntos. Pessoas negras e brancas juntas. A comunidade cisgênero hetero e a população LGBTQIAPN+ caminhando lado a lado. Só assim conseguimos enfrentar injustiças e violências que, apesar de antigas, persistem em acontecer.
Falar sobre equidade e igualdade é o primeiro passo. Embora muitas vezes usadas como sinônimos, essas palavras carregam sentidos diferentes. Igualdade trata todas as pessoas da mesma forma, garantindo que tenham acesso às mesmas oportunidades, independentemente de origem, raça, crença ou identidade.
Equidade, por sua vez, reconhece que partimos de lugares diferentes e, portanto, o tratamento também precisa ser diferente para que todos tenham acesso as oportunidades.
Se alguém começa a corrida vários metros atrás, oferecer “o mesmo” não é suficiente. Equidade é dar mais a quem precisa mais, ajustando o acesso, o apoio e as condições para que a igualdade, nosso objetivo final, se torne possível.
E quando olhamos para a realidade brasileira, fica evidente o quanto ainda precisamos desse ajuste. As mulheres, por exemplo, seguem enfrentando barreiras explícitas e silenciosas no mercado de trabalho, na política, na ciência e, especialmente, no direito básico de existir e na liberdade de escolhas.
No mundo, em 2024, uma mulher foi vítima de feminicídio a cada 10 minutos (UNODC; ONU, 2025), e o Brasil registrou 1 feminicídio a cada 4 horas, quase 90 mil estupros (o maior número da história), e em relação aos casos de violência doméstica, os casos novos que chegaram à Justiça estão perto de um milhão. UM MILHÃO de casos novos na justiça em 2024!
Às vezes nos perguntamos por que existem tantos relatórios, leis e discussões sobre feminicídio, e se essas diferenças entre as violências contra homens e mulheres são realmente tão grandes assim. Mas os dados da ONU Mulheres confirmam.
A cada 100 mulheres assassinadas no Brasil, 60 são mortas por parceiros íntimos ou familiares. Entre os homens, esse índice cai para 11,2 a cada 100. Essa disparidade revela que a violência letal contra mulheres está diretamente ligada ao ambiente doméstico, ao ciclo de abuso e ao controle exercido principalmente por pessoas que deveriam proteger, não ferir.
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Quando essa mulher é negra, a desigualdade aumenta ainda mais: 2 em cada 3 mulheres vítimas de feminicídio eram negras. Já no mercado de trabalho, mulheres negras recebem, em média, 52,5% menos que homens brancos (Forbes, 2025). É um recado estrutural inequívoco: a cor da pele ainda define riscos e oportunidades.
Essas desigualdades não são ao acaso: são resultado de um sistema que nega equidade no cotidiano. Por isso, a justiça racial precisa entrar com força nessa conversa. Justiça racial significa agir contra desigualdades históricas, garantindo que pessoas negras tenham acesso real a direitos, dignidade e oportunidades.
E aqui está o ponto essencial: não haverá igualdade sem equidade. E não haverá equidade se cada um lutar sozinho. Precisamos que a luta das mulheres seja também a luta dos homens; que a luta da população negra seja apoiada pela população branca; que a pauta LGBTQIAPN+ seja acolhida por todos. Só existe transformação quando ampliamos o olhar e escolhemos estar ao lado de todas as pessoas.
A empatia não é um gesto individual, e sim uma escolha coletiva. É a decisão de que o sofrimento de alguém também nos diz respeito. Não basta desejar igualdade. É preciso lutar pela equidade. Porque só assim o mundo que sonhamos deixa de ser sonho, e começa, enfim, a existir.
Referências
- ONU Mulheres. Femicides 2024.
- BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Mapa da Segurança
- Pública 2025.
- Forbes. Mulheres recebem 20% a menos que os homens no Brasil.
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